May e Libby se conheceram no colégio, no 6º ano, quando
ambas foram dispensadas da aula de Educação Física e tiveram que passar um
tempo no playground das crianças menores. O chão estava repleto de pedaços de
giz e Libby começou a demonstrar seus dotes artísticos, fazendo desenhos pelo
pátio. Nesse dia, elas criaram a Princess X, uma princesa desenhada com cabelos
azuis, coroa dourada na cabeça, vestido de mangas bufantes, All Star vermelhos
nos pés e uma espada katana na mão. As garotas decidiram criar histórias com
aquela personagem e não demorou muito para que se tornassem melhores amigas.
“May escrevia um bocado, Libby desenhava outro bocado, e aí,
lá pelo último ano do ensino fundamental, tinham criado uma biblioteca inteira
dedicada à Princess X.”
As duas meninas faziam tudo juntas e não tinham outros amigos a
não ser uma a outra, até que um dia, depois de buscar a filha na aula, a mãe de
Libby dormiu ao volante e seu carro caiu de uma ponte, sendo resgatado dois dias
depois com seu corpo. Só duas semanas depois o corpo da garota foi encontrado
na água, já completamente irreconhecível, mas com suas roupas e sua carteirinha
de estudante no bolso.
May passa os anos seguintes inconformada com a perda da
amiga, sonhando várias vezes que Libby tinha conseguido sair do carro e nadado
para a superfície, escapando da morte, mesmo porque ela não viu seu corpo, que
foi velado em um funeral com caixão fechado.
Já fazia três anos
desde essa fatalidade quando May viu pela primeira vez, na vitrine de uma loja, um
adesivo que trazia estampado o desenho da Princess X. Depois de muito buscar,
ela descobre que existe um site que traz um webcomic com a personagem, que já era considerado o
mais famoso da internet e o mais misterioso, já que ninguém sabia quem tinha
criado. May não reconhece a história nem os personagens que estão lá além da
princesa, aquele não era o enredo que ela e a amiga haviam criado. Mas ela tem
certeza que não pode ter sido outra pessoa além de Libby.
“Aquilo não era só um produto da sua imaginação maluca, não
era uma coincidência acidental com um desenho bonitinho de outra pessoa, e nem
um caso grave de nostalgia fazendo-a ver o que ela, lá no fundo, queria ver.
Era mesmo a Princess X. A Princess X dela. A Princess X de Libby. Estava lá, na
internet, e isso queria dizer que era bem real.”
A partir daí, May envolve-se em uma profunda investigação
para tentar descobrir mais sobre a história, com a expectativa de reencontrar
sua amiga, que ela passou a acreditar firmemente que ainda estava viva. Ela
conhece Trick, um vizinho que entende tudo de informática e decide ajudá-la na
pesquisa e busca pela verdade. Mal sabiam eles que correriam riscos e
enfrentariam coisas que sequer poderiam imaginar.
“Do canto do olho, ela viu Trick a observando. Ele tremia um
pouco. May estendeu a mão para tocar o braço dele, fingindo que estava muito
controlada e tentando mantê-los juntos, quando, na verdade, tudo que ela queria
era encostar em alguém para ganhar um pouco mais de confiança. A incerteza dele
a fez se sentir menos bobinha e menos como uma traidora por também ter seus
próprios medos, daquele mesmo jeito.”
Em “Ela está em todo lugar”, Cherie Priest traz uma história
juvenil repleta de mistério e suspense, onde personagens bastante inteligentes desvendam
pistas e precisam cometer atos corajosos para provar que é verdade algo que
somente eles acreditam.
A narrativa dinâmica em terceira pessoa aliada às
ilustrações que trazem trechos da história da Princess X faz com que a leitura
seja bem ágil e divertida. Por trás do enredo descontraído, a autora faz abordagens
sérias e importantes, como a darknet e
suas transações ilegais, a falta de segurança ao navegar na internet,
principalmente para os mais leigos no assunto, além da obsessão de um ser
humano que sofre por um trauma por perder um ente querido.
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