Eu conheci a Bianca Santana no Fliaraxá 2017. Fui atraída para a palestra dela pelo nome que apareceu na programação: "Quando me descobri negra". Eu não sabia quem ela era e menos ainda que aquele era o título de um livro.
Quantas surpresas vieram dali! Ao longo da palestra me encantei com a forma como aquela mulher tão jovem falou sobre a sua negritude, sobre os problemas que enfrenta no dia a dia e sobre a forma com a qual se posiciona perante a sociedade e perante o mercado de trabalho na constante luta contra o racismo.
Enquanto ouvia ela falar eu pensava: não é possível que em 2017 as pessoas ainda agem assim com as outras por causa da cor da pele. Racionalmente eu sei que é possível, eu sei que é real, eu vejo acontecer o tempo todo e acompanho constantes relatos que me doem no fundo da alma.
Mas ao mesmo tempo parece que tudo é delírio, afinal, minha família é um misto de negros e brancos (oi, Brasil!) e desde a infância sempre convivi igualmente com todos. Aprendi a amar sem notar a cor!
Entre um comentário e outro, fui percebendo cada vez mais a força da Bianca, a coragem e a lucidez. Não só eu, todos! Inclusive, quando o tempo estava para acabar os participantes pediram por mais. Muito havia a ser dito ali. Debate para uma semana, talvez mais...
Mas infelizmente a palestra chegou ao fim e só me restou comprar o livro dela para conhecer melhor o trabalho. Naquele momento eu já sabia que era uma reunião de textos curtos publicados no seu blog no Huffpost Brasil, o que eu não sabia é que tinha tanta realidade e tanta humanidade em tudo!
Dividido em três partes, "Do que vivi", "Do que ouvi" e "Do que pari", o livro aborta situações experimentadas por Bianca e por pessoas que ela conheceu ao longo da sua caminhada. Acredite você ou não: situações concretas, reais, que fazem parte do cotidiano de todos os negros.
A linguagem é simples e os textos são bem diretos. Exatamente por isso que eles conseguem ser tão chocantes! Você espera a reviravolta e não encontra, espera a vitória da mocinha negra como nos romances ou nas novelas e não recebe isso de volta.
A realidade é dura, cruel e estarrecedora. As pessoas cometem atos de racismo de forma tão rápida e tão forte que não deixam margem para resposta. E se a resposta vier, provavelmente ela será encarada como "a prova de que os negros não podem conviver em sociedade".
Eu fiquei abismada lendo os relatos. Fiquei emocionada e me coloquei no lugar da Bianca e de cada uma das pessoas que estavam naquelas narrativas. Me coloquei no lugar de cada negro do Brasil e do mundo e passei um tempo pensando em como contribuir para melhorar essa situação.
Diante da gravidade do problema, me parece que ações pequenas não serão capazes de produzir efeitos. Precisamos gritar a todo canto, falar do tema a todo tempo e mostrar completa indignação. Precisamos abraçar a causa, porque essa causa é nossa.
Passei o final de semana pensando nisso (porque li o livro no sábado) e acordei segunda-feira com a notícia de que uma socialite (oi?) chamou a Titi, filha da Giovana Ewbank e do Bruno Gagliasso de "macaca".
Fui ler sobre o assunto com profunda tristeza e descobri que o TED da Tais Araújo recebeu inúmeras críticas porque ela abordou a questão do racismo e do preconceito com o seu filho.
A primeira coisa que pensei foi: e elas são ricas, bem aceitas e bem colocadas na sociedade. Imagine, então, o que acontece com o negro pobre? E se o negro for pobre e gordo? E se for pobre, gordo e homossexual?
A segunda foi tão pensativa quanto o final de semana. Em um grupo de amigos no whatsapp o assunto acabou surgindo e ao ver a opinião de cada um deles eu tive certeza de que não tinha momento melhor para falar desse livro por aqui.
Toda hora é hora para tratar de um assunto tão presente na nossa sociedade, mas que insiste em ser esquecido: o preconceito em todas as suas formas. Minha intenção era falar do livro semana que vem, mas como esperar até lá?
A Titi tem mil pessoas em sua defesa, a Taís também! E os demais? Quem está nessa luta por eles?
Eu estou! E você?
Deixo aqui o convite para que leia o livro da Bianca, para que destine um tempo para pensar sobre racismo e todas as outras formas de preconceito.
2 comentários
Li esse livro e fiquei apaixonada. Amei!
ResponderExcluirFiquei encantada por sua resenha e inspirada em ler o livro. Obrigada.
ResponderExcluirObrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...