Ana Cássia Rebelo
Ana de Amsterdam
Ana de Amsterdam, de Ana Cássia Rebelo
00:11Universo dos Leitores
Mulher, jurista, 3 filhos, um casamento monótono e uma rotina burocrática. Este é o perfil aparentemente comum de Ana de Amsterdam, uma entre tantas mulheres enclausuradas com seus sentimentos e imersas na própria solidão.
Ana de Amsterdam é uma personagem do blog português de mesmo nome, criado por Ana Cássia Rebelo (fã de Chico Buarque, o que justifica o nome do blog). A escritora portuguesa de origem goesa sempre escreveu inúmeros textos em seu blog, que foram minunciosamente garimpados e compilados por João Pedro Jorge, dando origem a esta antologia.
Em relatos curtos e por vezes avulsos (que lembram o formato de um diário) Ana traz à tona problemas comuns à inúmeras mulheres: solidão, a monotonia de um casamento entendiante, a falta de desejo sexual, apatia, tristeza, depressão, sua tendência ao suicídio e sua rotina com breves momentos felizes e outros tantos não tão felizes assim. Mas o diferencial do livro é a forma como Ana Cássia Rebelo revela os sentimentos de sua protagonista: sua narrativa é intensa, visceral e crua, como se Ana não tivesse nenhum filtro ou pudor para revelar-se.
"Acreditei que um dia havia de acordar junto de alguém a quem pudesse dizer 'parece que vai chover' e que esse alguém saberia encontrar tudo que essas palavras não dizem."
"Ter sucesso na cama é requisito essencial para se ser moderna, desempoeirada, bem sucedida. As mulheres falam de sexo como falam dos filhos, dos jantares de degustação em restaurantes da moda e das viagens que fazem às ilhas gregas. Tudo troféus que demonstram o bem estar que atingiram na vida."
Ana narra seus problemas, sentimentos e suas impressões da vida de forma despudorada, sem se preocupar com diplomacias ou com algum possível julgamento e essa é uma das características mais interessantes do livro. Suas descrições são diretas, ácidas e até cruéis, seja falando de si mesma ou das pessoas à sua volta.
"Nunca há falta de desejo. Não há cansaço. Não há frustração. Não há obrigação. Nem humilhação. No sexo, como em tudo, as mulheres que aguentem.
A narrativa de Ana é muito interessante, envolvente e até poética. Mesmo nos momentos de maior tristeza e de dúvidas com relação a própria existência (quando cogita o suicídio por exemplo) a narrativa delicada permite que Ana de Amsterdam transmita uma certa leveza apesar do seu sofrimento. Ana de Amsterdam é uma mulher comum, mas poderia ser "todas nós".
Uma livro tocante, intenso e uma bela aposta da Globo Livros.
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