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Um Amor Incômodo e a força das palavras de Elena Ferrante

10:00Isabela Lapa


Sempre que eu pego um livro da Elena Ferrante eu me preparo para entrar em uma história intensa e repleta de sentimentos. Elena não trabalha com tramas mirabolantes, mistérios, paixões e reviravoltas, ela trabalha com relatos calmos, sinceros e sempre tocantes.

Lembro que quando terminei a leitura do livro A Filha Perdida, também da autora, fiquei dias refletindo sobre a personagem que, na minha opinião, representa muito bem as mulheres que não se sentem completas apenas por serem mães. O mesmo se deu aqui, em Um Amor Incômodo, já que a filha que nunca sentiu conexão com a mãe ainda não saiu da minha cabeça e ainda me deixa angustiada e tensa.

A narrativa começa com uma grande descoberta: a morte de Amália, mãe de Délia, uma mulher de 45 anos de idade. Mas diferente do esperado, apesar do susto inicial, o fato não causa em Délia um sentimento de dor pela perda, mas sim uma angústia pelo relacionamento turbulento que sempre teve com aquela mulher, que sequer conseguia chamar de mãe.

"Quando entramos na casa de uma pessoa morta recentemente, é difícil acreditar que esteja deserta. As casas não guardam fantasmas, mas retêm os efeitos das últimas ações em vida."


A partir daí, o livro, que é narrado em primeira pessoa por Délia, nos leva a uma viagem em torno das memórias que cultiva sobre a sua mãe, uma mulher que não teve um casamento feliz e deixou que isso afetasse diretamente o relacionamento com a filha. 

E enquanto relembra cada um dos acontecimentos, ela também lida com as descobertas do presente e com os segredos escondidos por Amália, a mulher que mesmo com um laço forte de sangue, não conquistou nenhum laço de afeto.

Assim como em todos os livros de Elena, as personagens criadas são complexas, imperfeitas e confundem o leitor com os seus sentimentos tão íntimos e particulares. O texto é tão humano que é impossível não mergulhar de cabeça na narrativa e não se emocionar com ela.

"Nenhum ser humano jamais se desligaria de mim com a mesma angústia que me desliguei da minha mãe apenas porque nunca consegui me apegar a ela definitivamente."

Acredito que a leitura tem o poder de comover aquelas filhas que, assim como eu, possuem ótimo relacionamento com as mães e sabem o quanto isso é valioso, mas também aquelas que se sentem distantes e que terão uma conexão direta com os sentimentos e angústias da personagem.

Com certeza uma leitura que vale a pena ser feita e que faz jus a todo o trabalho de Elena, que tem uma preocupação enorme com a criação e o desenvolvimento das suas personagens mulheres.



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