Johann Wolfgang von Goethe, ou apenas Goethe é um dos maiores nomes da literatura alemã. Formado em direito, o autor alemão ficou conhecido no mundo inteiro por dois de seus grandes trabalhos: o poema Fausto e o romance O Sofrimento do Jovem Werther, que contempla o tema do mês de dezembro no projeto Viagem na Literatura e sobre o qual falarei a seguir.

Antes de tudo, devo alertar que a resenha contém spoilers; portanto, caso você não queira saber maiores detalhes do livro o melhor a fazer é interromper a leitura desta resenha. 

Werther é o personagem principal do livro e é quem narra os acontecimentos da história. Narrado em primeira pessoa, o livro é classificado como um romance epistolar, ou seja, a história é contada por meio das cartas enviadas pelo próprio protagonista. Esta característica é fundamental na construção da obra.

Werther é um jovem burocrata que mora longe da família e amigos em virtude de seu trabalho. Por esta razão ele comunica-se por cartas com Whilhelm, um amigo para quem Werther conta todos os seus sentimentos. Sua cartas descrevem exaustivamente sua paixão por Lotte, a mulher por quem Werther se apaixonou. Entretanto, apesar do jovem estar perdidamente apaixonado por Lotte, seus sentimentos não podem ser correspondidos, uma vez que sua amada foi prometida a um outro homem de acordo com os padrões da época. Em uma noite ambos se beijaram e protagonizaram um dos beijos mais intensos da literatura, mas a felicidade transformou-se em tristeza quando Lotte pediu para Werther esquecê-la definitivamente. 

Uma paixão avassaladora tomou conta do personagem, aliada ao sofrimento insuportável por não poder vivenciar este amor. Se em alguns momentos Werther delirou de felicidade quando estava perto de Lotte, depois ele sucumbiu a uma tristeza sem fim quando se afastou dela. 

Esta dicotomia alimentou uma melancolia progressiva em Werther, que foi consumido pela tristeza até o seu último dia quando por fim decidiu acabar com a própria vida. O suicídio de Werther traduz o desespero do personagem e a sua entrega ao seu sentimento por Lotte. 

"E tudo isso Wilhelm me emudece. Volto-me para mim mesmo e encontro o mundo! E de novo predominam o pressentimento e obscuro desejo sobre a representação da força viva. E tudo isso flutua nos meus sentidos, e então sorrio e prossigo sonhando mundo afora."

Os Sofrimentos do Jovem Werther traz características marcantes do Romantismo: o cenário bucólico e a natureza como inspiração, a idealização da figura feminina (Lotte) e a dramaticidade exagerada em vários momentos. Há também o egocentrismo de Werther que age como se o mundo girasse em torno do seu sentimento, o que é um elemento comum no romantismo. Todas estas características mostram um personagem que vai contra o mecanicismo e a razão para agir exclusivamente de forma passional, o que reforça a importância do livro para o cenário da época. 

A Síndrome de Werther

Existem teorias que apontam o livro como uma espécie de autobiografia do próprio Goethe, já que o autor teria vivido uma paixão parecida, e, para não se matar, criou um personagem que matou-se.

Existem também fortes indicações de que o livro teria desencadeado uma série de suicídios na época de sua publicação, "inspirados" pelo suicídio do protagonista. Este fenômeno originou uma expressão chamada Síndrome de Werther, que representa o suicídio motivado por uma grande desilusão amorosa. 

É difícil não se envolver com a angústia e com o amor descritos por Werther, que narra com paixão e intensidade seus sentimentos. A linguagem do livro não é complexa, mas devido ao tom dramático e às descrições de Werther, a leitura pode se tornar um pouco mais arrastada para aqueles que não são fãs da escola do romantismo. Entretanto estas características não comprometem a leitura, e o livro é um excelente representante da literatura alemã.