Charlotte Perkind Gilman
Crítica
O papel de parede amarelo, de Charlotte Perkind Gilman
00:00Universo dos Leitores
Tido como um clássico da literatura feminista, o conto O papel de parede amarelo foi escrito por Charlotte Perkind Gilman e narra, de forma intensa, viva e muito humana, as angústias de uma mulher que se mudou com o marido John para um local isolado e repleto de grades, com o intuito de passar três meses e melhorar de uma doença que não é bem esclarecida no livro, mas que pela descrição se assemelha a uma crise emocional ou a uma depressão.
"Não sei porque escrevo isto.
Não é algo que eu queira fazer.
Não me sinto capaz.
E eu sei que John acharia um absurdo. Mas tenho que expressar de alguma forma o que sinto e penso - é um alívio tão grande."
Como o marido é médico e trabalha o dia inteiro, a mulher fica sozinha na casa e usa da escrita para relaxar e se sentir melhor, contudo, ao longo do seu texto, é possível perceber que por trás da imagem protetora e carinhosa de John existe a figura de um homem que oprime a esposa, limita todas as suas atitudes e a impede de pensar e de agir conforme as próprias vontades.
Com todos os movimentos controlados e todos os pensamentos reprimidos, a nossa narradora se sente incomodada com o papel de parede amarelo do quarto que ocupa, e passa a analisar atentamente todos os contornos das imagens, o que lhe deixa inquieta e levanta inúmeras reflexões, conduzindo a narrativa a um final tenso, porém libertador.
A partir de uma linguagem simples e direta, a obra nos coloca diante de muitas reflexões sobre a postura controladora dos homens e sobre o sofrimento progressivo das mulheres que possuem suas vontades oprimidas e são moralmente coagidas pelos homens.
Vale destacar que a narrativa é, em partes, autobiográfica, já que a escritora, que sofria de depressão, recebeu ordens de ser tratada em casa e de parar de escrever e de exercitar a mente.
Ao final do conto, a edição da José Olympio apresenta um Posfácio de Elaine R. Hedges, que esclarece sobre a relevância da obra para a história do feminismo, além de contar um pouco sobre a trajetória da escritora e todas as dificuldades que ela enfrentou antes e depois da publicação do livro.
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