Alfaguara Crítica

Ouça a canção do vento & Pinball, 1973, de Haruki Murakami

00:00Isabela Lapa


"Não existe nenhum texto perfeito. Assim como não existe desespero perfeito."

Ler Haruki Murakami é sempre uma experiência emocionante! Ele tem uma forma diferente de escrever, o que me encantou desde o primeiro livro dele que eu li, que foi 1Q84.

Dessa vez, a Alfaguara trouxe para o Brasil, nessa edição super linda, a reunião de duas novelas escritas nos anos de 1969 e 1973 e que foram deixadas de lado, já que Murakami acreditava que elas eram apenas esboços e não tinham qualidade. 

Porém, apesar dessa impressão que ele descreve de maneira sincera e direta no Prefácio (que já vale pelo livro inteiro), garanto para vocês que nessas narrativas é possível encontrar muita beleza, muita intensidade e diversas características de escrita que perduraram nas outras obras do autor. 

As novelas possuem protagonistas que apesar de já terem passado dos 20 anos de idade, carregam diversos sentimentos complexos e parecidos: não sabem o que fazer do futuro, mas acreditam que algo vai dar certo. Nesse contexto de dúvidas e inseguranças, as histórias fazem com que a gente pare para pensar nas nossas escolhas e no quanto estamos sós!


A primeira novela, Ouça a Canção do Vento, tem como narrador um jovem de 29 anos que sonha em escrever um livro, mas não sabe muito bem como fazer. Com isso, ele passa a reviver fatos importantes da sua juventude e a descrever a sua relação com a bebida, o amigo Rato, a música e as mulheres. 

Apesar de não contar o seu nome, ele conta muito sobre a forma que enxerga a vida e a arte de escrever. Mesmo sem conexões exatas, a novela apresenta questões relevantes sobre as dificuldade de ser alguém no mundo e sobre as dificuldades na comunicação entre pessoas que estão lado a lado.


"As condições são as mesmas pra todo mundo. É como se todo mundo estivesse dentro do mesmo avião com defeito. Claro que tem gente com mais sorte e gente mais azarada. Tem gente durona e gente fraca, tem ricos e pobres. Só que ninguém tem nenhuma força sobre-humana. É todo mundo igual. Quem tem alguma coisa está sempre com medo de perder essa coisa, e quem não tem nada está sempre aflito, se perguntando se vai continuar eternamente sem nada. É todo mundo igual. Então, quem entende isso antes dos outros deve se esforçar para ser um pouco mais forte. Nem que seja só fingimento. Você não acha? No mundo não tem gente forte de verdade. O que tem é gente que sabe fingir que é forte."

Na segunda novela, Pintball, 1973, o narrador reaparece e introduz Rato novamente na história, contudo, dessa vez o amigo não é um cara que passa as tardes no bar e tem poucas perspectivas.  Pelo contrário! Apesar dos seus caminhos não se encontrarem diretamente dessa vez, é a amizade entre eles que influencia as suas escolhas. 

Assim como na primeira narrativa, aqui são colocadas discussões sobre o passar do tempo, sobre a melancolia, a solidão e as dificuldades dos relacionamentos. 


O interessante é que quando terminamos a leitura ficamos com a sensação de que falta algo, contudo não sabemos dizer exatamente o quê! Como bem disse Murakami no Prefário, foram histórias escritas na mesa da cozinha. Suponho, que assim como a vida, é impossível que elas tenham um final bem delimitado e super preciso, concordam? 

Vale a pena conhecer as novelas! Ah, como elas são rodeadas de música, você pode conferir a playlist nesse link aqui... 

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