Crítica Donald Barthelme

O Pai Morto, De Donald Barthelme

00:00Universo dos Leitores

“Morto, mas ainda conosco, ainda conosco, mas morto.”

Uma das características mais interessantes da literatura é o uso do imaginário para alterar uma realidade, ou seja, quando uma obra parte de imagens, palavras, símbolos que já trazem um certo horizonte para os leitores para transformá-los logo ao primeiro momento. Isto, em literatura se chama “horizontes de expectativas”, aquilo que esperamos e se relaciona com aquilo que lemos. O Pai Morto, neste caso, é um grande exemplo desta questão.

O Pai Morto, de Donald Barthelme, nos conduz, através do título, a ideia de que estaremos diante de uma narrativa sobre a relação entre pai e filho e, assim, nos vemos imaginando obras épicas sobre esta relação como Édipo, Carta ao Pai, Hamlet, entre outras. No entanto, quando abrimos as primeiras páginas percebemos que estamos diante de uma obra profundamente mergulhada em sua própria linguagem, como se a língua falasse antes da história.

O enredo é sobre a (não) vida de uma figura gigantesca, com uma perna mecânica, chamada Pai Morto. Pai Morto, essa figura mito-poética, está sendo levada por um grupo de humanos, Julie, Emma, Thomas, Edmund, para uma pretensa “fonte da juventude”.

O que mais impressiona na obra é este imaginário de um “pai”, em dimensões gigantescas e visto com uma espécie de Deus visto em sua via crucis, suas misérias de fim de vida. A ideia de “pai morto”, provavelmente parte da ideia de Nietzsche que, em sua filosofia afirmou que “Deus está morto” e nos deixou a nossa própria sorte com nossas escolhas. Assim, esses destroços de pai, essa sobra, esse resto, se torna um estorvo, um ser mimado, sem força, mas que ainda consegue magnetizar as pessoas. Este Deus, em seu (des)poder, afirma:

"Posso fazer qualquer coisa, desde que não seja importante."

A linguagem de Barthelme é quase sempre seca, de cortes rápidos, frases que não sabemos de quem fala e narrativas que passam pela linguagem do humor, da ironia e do jogo entre língua e história antes mesmo de nos contar um “enredo.” A passagem do Pai Morto pelas terras, as conversas com seus homens e o fim do seu trajeto é sempre acompanhado com a desconfiança de quem não entende se o que se lê é uma parábola ou uma há apenas o apontamento da linguagem para si própria. De caráter parabólico ou não – expondo a linguagem em seu limite, Donald Barthelme escreve uma intrigante obra da literatura americana. Um enigma que nos lançou braços literários, mas que não avançamos porque os enigmas servem para nos mostrar que o caminho nem sempre é para frente.

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