A paixão indestrutível está atrás de uma capa
Crônica
A paixão indestrutível está atrás de uma capa, entre páginas e capítulos.
15:05Universo dos Leitores
Impossível passar pela vida e não se apaixonar pelo menos uma vez. É também de conhecimento absoluto o fato de as paixões trazerem, acorrentadas em si, glórias indescritíveis e, consequência inevitável, frustrações dolorosas. Uma sensação está ligada à outra, tal como o peixe à água. Há exceções? Há. E nesse caso seria preciso avaliar o nível ou a consistência do sintoma. No entanto, existe uma espécie de paixão que, além de infinita, proporciona apenas prazer: a paixão pelos livros.
Lembro-me muito bem da primeira vez em que um livro me deixou encantado, ao me mostrar um território inédito entre palavras. Era um exemplar desgastado, típicas páginas amareladas e aquele cheiro inconfundível de livros velhos. Possuía crônicas e poemas. E foi por meio dele que conheci as palavras analgésicas de Vinicius de Moraes. O amor por entre o verde, o nome da crônica. Li tantas vezes que acabei a decorando. Ainda hoje consigo citar alguns parágrafos de memória e fico feliz por isso.
Nunca um texto havia me fascinado tanto. Talvez tenha sido o momento certo, tal como promove o clichê. A partir de então, tornei-me um leitor irredutível, um rato de biblioteca à procura de novas ideias, diferentes formas de ver o mundo, textos que dessem prazer à minha imaginação, sem distinguir estilos ou status literário de autor consagrado por isso ou aquilo. O desejo era apenas experimentar o êxtase silencioso confortável da leitura.
Conheci versões adaptadas e ilustradas de Shakespeare, as quais me convenceram do quanto o ser humano é um universo assustador e plausível. Ao refrescar a lembrança, ainda sinto o encanto saboroso proporcionado pelas histórias impactantes do Bardo de Avon. Fiquei também deslumbrado com a elegância precisa dos versos de Olavo Bilac. Li contos inesquecíveis de autores esquecidos. Passava horas, de cabeça inclinada, apenas apreciando as lombadas dos exemplares, imaginando as histórias, o conteúdo por trás de tantos títulos. Tudo que eu queria conhecer estava do outro lado daquelas capas. O silêncio da biblioteca me transmitia uma comodidade que, sem questionar, eu sabia que jamais encontraria em outro lugar da Terra.
Ler é conhecer o inacreditável, escrevi isso em meu romance Mariela e o Livro da Escuridão, suspense em que a personagem principal é viciada em literatura e, por acaso, descobre ser a protagonista de um livro misterioso, mágico e proibido. A leitura é, de fato, uma janela aberta para mundos que não conhecemos e, provavelmente, não nascemos para conhecer. O destino jamais nos colocará nos trilhos daquela aventura tão fascinante que, certa vez, cresceu e ganhou proporções enormes na nossa imaginação, só porque tivemos a curiosidade de abrir um livro e explorar cada página dele. Ler um bom livro é melhor do que conversar com idiotas.
Quando ouço alguém dizer que não gosta de ler — muitas vezes até com postura de orgulho — não sinto repulsa, pena ou algo semelhante. Apenas acredito que essa pessoa ainda não encontrou o livro ideal, ou não teve uma relação satisfatória com algum. Não deixamos de viver quando a vida nos frustra, nem de procurar o amor dos sonhos quando uma decepção amorosa nos faz conhecer o pesadelo do fim. Sem contar os que declaram não apreciar livros sem nunca ter chegado perto de um. Nesse caso, é como dizer que não gosta da comida servida naquele restaurante localizado na capital da Hungria, sem nunca ter pisado lá.
Cheirar livros, acredite, alivia a tensão muscular, espanta o estresse e elimina carências. O marcador de páginas na metade do exemplar indica que ainda temos uma boa parte da jornada a ser desbravada. E isso dá um calafrio de curiosidade delicioso. Ver uma assinatura de várias décadas numa página de rosto amarelada exalta uma saudade abstrata, sem identidade, e nos conduz a uma viagem no tempo, efêmera e sem destino.
O mundo sem livros seria um lugar vazio, repleto de sombras geladas, vagando a esmo por ruas cinzentas e esgotos, em busca de comida, água e objetos, na tentativa inútil de preencher o vazio da alma. Uma vida sem livros não é isenta de inteligência, porém se torna uma existência suspensa num céu sem estrelas, incapaz de ver flores luminosas em um vaso solitário, esquecido no fundo do quintal.
A riqueza oferecida pela boa literatura, independente do gênero, número de vendas, autor ou país de origem, é única que eleva o espírito a um patamar de horizontes intrapaduzíveis. É a única cujo dono não sai na Forbes, por ser um patrimônio invisível, incalculável e impossível de se declarar falência. É a única que não necessita de ostentação, por ser superior e incapaz de se iludir com a pobreza vestida de ouro. Somente os iletrados ficarão apáticos ou ofendidos com este texto. Mas agora eles já sabem o que fazer.
Lembro-me muito bem da primeira vez em que um livro me deixou encantado, ao me mostrar um território inédito entre palavras. Era um exemplar desgastado, típicas páginas amareladas e aquele cheiro inconfundível de livros velhos. Possuía crônicas e poemas. E foi por meio dele que conheci as palavras analgésicas de Vinicius de Moraes. O amor por entre o verde, o nome da crônica. Li tantas vezes que acabei a decorando. Ainda hoje consigo citar alguns parágrafos de memória e fico feliz por isso.
Nunca um texto havia me fascinado tanto. Talvez tenha sido o momento certo, tal como promove o clichê. A partir de então, tornei-me um leitor irredutível, um rato de biblioteca à procura de novas ideias, diferentes formas de ver o mundo, textos que dessem prazer à minha imaginação, sem distinguir estilos ou status literário de autor consagrado por isso ou aquilo. O desejo era apenas experimentar o êxtase silencioso confortável da leitura.
Conheci versões adaptadas e ilustradas de Shakespeare, as quais me convenceram do quanto o ser humano é um universo assustador e plausível. Ao refrescar a lembrança, ainda sinto o encanto saboroso proporcionado pelas histórias impactantes do Bardo de Avon. Fiquei também deslumbrado com a elegância precisa dos versos de Olavo Bilac. Li contos inesquecíveis de autores esquecidos. Passava horas, de cabeça inclinada, apenas apreciando as lombadas dos exemplares, imaginando as histórias, o conteúdo por trás de tantos títulos. Tudo que eu queria conhecer estava do outro lado daquelas capas. O silêncio da biblioteca me transmitia uma comodidade que, sem questionar, eu sabia que jamais encontraria em outro lugar da Terra.
Ler é conhecer o inacreditável, escrevi isso em meu romance Mariela e o Livro da Escuridão, suspense em que a personagem principal é viciada em literatura e, por acaso, descobre ser a protagonista de um livro misterioso, mágico e proibido. A leitura é, de fato, uma janela aberta para mundos que não conhecemos e, provavelmente, não nascemos para conhecer. O destino jamais nos colocará nos trilhos daquela aventura tão fascinante que, certa vez, cresceu e ganhou proporções enormes na nossa imaginação, só porque tivemos a curiosidade de abrir um livro e explorar cada página dele. Ler um bom livro é melhor do que conversar com idiotas.
Quando ouço alguém dizer que não gosta de ler — muitas vezes até com postura de orgulho — não sinto repulsa, pena ou algo semelhante. Apenas acredito que essa pessoa ainda não encontrou o livro ideal, ou não teve uma relação satisfatória com algum. Não deixamos de viver quando a vida nos frustra, nem de procurar o amor dos sonhos quando uma decepção amorosa nos faz conhecer o pesadelo do fim. Sem contar os que declaram não apreciar livros sem nunca ter chegado perto de um. Nesse caso, é como dizer que não gosta da comida servida naquele restaurante localizado na capital da Hungria, sem nunca ter pisado lá.
Cheirar livros, acredite, alivia a tensão muscular, espanta o estresse e elimina carências. O marcador de páginas na metade do exemplar indica que ainda temos uma boa parte da jornada a ser desbravada. E isso dá um calafrio de curiosidade delicioso. Ver uma assinatura de várias décadas numa página de rosto amarelada exalta uma saudade abstrata, sem identidade, e nos conduz a uma viagem no tempo, efêmera e sem destino.
O mundo sem livros seria um lugar vazio, repleto de sombras geladas, vagando a esmo por ruas cinzentas e esgotos, em busca de comida, água e objetos, na tentativa inútil de preencher o vazio da alma. Uma vida sem livros não é isenta de inteligência, porém se torna uma existência suspensa num céu sem estrelas, incapaz de ver flores luminosas em um vaso solitário, esquecido no fundo do quintal.
A riqueza oferecida pela boa literatura, independente do gênero, número de vendas, autor ou país de origem, é única que eleva o espírito a um patamar de horizontes intrapaduzíveis. É a única cujo dono não sai na Forbes, por ser um patrimônio invisível, incalculável e impossível de se declarar falência. É a única que não necessita de ostentação, por ser superior e incapaz de se iludir com a pobreza vestida de ouro. Somente os iletrados ficarão apáticos ou ofendidos com este texto. Mas agora eles já sabem o que fazer.
0 comentários
Obrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...