Florbela Espanca Poema

3 poemas incríveis de Florbela Espanca

00:00Kellen Pavão

Fonte: Conti Outra

Nascida em 1894, Florbela Espanca é uma poetiza portuguesa reconhecida por sua sensibilidade e pelo seu talento com a escrita. Multifacetada, Florbela também escrevia contos, um diário e epístolas; traduziu romances e colaborou com jornais e revistas.


A poetiza que traduzia o amor como ninguém conquistou o mundo com seus delicados e intensos sonetos, que também falavam sobre a solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte. Hoje escolhi cinco poemas incríveis que representam uma parte da grandeza de Florbela! Cofiram:







Eu …


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …


Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…


Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…


Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!




.........



Teus Olhos

Teus olhos Olhos do meu Amor! Infantes loiros 
Que trazem os meus presos, endoidados! 
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros: 
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados. 

Neles ficaram meus palácios moiros, 
Meus carros de combate, destroçados, 
Os meus diamantes, todos os meus oiros 
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados! 

Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas.. 
Enigmáticas campas medievais... 
Jardins de Espanha... catedrais eternas... 

Berço vinde do céu à minha porta... 
Ó meu leite de núpcias irreais!... 
Meu sumptuoso túmulo de morta!... 

.........

Inconstância

Procurei o amor que me mentiu. 
Pedi à Vida mais do que ela dava. 
Eterna sonhadora edificava 
Meu castelo de luz que me caiu! 

Tanto clarão nas trevas refulgiu, 
E tanto beijo a boca me queimava! 
E era o sol que os longes deslumbrava 
Igual a tanto sol que me fugiu! 

Passei a vida a amar e a esquecer... 
Um sol a apagar-se e outro a acender 
Nas brumas dos atalhos por onde ando... 

E este amor que assim me vai fugindo 
É igual a outro amor que vai surgindo, 
Que há de partir também... nem eu sei quando... 




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