Crítica Destaque

Hinário Nacional, de Marcello Quintanilha

00:00Isabela Lapa


Eu adoro o trabalho do Marcello Quintanilha e a forma realista com a qual ele constrói os seus roteiros e personagens. Aqui no blog tem resenha de Talco de Vidro e Tungstênio, e agora vou falar sobre Hinário Nacional, uma nova surpresa. 

A Graphic Novel reúne seis histórias sobre homens, mulheres e crianças repletos de traumas e de mágoas causadas pelas dificuldades da vida e pela crueldade do mundo. Apesar de terem vivenciado situações completamente distintas, todos eles carregam os sentimentos silenciosamente, sendo que alguns ainda sentem culpa!

A primeira história, Ave Maria, fala sobre relacionamentos e a forma como as mulheres se anulam em favor dos homens e esquecem completamente o sentido de amor próprio e respeito pessoal, tornando-se reféns de uma situação incômoda e degradante.

Com um tom ainda mais intenso e doloroso, Hinário Nacional tem como tema principal o estupro e relaciona a situação de uma lagarta com a de uma menina que, vítima de pedofilia, não tem a menor possibilidade de se defender. 

Já em Batalha das Flores o roteirista levanta questionamentos acerca da nossa necessidade de aceitação diante da sociedade. O protagonista, para fazer parte de um grupo e se sentir integrado com os outros rapazes, acaba participando de um estupro coletivo durante as festividades do carnaval e, em razão dessa escolha, passa a vida se martirizando e se reprimindo.


Olhai para o céu, por sua vez, mostra que é possível agir com responsabilidade e fazer escolhas conscientes. Na narrativa, um motorista de táxi reprime os desejos que sente por uma adolescente, por saber das consequências do ato e da gravidade daquele sentimento. 

A penúltima história, intitulada Eu era o fenômeno da minha classe, apresenta uma jovem que conseguiu superar o trauma causado por um estupro e passou a tratar a e situação com bom humor durante as suas apresentações junto a uma companhia de circo. 

Porém, um questionamento permanece ao final: é um caso de superação ou de fuga? A arte era a prova de que o passado ficou para trás ou a comprovação de que ela precisava se sentir amada e ser estrela para tentar deixar de lado o que aconteceu?


Por fim, Pai Doce fala sobre as várias personalidades de um homem que mesmo diante de vários problemas luta para manter as aparências. Nessa narrativa, Quintanilha aborda com excelência a questão da hipocrisia e o quanto ela pode nos prejudicar. 

A leitura é intensa e cruel, mas muito envolvente e realista. Em cada conto percebemos a crueldade humana, a insatisfação diante da realidade e o principal: a forma como a mente processa cada um dos acontecimentos que nos rodeiam.

As ilustrações contribuem para ressaltar a sensação de medo dos personagens, intensificando as emoções e as reações do leitor.

Com toda certeza mais um grande trabalho desse quadrinista que consegue representar muito bem os problemas da nossa sociedade e que usa da linguagem coloquial como ferramenta para mostrar as diferenças culturais e a forma como as relações se constituem em ambientes diversos.

Imperdível!



Gostou? Compre aqui... 



You Might Also Like

0 comentários

Obrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...

Acompanhe nosso Twitter

Formulário de contato