Crítica Livros

Rainhas na sombra, de María Pilar Queralt del Hierro

08:32Angélica Pina


Casamentos arranjados. Alianças políticas. Interesse em assegurar a paz e a prosperidade dos impérios. Esses eram alguns dos motivos de muitos dos matrimônios realizados até o século XIX entre os membros da monarquia. Por causa disso, era “natural” que muitos dos monarcas tivessem amantes e cortesãs por quem eram apaixonados, as chamadas “favoritas”. 

O livro Rainhas na sombra traz vinte biografias de mulheres que fizeram parte da vida de famosos monarcas, tanto como amantes quanto como amigas e conselheiras. A citação de Benjamin Franklin que vem na capa resume o teor da maioria das histórias narradas na obra: “Onde houver casamento sem amor, haverá amor sem casamento”.

A historiadora Maria Pilar Queralt del Hierro traz de forma resumida e de fácil leitura a história de mulheres que não receberam os títulos e reconhecimento que talvez mereciam, mas tiveram sua influência na vida e nas decisões dos soberanos com quem se relacionaram.

“Impunha-se, porém, a discrição, e para que o romance não passasse além dos muros do palácio construiu-se entre as residências de ambos uma ponte de madeira que permitia ao jovem rei visitar sua amante ou ser visitado por ela sem que fossem vistos. A mesma reserva o obrigou, pouco depois, a desterrar para um convento castelhano o fruto daquela paixão secreta e proibida.”
A primeira biografia é de Leonor Guzmán, nascida em 1310 e a última é de Camilla Parker, de 1947, protagonista de um dos casos mais conhecidos, por ser o mais recente.

Em algumas delas, o relacionamento extraconjugal dos monarcas era mantido em total segredo, na medida do possível. Em outras, as relações não oficiais acabavam sendo de conhecimento tanto da rainha quanto da população.  

“Se ficasse demonstrado que Catarina era estéril, o Papa poderia muito bem anular seu matrimônio. Essa possibilidade não convinha a nenhuma das mulheres do príncipe Henrique. À esposa, porque acarretaria a perda do status de futura rainha; e à amante, porque a sucessora de Catarina poderia não aceitar uma situação que lhe permitisse permanecer na corte ao lado do amado. Assim, portanto, para ambas era melhor aliar-se. Entre esposa e amante estabeleceu-se um pacto tácito que as fazia 'odiarem-se cordialmente'."

Em muitos casos, os relacionamentos com as cortesãs acabava por prejudicar politicamente países inteiros. Além disso, muitos dos poderosos homens não sabiam lidar com suas paixões e acabavam por perder a cabeça no trato de suas amantes e herdeiros.

“(...) um ano depois de iniciar sua relação com o rei já ocupava vinte quartos do apartamento real no primeiro andar, enquanto a rainha dispunha somente de onze, no segundo pavimento. O rei não poupava nada para sua favorita, que além de bela era loquaz, culta e de modos elegantes. (...) O rei não lhe negava nada. Nem a ela nem aos sete filhos que nasceram da relação. Basta dizer que um deles, por exemplo, já era coronel aos cinco anos de idade e que todos, sem exceção, foram legitimados. Privilégios, domínios, dinheiro – tudo parecia pouco para a ambiciosa amante do rei que via sistematicamente satisfeitos todos os seus caprichos.”
Para quem se interessa por História e, principalmente, por conhecer histórias que não são comumente contadas na escola quando estudamos sobre o governo dos principais monarcas, o livro é completamente fascinante e encantador. Não é uma leitura muito rápida se o leitor preferir se aprofundar em cada caso e entender exatamente o contexto no qual cada história aconteceu, mas os capítulos são curtos e a linguagem utilizada pela autora é bem didática e de fácil compreensão. Uma leitura interessante e enriquecedora!


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