A resenha de hoje é especial para quem já tem ou teve um "amigo de estimação" (como eu gosto de chamar), para quem já se viu obrigado a despedir-se de uma pessoa muito querida, para quem já sofreu com a solidão e até para quem não passou por nenhuma dessas situações e gostaria de entender um pouco mais sobre o que esta dor significa.
Algumas histórias nos encantam pela sua complexidade: seja um enredo mais elaborado, personagens complexos, dramas e dilemas inimagináveis. Outras, nos cativam pela simplicidade em abordar questões intrínsecas da natureza humana.
PAX, de Sara Pennypacker se encaixa perfeitamente no segundo tipo de história. O livro da escritora norte americana parte de uma premissa simples para narrar uma história linda, emocionante e capaz de passar lições importantes para pessoas de todas as idades.
O livro começa com uma cena dramática em que um pai obriga seu filho a deixar sua raposa de estimação na floresta. Logo após deixar seu melhor amigo na mata, o menino se desespera imaginando todo o mal que pode acontecer ao amigo que tanto ama, seja pela solidão que ele certamente enfrentará ou pelos perigos que o aguardam.
Solidão que o menino conhece muito bem: depois de perder a amorosa mãe, ele também se viu obrigado a despedir-se do pai que o deixa sob a tutela do avô distante e rabugento enquanto parte para lutar na guerra. Sem os cuidados do pai, o menino precisou dar adeus à sua carinhosa e protetora raposa. Para tornar a situação ainda mais cruel, sua raposa era totalmente domesticada, deixando seu amigo humano desesperado ao lembrar o quanto seria difícil para PAX se proteger e se alimentar na floresta.
Assim que o menino se dá conta do que fez se arrepende e parte sozinho em uma viagem comovente para salvar o melhor amigo. PAX, por sua vez sabe que de alguma forma seu amigo irá voltar, mas precisa se proteger e manter-se próximo ao local onde foi deixado para facilitar o seu resgate.
Novos personagens integram a história acrescentando ritmo e tensão à narrativa. Se por um lado o menino parte em uma viagem geograficamente distante para salvar PAX, a raposa, por sua vez, inicia um processo irreversível de maturidade e autoconhecimento. Ambos crescem e aprendem muitas coisas ao longo da jornada, enfrentando um inimigo ainda maior que a distância geográfica: o tempo.
Me emocionei ao longo de toda a história e não consegui largar o livro assim que comecei a leitura.
Uma das coisas mais interessantes do livro é a forma como Pennypacker desenvolve seus personagens. O olhar e a narração de PAX são absolutamente fantásticos e deixam claro que a autora elaborou uma ampla pesquisa para estudar o comportamento instintivo das raposas. As narrações de PAX contextualizam a história e mostram com riqueza de detalhes tanto as reações da raposa domesticada quanto das outras raposas que habitam a floresta, assim como explicita bem o processo de amadurecimento de PAX.
Outro ponto importante é a referência à uma das mais famosas histórias da literatura mundial: o clássico de Saint- Exupéry, O Pequeno Príncipe que conquistou o mundo ao narrar a amizade entre um pequeno Príncipe e uma raposa.
Fazendo jus à máxima do livro de que "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", os amigos sentem um instinto de proteção e cuidado em relação ao outro, em uma comovente relação de pertencimento. A ligação entre o menino e PAX é muito maior do que uma ligação de propriedade entre animal e humano; ambos são motivados pela responsabilidade em relação ao outro e pela amizade que os une, apesar da distância.
PAX nos mostra que as relações de amor e de amizade podem ultrapassar as barreiras mais intransponíveis e inimagináveis, que vale a pena lutar por quem amamos e por aquilo que acreditamos, e que podemos amadurecer muito com o sofrimento. A ligação de amizade, a sensação de pertencimento é o difícil mas inevitável processo de amadurecimento dos personagens fazem de PAX um livro lindo e emocionante que traz uma história madura para crianças e adultos.
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