Laurence, que a princípio se mostra muito dedicado e
apaixonado, começa então a se distanciar, tanto por ser um homem muito ocupado
quanto por alguns segredos antigos que o assombram. Ele teve um primeiro
casamento que o deixou com muitas marcas, já que a esposa adoeceu e morreu
muito jovem.
“A preocupação com Laurence espantou seu sono, e, sabendo que provavelmente passaria a noite em claro, Gwen se deitou com os olhos abertos. Ele devia ter suas razões, ela pensou. Mas o que seria capaz de explicar aquela estranha expressão em seu olhar?”
Gwen sente-se sozinha, muito distante de casa e tendo que
lidar com uma situação diferente do que imaginara. Verity, sua cunhada, é extremamente
problemática e dependente do irmão, passando a maior parte do tempo morando na
mesma casa que eles, mas o relacionamento entre as duas é complicado. Savi
Ravasinghe, a primeira pessoa que Gwen conheceu ao chegar no Ceilão, tinha tudo
para se tornar um grande amigo, mas Laurence não aprova sequer sua presença na
fazenda, o que parece uma mágoa antiga. Há ainda a americana Christina, uma
viúva com quem Laurence já teve um caso e que deixa bem claro que ainda teria
se dependesse dela, o que deixa Gwen insegura e enciumada.
Por fim, Gwen descobre-se grávida, o que a deixa muitíssimo
feliz. Porém, no dia do parto, tendo apenas a companhia de Naveena, acontece
algo totalmente inusitado que a obriga a tomar a decisão mais difícil de sua
vida. Depois disso, não é apenas Laurence que mantém segredos, mas sua esposa
também. Será possível manter um relacionamento baseado em omissões e ter a mente
tranquila?
“Seu estado mental em deterioração, exacerbado pela privação de sono, fez seu corpo todo doer. Ela sofria sobressaltos a cada barulhinho, ouvia coisas que não estavam lá, sentia-se incapaz de realizar as tarefas mais simples e se viu presa em um círculo vicioso.”
Em “O perfume da folha de chá”, nos deparamos com uma narrativa em terceira pessoa marcada por minuciosas descrições das paisagens, das pessoas, das cores e dos cheiros de tudo. É possível sentir-se no Ceilão e em cada lugar descrito, o que para mim foi algo inédito, já que nunca havia lido uma história com esse cenário. Fica nítido que a autora realizou muitas pesquisas sobre a região e seus costumes, inserindo ainda fatos da época, como a quebra da bolsa de valores de Nova York, e como isso afetou a economia de outros países, inclusive a fazenda de Laurence e o preço do chá. O preconceito racial e de classe também é abordado com muita riqueza e é o que sustenta muitos dos conflitos dos personagens.
Os mistérios e segredos prendem bastante a atenção e atiçam
a curiosidade, mas ao final, quando tudo é revelado, eu me senti um pouco
frustrada por ter imaginado coisas mais graves e pesadas. A trama traz muito
drama e sofrimento, o que não me agrada muito, pois, pessoalmente, prefiro
leituras mais leves, mas isso não quer dizer que o livro é ruim, de forma
alguma.
A principal reflexão que fica da história é: até que ponto
vale a pena sustentar uma mentira – ou uma omissão – e colocar em risco a vida
de todas as pessoas envolvidas? Ao decidir omitir uma verdade, é preciso se
preparar para lidar com as consequências desse ato e suportar a culpa.
“Gwen sabia muito bem que a culpa era capaz de consumir uma pessoa por dentro, e que era uma presença persistente, invisível a princípio, mas que ia crescendo até ganhar vida própria.
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