Crítica Daytripper

Daytripper, de Gabriel Bá e Fábio Moon

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"É apenas quando você aceita que vai morrer que consegue realmente se libertar e aproveitar ao máximo a vida. Este é o grande segredo."


Em nossa cultura temos o hábito de festejar a vida e os momentos felizes que nos cercam: um brinquedo especial na infância, aniversários, formaturas, o primeiro carro, o primeiro beijo, uma boa nota na escola, o primeiro diploma, o primeiro emprego, noivado, casamento, filhos. Esta pode ser uma forma de prolongar os momentos de alegria, de compartilhar a felicidade ou mesmo de lembrar-nos que devemos agradecer e festejar a cada nossa luta diária pela sobrevivência. Quem dera tivéssemos a mesma habilidade para lidar com a morte e falar sobre ela.


A dicotomia vida x morte é o ponto central dessa graphic novel, que nos conquista ao discutir questões existenciais complexas de forma delicada e poética. Com um colorismo intenso, uma arte de tirar o fôlego e um roteiro impecável, Daytripper é tão brilhante que nem precisaria de um enredo tão consistente e reflexivo para ser incrível, mas Fabio Moon e Gabriel Bá foram impecáveis, nos conquistando pelo perfeccionismo de cada detalhe do quadrinho, ganhando elogios do público e crítica.


A história traz as várias mortes de Brás de Oliveira Domingos, que carrega em seu nome uma clara referência ao famoso personagem que narra suas memórias póstumas: o Brás Cubas, de Machado de Assis. Esta não foi uma homenagem gratuita: os dois protagonistas discorrem sobre suas vidas, memórias e tem de enfrentar a morte. 

Gabriel Bá e Fábio Moon trazem um Brás urbano e contemporâneo que assim como o Brás machadiano narra suas memórias e suas relações ao longo da vida, tendo como cenário o Brasil e seus elementos, evidenciados nos traços, detalhes e cores. 
As pequenas e importantes coisas da vida vem à tona, assim como os momentos perdidos, os instantes de alegria, as palavras não ditas e as memórias perdidas. Ao longo da graphic novel, Brás apresenta epílogos de suas várias mortes, desfechos alternativos que sempre terminam com a morte do protagonista. Além de chamar a atenção para as questões existenciais que cercam Brás, estas mortes também representam as nossas tristezas e frustrações que nos matam dia após dia. A cada dor, a cada perda, parte de nós acaba morrendo também.  

Daytripper, o "viajante por um dia" que também é música dos Beatles, brinca com a cronologia da história viajando ao passado e ao futuro, em páginas e quadros muito bem amarrados. Uma história linda sobre vida, morte e todas as suas nuances. 



E qual lição podemos tirar de toda essa reflexão existencialista? Só vivemos de forma absoluta quando aceitamos a morte em sua plenitude. Aceitando a morte, damos significado à vida. Daytripper prova que viver é diferente de estar vivo, e que cabe a nós valorizar cada momento. Uma reflexão realista e doce, delicada e intensa, lúdica e melancólica sobre vida e sobre a tênue linha que nos separa da morte. 


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Ficha Técnica:

Capa comum: 247 páginas
Editora: Vertigo (8 de fevereiro de 2011)
Idioma: Inglês
ISBN-10: 1401229697
ISBN-13: 978-1401229696
Dimensões do produto: 17 x 1,3 x 25,9 cm
Peso do produto: 363 g


*Postado por: Kellen Pavão



                                                                 

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