Ferreira Gullar, um dos grandes nomes da poesia brasileira, faleceu ontem, dia 4 de dezembro, aos 86 anos de idade. Com inĂºmeros livros publicados e dois tĂtulos que serĂ£o lançados no ano que vem pela Editora AutĂªntica, ele serĂ¡ sempre sempre lembrado pelos trabalhos maravilhosos!
Como homenagem, vou colocar aqui seis poemas que sempre me lembrarei... Espero que gostem:
NĂ£o hĂ¡ vagas
O preço do feijĂ£o
nĂ£o cabe no poema. O preço
do arroz
nĂ£o cabe no poema.
NĂ£o cabem no poema o gĂ¡s
a luz o telefone
a sonegaĂ§Ă£o
do leite
da carne
do aĂ§Ăºcar
do pĂ£o
O funcionĂ¡rio pĂºblico
nĂ£o cabe no poema
com seu salĂ¡rio de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como nĂ£o cabe no poema
o operĂ¡rio
que esmerila seu dia de aço
e carvĂ£o
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
estĂ¡ fechado:
“nĂ£o hĂ¡ vagas”
SĂ³ cabe no poema
o homem sem estĂ´mago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
nĂ£o fede
nem cheira.
nĂ£o cabe no poema. O preço
do arroz
nĂ£o cabe no poema.
NĂ£o cabem no poema o gĂ¡s
a luz o telefone
a sonegaĂ§Ă£o
do leite
da carne
do aĂ§Ăºcar
do pĂ£o
O funcionĂ¡rio pĂºblico
nĂ£o cabe no poema
com seu salĂ¡rio de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como nĂ£o cabe no poema
o operĂ¡rio
que esmerila seu dia de aço
e carvĂ£o
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
estĂ¡ fechado:
“nĂ£o hĂ¡ vagas”
SĂ³ cabe no poema
o homem sem estĂ´mago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
nĂ£o fede
nem cheira.
Traduzir-se
Uma parte de mim
Ă© todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
Ă© multidĂ£o:
outra parte estranheza
e solidĂ£o.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
Ă© permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
Ă© sĂ³ vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que Ă© uma questĂ£o
de vida ou morte –
serĂ¡ arte?
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
Ă© multidĂ£o:
outra parte estranheza
e solidĂ£o.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
Ă© permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
Ă© sĂ³ vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que Ă© uma questĂ£o
de vida ou morte –
serĂ¡ arte?
No corpo
De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verĂ£o levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incĂªndio na cama,
o apelo da noite
Agora sĂ£o apenas esta
contraĂ§Ă£o (este clarĂ£o)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia Ă© o presente.
O que o verĂ£o levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incĂªndio na cama,
o apelo da noite
Agora sĂ£o apenas esta
contraĂ§Ă£o (este clarĂ£o)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia Ă© o presente.
Aprendizado
Do mesmo modo que te abriste Ă alegria
abre-te agora ao sofrimento
que Ă© fruto dela
e seu avesso ardente.
abre-te agora ao sofrimento
que Ă© fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusĂ£o
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusĂ£o
que a vida sĂ³ consome
o que a alimenta.
o que a alimenta.
Os mortos
os mortos vĂªem o mundo
pelos olhos dos vivos
pelos olhos dos vivos
eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias
Ausentes
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça
Meu povo, meu poema
Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a Ă¡rvore nova
como cresce no fruto
a Ă¡rvore nova
No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o aĂ§Ăºcar
como no canavial
nasce verde o aĂ§Ăºcar
No povo meu poema estĂ¡ maduro
como o sol
na garganta do futuro
como o sol
na garganta do futuro
Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil
Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta
menos como quem canta
do que planta
1 comentĂ¡rios
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