A livraria dos finais felizes
Angélia Pina
A livraria dos finais felizes, de Katarina Bivald
00:00Angélica Pina
Sara Lindqvist tem 28 anos, mora
na Suécia, trabalha há uma década em uma livraria e não tem vida social, sua
única diversão é ler e seus únicos companheiros são os livros. A típica garota
considerada estranha por estar sempre com “a cara enfiada em um livro”. Ela compra
um título em um sebo on-line de Amy, que envia o pacote e se recusa a receber
qualquer pagamento. Sara então envia uma carta com outro livro em agradecimento
e as duas iniciam uma amizade à distância, trocando cartas e livros por quase
dois anos.
“Com os livros, ela podia ser quem quisesse, estar onde quisesse. Podia ser durona, bonita, charmosa, dizer a frase perfeita no momento perfeito e... viver coisas. Coisas reais. Que aconteciam com pessoas reais. Nos livros, as pessoas eram charmosas e simpáticas, e a vida seguia certos padrões. Se um personagem sonhava em fazer alguma coisa, então o leitor podia ter certeza de que, até o final do livro, ele estaria fazendo exatamente aquilo. E que encontraria alguém para concretizar o sonho com ele.”
Quando a livraria onde Sara
trabalhava fecha, ela decide aceitar o convite da idosa Amy para passar férias
em sua casa, em Iowa, nos Estados Unidos, na pequena cidade chamada Broken
Wheel (pequena mesmo, com apenas 637 habitantes).
O problema é que quando chega de
sua longa viagem, Sara recebe a notícia de que Amy faleceu. A jovem é
incentivada pelos amigos da idosa a se hospedar assim mesmo em sua casa e a
turista se torna uma responsabilidade de todos, que a tratam muito bem e sequer
a deixam pagar por um café, uma cerveja ou uma refeição.
Em Broken Wheel não há muito o
que fazer e Sara aproveita os primeiros dias lendo os livros que levou e
desfrutando das gentilezas de todos os vizinhos, que ela já conhecia pelos
comentários de Amy em suas cartas, mas ela se acha uma invasora e se sente mal
por não ter conhecido a amiga pessoalmente e ainda estar em sua casa.
Sara percebe que a cidade está
prestes a desaparecer do mapa, já que não há empregos, poucas crianças, o
comércio se resume à lanchonete de Grace, a loja de ferramentas de John, uma
loja de roupas antigas e o resto são campos de milho. Ao criar coragem para
entrar no quarto de Amy e descobrir a quantidade absurda de livros que há ali,
Sara decide que Broken Wheel precisa de uma livraria para que aqueles livros
possam ter novos donos.
“O quarto de Amy era como a biblioteca perfeita. (...) De um lado havia uma janela sem cortinas. Era a única parede não coberta por livros. (...) Os livros formavam um arco-íris de cores. Havia livros finos, grossos, com textos luxuosos e ilustrações, brochuras baratas, edições clássicas, velhos volumes de couro, gêneros incompatíveis. Às vezes organizados em ordem alfabética, às vezes por gênero, às vezes por nenhum sistema óbvio. Ela ficou onde estava, na cama, olhando assombrada enquanto livros, cores, vidas e histórias pairavam em torno dela.”
A narrativa de A livraria dos
finais felizes é em terceira pessoa, o que permite que a gente conheça e saiba
o que se passa na cabeça de todos os personagens. Alguns deles, como Tom, Andy
e Carl, Caroline, Jen e George recebem grande destaque e são muito importantes
na história.
No decorrer da narrativa,
encontramos algumas cartas que Amy enviou para Sara e através delas temos a
oportunidade de conhecer a velha senhora e saber o que ela pensava sobre o
lugar e seus moradores.
“Você perguntou: livros ou pessoas? Devo dizer que é uma escolha difícil. Não sei se as pessoas são mais importantes que os livros. Com certeza não são mais legais, mais engraçadas nem mais reconfortantes... Mas, ainda assim, por mais que olhe para a pergunta por todos os lados, tenho que optar pelas pessoas em longo prazo. Espero que não perca toda a confiança em mim agora que admiti isso.”
A autora escreveu o que é chamado
de livro sobre livros e as referências a inúmeros autores e títulos, além dos
hábitos de Sara como leitora frenética, são o suficiente para deixar apaixonado qualquer
viciado em livros. A escrita de Katarina Bivald é leve e envolvente,
o livro flui bem rápido e de forma agradável. Apesar disso, muitos leitores
podem acabar achando que falta emoção.
Eu particularmente não tinha
expectativas de grandes emoções ou de alguma reviravolta, mas quando faltavam
apenas umas 20 páginas para o final percebi que ainda faltava algo, que acabou
não acontecendo. O clima de cidade pequena faz com que a gente se sinta
participante, como se conhecêssemos cada um dos personagens pessoalmente, então
senti que no final faltou uma conclusão melhor para eles. De qualquer forma, é
um livro altamente recomendado para aqueles dias que buscamos uma leitura
despretensiosa e que coloca um sorriso nos lábios.
“- Às vezes acho que há escolhas demais na vida – continuou George. – É difícil. – Ele se virou para Sara e disse: - Às vezes eu gostaria de estar doente para ficar na cama o dia todo. Não ter que fazer nada. Passar dias sem tomar decisão nenhuma.- É para isso que os livros servem – explicou ela, sorrindo. – São a desculpa perfeita para não fazer nada. Não tomar decisão nenhuma.”
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