Quem conhece Fernando Pessoa e se deparou com o título deste post provavelmente imaginou a difícil tarefa que eu tenho por aqui: falar de um dos poemas mais famosos e apaixonantes do escritor português.
Não cabe aqui (e eu nem me sentiria segura para tanto) fazer uma análise técnica ou teórica do poema. Também não tenho a pretensão de desvendar um dos tantos eus do escritor, que se redefinia e ganhava vida através de seus pseudônimos.Resta a mim falar sobre o que vi, e senti lendo este que é um dos mais brilhantes poemas de Pessoa.
Através de seu eu Álvaro Campos, Pessoa é um observador pessimista da janela de seu quarto, de uma tabacaria, da vida. Desde os primeiros versos somos expostos à sua solidão, sua melancolia e principalmente sua abnegada insignificância. Sua vida - o nada, o vazio- é retratada com o descrédito por ele que não consegue vislumbrar um futuro com sonhos ou expectativas.
Podemos observar que o escritor transita pelas dicotomias tudo/nada, dentro/fora individual/coletivo, sonho/realidade. Estas dicotomias, acabam mostrando como tudo pode ser relativizado diante do universo.
Se por um lado a Tabacaria o conecta com a realidade, suas memórias o mostram a superficialidade de sua vida e de suas expectativas, e é difícil não nos identificarmos com o locutor em algum momento de nossas vidas.
Além de pessimistas, os versos são bastante tristes e até vazios, diante de tanta solidão. Sua análise dura da vida mostra o quão relativa pode ser a liberdade, e desenham um futuro sem grandes esperanças.
Seu ponto de vista reflexivo é filosófico, e o tempo todo o sentimos dialogar seus próprios questionamentos. Somos levados pela solidão conduzida pelo narrador, em uma análise fria e desafiadora da vida e do cotidiano.
Se você ainda não se permitiu conhecer este trabalho incrível de Fernando Pessoa, busque preferencialmente esta edição ilustrada que está sensacional. Espero que possam se apaixonar por este trabalho magnífico como eu me apaixonei.
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