Crítica Editora Cepe

Legião Anônima, de João Paulo Parisio

00:00Universo dos Leitores

A sociedade que nos rodeia é cruel. As pessoas são egoístas, as aparências contam mais que a essência, o orgulho predomina ao perdão, as injustiças sociais vigoram e nós, que vivemos tudo isso e sentimos tudo isso, raramente fazemos algo para mudar. Raramente, mesmo! 

Quantas vezes passamos ao lado de uma pessoa precisando de ajuda e ignoramos? Quantas vezes presenciamos os colegas de classe serem excluídos por não se adequarem ao dito padrão de beleza ideal? E não apenas isso... Quantas vezes julgamos as pessoas pela opção sexual ou pela escolha da profissão? 

É sobre esses e muitos outros temas cotidianos que o escritor João Paulo Parisio discorre ao longo de cada um dos dezessete contos desse livro. Com uma delicadeza ímpar, ele parte de situações que eventualmente consideramos banais, mas inova ao utilizar uma linguagem leve e poética, extremamente rica e bem estruturada, conseguindo encantar e emocionar.
O interessante é que os personagens, mesmo aparecendo em narrativas tão curtinhas, nos conquistam de forma particular e despertam emoções intensas. Sobre esse aspecto, preciso destacar a narradora do conto Monólogo da Camélia, que ao discorrer acerca da sua profissão de prostituta, abre o coração e expõe a sua alma com uma intensidade capaz de nos deixar sem palavras.

"Lidamos com a merda do mundo, mas não nos confundimos. Somos os escaravelhos, somos flores saprófitas. Sintetizamos a escuridão. Crescemos no estrume e nosso perfume não diz nada da matéria que redimimos. Nossa dignidade está inscrita em nossa testa como a marca da besta."

É preciso destacar, também, que apesar de nos colocar diante de questões absolutamente reais, algumas histórias contém elementos fantásticos. Em O Tigre, por exemplo, nos deparamos com um tigre que atravessa uma cidade e, de repente, desaparece de forma misteriosa. Essa mistura entre a realidade e a ficção enriquece a obra e conduz à conclusão de que muitas vezes as situações se tornam complexas apenas em razão da forma como olhamos para o mundo.
Por fim, vale mencionar que os contos, mesmo sendo independentes, devem ser lidos na ordem, já que alguns, mesmo que indiretamente, se conectam entre si. Um exemplo disso é a personagem artesã de Homônimas, que também aparece no XIX, XXI.

O livro é delicioso e a leitura permite várias reflexões sobre os rumos da nossa vida, a solidão, os medos, as angústias, o preconceito e a marginalização social. Sem dúvida uma obra sólida, rica e diversificada, que merece ser lida com carinho e que vale a pena ter na estante! 


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