Crítica Darkside Books

Menina Má, William March

11:48Universo dos Leitores


Se você gosta de um bom thriller psicológico, precisa dar atenção ao livro Menina Má. O livro de William March, publicado recentemente pela DarkSide Books narra a história de Rhoda, uma garotinha aparentemente perfeita que esconde por trás de suas covinhas e sorriso doce uma mente perversa, capaz de cometer as maiores atrocidades para satisfazer suas ambições com toda a frieza necessária.

A mãe de Rhoda, Christine, fixou-se em uma nova cidade, juntamente com a filha, enquanto seu marido investe na carreira em uma cidade diferente. A distância faz com que o casal se comunique por cartas, e Christine lida com a solidão e a responsabilidade de criar a filha sozinha.

Aos olhos de algumas pessoas, Rhoda era uma garotinha perfeita e tinha muito mais do que se espera de uma menina de sua idade: madura, inteligente, educada, sempre com um sorriso gentil emoldurado por uma covinha simpática e por suas alinhadas tranças loiras. Para outras pessoas, Rhoda era uma menina sombria, misteriosa e que, por trás de sua aparência angelical, velava um mal maior do que ousavam imaginar. 

Uma das coisas mais interessantes do livro, é que a história parte de uma família tradicional, dentro dos padrões idealizados pela sociedade no melhor estilo "comercial de margarina". Christine é uma mulher jovem e bonita, seu marido possui uma carreira em ascensão e a filha Rhoda é uma garota perfeita, ainda que sua maturidade seja intimidadora em vários momentos. 

A vida aparentemente perfeita, aliada à passividade de Christine e à responsabilidade de criar a filha,  fazem com a mãe fique em negação tanto quanto possível no que diz respeito ao comportamento nitidamente estranho de Rhoda. 

Rhoda desde o começo da história expõe traços claros de psicopatia e suas ações refletem a total falta de consciência de suas atitudes. Rhoda não tem empatia por quem quer que seja e quando quer algo só recua quando percebe que sua agressividade se tornou explícita, o que a leva a atuar de forma não muito convincente, principalemente para Christine. Sua frieza, seu egoísmo suas convenientes manifestações de carinho, sua indiferença diante das situações mais dramáticas preocupam sua mãe, que liga o alerta após a suspeita morte de um colega de Rhoda em um acampamento.
"A Sra. Penmark respondeu que gostaria, sim, acrescentando que a menina, quase desde bebê tinha sido uma espécie de charada tanto para ela quanto para o marido. Era algo difícil de precisar ou identificar, mas havia uma estranha maturidade no caráter da menina que julgavam perturbadora."



William March nos diz o tempo inteiro o quanto podemos ser enganados pelas aparências e brinca até mesmo com a  percepção do leitor: o livro vai além da psicopatia de Rhoda e a deixa em segundo plano para nos mostrar a perspectiva de Christine, cuja transformação acompanhamos ao longo de toda a história.

Christine é uma mulher comum, sem muitas perspectivas e que não costuma impor suas vontades, nem mesmo para a fillha. Na medida em que o comportamento de Rhoda se revela (especialmente após a morte mal esclarecida do colega de Rhoda) a personagem evolui, e Christine assume uma nova postura; mais forte, mais determinada e até mesmo mais dissimulada, já que cabe a ela proteger e "maquear" as atitudes da filha.  Aos poucos sua paz é consumida pela expectativa e pelo medo do mal que Rhoda pode fazer a outras pessoas. Christine passa a socializar menos, pesquisar mais o assunto, se torna mais introspectiva e é atormentada a todo instante pelo excesso de responsabilidades. 

"Se me perguntassem, eu diria que a era em que vivemos é a era da violência. Me parece que todo mundo tem violência na cabeça hoje em dia. E acho que vamos simplesmente continuar por esse caminho até não ter nada mais que estragar. "

Willian March propõe perguntas, mas assim como Christine não encontramos respostas. Não há escolha sem perdas e não há saída sem sofrimento para quaisquer das partes. Christine se vê presa em um dilema: seguir a responsabilidade de proteger a própria filha das consequências dos próprios atos ou atender ao dever de alertar as outras pessoas sobre o mal que Rhoda pode provocar? Como lidar com esse paradoxo? O que você faria no lugar de Christine? Eu honestamente não sei a resposta, se é que há uma resposta certa.

Menina Má mostra que a crueldade não tem face e revela o que uma mente atormentada é capaz de fazer, seja por meio do comportamento de Rhoda ou pela transformação de Christine. Mais do que um livro sobre uma garota malvada, "Menina Má" é uma história sobre uma mãe obrigada a sair de sua zona de conforto, aterrorizada pelo comportamento maligno da própria filha. O livro prova que o mal pode estar mais perto do que imaginamos, vindo de quem menos se espera. É uma história fantástica sobre medos, inseguranças e sobre consequências.


Curiosidade


"Menina Má" me lembrou em vários momentos o caso real que baseou o documentário A Ira de Um Anjo, um compilado de gravações de sessões no consultório do psicólogo Ken Magid. Especializado em casos de vítimas de abuso infantil, Dr. Ken gravou várias sessões com a menina Beth Thomas, que apesar da voz doce e aparência angelical foi diagnosticada com uma psicopatia incomum.

Diferentemente de Rhoda,  Beth teve uma infância cruel antes de ser adotada e foi vítima de severos abusos sexuais desde bebê. Se Rhoda era menos explícita e mais dissimulada, Beth não se preocupava em disfarçar sua falta de consciência. Seus depoimentos são arrepiantes e é impossível não se sensibilizar com o sofrimento dos pais, que se vêem de mãos atadas diante do comportamento violento da filha. O caso de Beth era tão grave que a menina precisou ser internada por um tempo, já que ameaçava constantemente a vida do irmão e até mesmo dos pais. Abaixo vocês conferem um trecho dos depoimentos de Beth e o documentário na íntegra. 

Dr. Ken: "As pessoas tem medo de você Beth?" 
Beth: "Sim."
Dr. Ken: "Seus pais tem medo de você?"
Beth: "Sim."
Dr. Ken: "O que você faria com eles?"
Beth: "Esfaquearia." 
Dr. Ken: "O que você faria com seu irmão?"
Beth: "O mataria."
Dr. Ken: "Em quem você gostaria de enfiar alfinetes?"
Beth: "Na mamãe e no papai."
Dr. Ken: "O que você gostaria que acontecesse com eles?"
Beth: "Que eles morressem."


A Ira de Um Anjo



*Este livro foi cedido em parceria com a Editora DarkSide Books.








*Postado por Kellen Pavão



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