"Ela olhava para a janela e admirava a beleza da borboleta. Sempre foi apaixonada por borboletas. A multiplicidade de cores, a graça e a suavidade das asas. O efeito larva, casulo e borboleta era muito encantador. A liberdade do voo tinha um toque de mistério e perfeição. A borboleta pousou na sua janela. Era azul, preta e lilás. A menina nunca tinha visto uma assim. Era perfeita."
A realidade algumas vezes é tão cruel, mas tão cruel, que chega a causar dor na nossa alma! E é incrível como a ficção, muitas vezes, consegue captar tais realidades e nos mostrar o quanto precisamos nos atentar para elas, por maior que seja a nossa vontade de fingir que elas não existem.
Diário de uma escrava, escrito por Rô Mierling, e publicado recentemente pela Darkside Books, conta com uma edição poética e delicada, que certamente foi pensada com o intuito de conferir leveza e humanidade à história tão intensa e cruel que está contida em cada uma das páginas do livro. Uma história que como vocês vão ver, foi baseada em inúmeros casos reais e relatos conferidos para a polícia e para a imprensa.
Laura, a nossa protagonista e narradora, tem apenas 15 anos de idade quando é sequestrada por Estevão, um homem casado, trabalhador, que frequenta a Igreja e possui uma vida aparentemente normal. Trancada em um buraco e sem direito a ver a luz do sol ou ter qualquer contato com a realidade, ela é abusada e escravizada diariamente ao longo de muitos e muito anos...
"(...) Já fazia mais de três anos que não via a luz do sol. Nos banhos anteriores, a venda nunca tinha ficado frouxa."
Na medida em que conta a sua história e todos os dissabores que enfrenta ao longo dos intermináveis dias que passa dentro daquele quarto na companhia daquele homem que ela resolve chamar de Ogro, nós passamos a compartilhar de toda a sua angústia, a sua repulsa e as suas dores. Sim, o livro é tão intenso e as palavras tão bem escolhidas, que nós choramos com Laura, nos sentimos parte da vida dela e por vezes tentamos montar planos para que ela consiga escapar...
Esses sentimentos se tornam ainda mais intensos quando, em capítulos paralelos narrados em terceira pessoa, descobrimos mais detalhes sobre a vida de Estevão, a sua doença e os meios cruéis e dissimulados que ele utiliza para "capturar" as suas prisioneiras: garotas virgens com idade entre 10 e 16 anos. As situações que ele cria são tão simples e tão reais, que paramos para pensar seriamente que nós poderíamos ter sido vítimas de homens como ele. Ou, quem sabem, podemos conhecer vítimas em potencial.
"Isso meio que parece um filme, mas não é. É real, está acontecendo comigo agora e eu tenho que tentar, de uma vez por todas, ser inteligente e usar minhas forças para sair daqui. E, se não der certo, vou fazer com que ele me mate de uma vez."
Esse é um livro intenso, triste, que vai mexer com o seu psicológico e com o seu coração. Um livro doloroso e ao mesmo tempo humano, que mostra como a crueldade nos cerca a todo tempo e como devemos estar atento à todas as pessoas que nos rodeiam, afinal, ninguém é o que parece!
A obra é tão rica e bem escrita que além de descrever o dia-a-da de Laura e mostrar os fatos sobre Estevão, ela também demonstra como as famílias reagem diante do desaparecimento das filhas: a dor, a angústia, a sensação de perda etc. Da mesma forma, apresenta um pouco sobre a postura da polícia diante das denúncias, revelando o quanto as investigações são lentas e as pistas são poucas.
"- Você não sente nada, só o que eu te mandar sentir. Lembre-se de uma coisa: você não está livre, não está solta, não é nada, não é ninguém! Você é minha, minha menina, minha escrava. Você está mais presa do que antes, estaremos diariamente, minuto a minuto, presos um ao outro. Agora, quero que faça valer a pena eu não ter te matado e ter trazido você comigo. Se você se lembrar sempre disso, uma hora vai começar a me agradecer e vai viver com o único objetivo de me satisfazer e me fazer feliz. É isso o que você precisa sentir, nada mais."
Antes de iniciar a leitura, vocês precisam saber que encontrarão fortes descrições de abuso sexual, de assassinatos, torturas físicas e psicológicas etc. Contudo, apesar disso, com certeza terão a possibilidade de repensar sobre a sociedade, a juventude, a confiança e a mente humana. Sem dúvida é um livro que demanda tempo, cuidado e muita coragem!
"Ficava para trás a menina Ursinha, a Laura da mãe e do pai, a namoradinha do Mauro. Ficava para trás minha inocência, meu amor, minha paz, minha caridade e minha fé. Ficava para trás meu ser humano, e morava em mim agora uma escrava. Eternamente escrava."
Vale destacar que ao final nós não nos deparamos com um encerramento propriamente dito e, menos ainda, com um final feliz. O livro é tão realista que quando termina nos coloca diante de uma nova fase da vida da personagem, o que deixa claro que o medo e a dor talvez possam se tornar a nossa única forma de saber viver! E nesse momento, com certeza vocês aprenderão duas coisas: 1) julgamentos, na maioria das vezes, são precipitados; e 2) vítimas, são sempre vítimas.
"Solidão! Não existe uma dor que te faça sofrer de forma tão íntima quanto essa. Todos se encaixam no cenário, menos você. Como uma peça inútil, você é abandonada, e todas as portas se fecham, deixando-a do lado de fora."
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*Este livro foi recebido em razão da parceria com a Darkside Books.
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1 comentários
Gostei muito da resenha, obrigada por me deixar dividir essa história com vocês..bjs Rô
ResponderExcluirObrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...