Outro dia parei pra pensar em tudo que você me causou. Desde os primeiros arrepios, até as taquicardias, os descompassos, os suspiros mais intensos. Os sussurros e os bilhetinhos, as surpresas e as tristezas. Os copos de café e as madrugadas. As insônias, os sonhos bons.
Nunca pensei que seria fácil. Sempre vi a nossa relação como duas folhas de papel coladas. A gente era assim: junto. Apertado. Fixo. Eu tentava evitar o pensamento. “Uma hora talvez a gente descole, mas vou deixar pra pensar nisso depois”. E quando aconteceu, foi tudo o que eu consegui pensar. Em tudo o que você me fez.
Não tem data, prazo ou presságio que te aponte quando o fim está próximo. E não tem data pra superação chegar também. O jeito foi seguir, devagar, um dia após o outro. Parando de procurar você na lista telefônica, parando de digitar o seu nome na metade nas redes sociais. Tentando evitar olhar para as fotos na parede, pulando as músicas que eram nossas até precisar descobrir novas. Como foi que você se gravou em todas aquelas que eu amava?
Outra coisa que foi complicada: encontrar as companhias certas. Antes era fácil! Quem vou chamar para um cinema? Você. Um café? Você. Um jantar? Nós dois. Um almoço? Hmm... Você cozinha. E depois? Quem eu levaria aos meus lugares favoritos? Quem ocuparia um espaço que era seu?
Foi até engraçado ver como comecei a falar sozinho. No início, eu esquecia que você não estava por perto e esperava uma resposta. Outro dia, fui ao supermercado e comprei aquele iogurte que você tomava toda semana. Sabe que, quando eu coloquei no carrinho, fiquei sem saber se quem gostava dele era eu ou você.
Mas fico feliz que a gente soube a hora de acabar. Fiquei feliz com a sinceridade. Quer dizer, feliz não fiquei, mas um pouco menos triste, talvez. Você não me fez de idiota como todas as outras pessoas. Você não se afastou até o ponto de eu não saber o que era verdade e o que era um sonho. Você só deixou os sonhos mais difíceis, mais sem cor, sem muito sentido. Ficou tudo muito vazio.
E sobre vazio: isso foi algo que você me apresentou. Na verdade, você me apresentou muita coisa, mas com o vazio foi diferente. Você me colocou nele e me deixou lá para encontrar a saída. Nisso, você não ficou do meu lado, não me deu a mão, não se apoiou em mim.
Mas de tudo, a coisa mais importante que você fez foi aprender como seguir em frente.
E mesmo depois de errar o caminho, de tropeçar, de bater na parede, eu consegui.
No fim das contas, você se tornou o mais saudável que poderia ter sido.
Uma lembrança boa."
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