Do Haruki Murakami eu só conhecia a trilogia 1Q84, que é simplesmente fascinante e me apresentou a um escritor genial, ousado e muito criativo. Foi por isso que quando eu soube do lançamento do livro Homens sem Mulheres eu me interessei de imediato, já que além do fato de que eu sempre quis ler outro livro dele, eu adoro contos.
A edição reúne sete contos independentes, que tem em comum a análise sobre os sentimentos de homens que foram deixados por suas mulheres. Com uma linguagem leve e fluida, o escritor nos coloca diante de personagens solitários, que tentam encontrar meios para recomeçar após o final dos relacionamentos.
Com situações muito diversas, que vão da morte à traição, o livro mostra que uma relação chega ao fim, mas que isso não acontece em conjunto com as lembranças, que insistem em permanecer causando dor, raiva, mágoa e até mesmo desespero.
O interessante é que as histórias, além de levantarem reflexões sobre vários sentimentos que já experimentamos, também fazem referências a vários clássicos da literatura, o que torna a obra mais rica e envolvente.
Sherazade, por exemplo, foi inspirado no livro 1001 Noites e narra a história de uma mulher que tem um amante e adora contar histórias após as relações sexuais, contudo, como precisa manter as aparências e cuidar do marido e do filho, quando chega o seu horário, ela vai embora, mesmo sem terminar as suas narrativas.
Samsa Apaixonado, por sua vez, foi inspirado no livro A Metamorfose, do Franz Kafka, e apresenta um personagem que acorda na forma de um inseto, desconhece o seu corpo e precisa aprender a viver em um mundo rodeado pela guerra, além de ter que enfrentar a dificuldade de redescobrir o seu corpo e os seus desejos.
Apesar de toda a obra ser inteligente e bela, o conto Homens sem Mulheres, que dá título ao livro e é o último da edição, é sem dúvida o mais emocionante, impactante e intenso. Anos após o fim de um relacionamento, um homem recebe a ligação do então marido da ex namorada, que informa que ela cometeu um suicídio. Angustiado com a notícia e sem entender as razões pelas quais recebeu aquele telefonema, ele começa a rever os acontecimentos da sua vida e a repensar em todas as questões daquele namoro, conferindo destaque à dor e a solidão que nunca mais o deixaram.
Sem dúvida um trabalho incrível, que recebeu uma tradução impecável e uma linda edição da Alfaguara. Uma coletânea que ressalta a capacidade do Murakami e que vale a pena ter na estante. Uma grande surpresa em 2015!
"Um dia, de repente, você vai ser um dos homens sem mulheres. Esse dia chegará, subitamente, sem nenhum aviso prévio nem sinal, sem premonição nem pressentimento, sem uma tosse que seja ou uma batida na porta. Ao virar a esquina, você vai descobrir que já está ali. Mas não poderá voltar atrás. Uma vez que virar a esquina, será o único mundo para você. Nesse mundo você estará entre os "homens sem mulheres". Em um plural infinitamente indiferente."
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