Crítica
Darkside Books
The Warriors - Os Selvagens da Noite, de Sol Yurick
00:00Universo dos Leitores
Como todos sabem, The Warriors chegou às telonas no
ano de 1979, com roteiro e direção de Walter Hill, e rapidamente se transformou
em um dos maiores clássicos do cinema dos anos 70. Foi em razão do sucesso do
longa que o livro escrito por Sol Yurick e publicado no ano de 1965 ganhou
destaque e conquistou um público enorme.
Acontece que mesmo tantos anos depois, a história das gangues
que invadem as ruas e causam medo e pânico ainda é atual. Exceto por questões
de desenvolvimento da tecnologia ou facilitação da aquisição de bens e veículos
automotivos, a estrutura das gangues é a mesma: um chefe, o seu braço direito,
vários integrantes que se unem como uma família e se consideram irmãos, e uma
infinitude de inimigos.
É exatamente por isso que essa obra continua extremamente
interessante e merece ser lida com atenção e cuidado. Logo nas primeiras
páginas, em um dos textos de introdução o escritor Ferréz comentou: "Se
alguém lhe perguntar por que, em pleno século XXI, você está lendo um livro
sobre gangues, diga que, hoje mais do que nunca, somos comandados por elas,
tanto no modelo oficial como no paralelo". Acredito que ninguém
terá coragem de discordar dele, não é mesmo?
Com uma atmosfera tensa e acontecimentos descritos com tempo
certo, indicados no início de cada capítulo, a história se passa em Nova York,
em um ano incerto, e apresenta diversas gangues que brigam constantemente entre
si e que cultivam a violência e o medo, mantendo um vínculo de proximidade
entre os seus membros, que se estruturam como famílias.
Contudo, em um dado momento, Ismael, o líder da maior
gangue do local, resolve propor uma trégua nos conflitos e realizar uma reunião
com os integrantes de todas as outras gangues, com um único objetivo: fazer com
que eles se unam e passem a lutar contra os verdadeiros inimigos: a política,
os políticos, os assistentes sociais, os ricos, o sistema, e a sociedade como
um todo.
O discurso, extremamente crítico, sarcástico, inteligente e
verdadeiro causa impacto em vários dos participantes. Aqui, farei uma pausa
para mostrar partes desse discurso que, sinceramente, vale pelo livro inteiro:
"Lembrou-os sobre o Inimigo, os adultos, o mundo dos
Outros, aqueles que os humilhavam. Os tribunais e prisões, as escolas-prisões e
os lares-prisões; essas coisas os menosprezavam. Os jornais os desmereciam. As
gangues de homens adultos os ignoravam, pois nunca os envolveriam nos esquemas
criminosos. Aqueles que cobravam caro demais por tudo os humilhavam. Os
assistentes sociais que trabalhavam para fisgar seus camaradas os
desrespeitavam. Quem tinha todas as coisas boas da vida e não dividia com
ninguém - casas bacanas, televisores dignos de sonho, carros tão caros quanto
facilmente restituídos à concessionária, os decadentes, as roupas fajutas, tudo
conseguido em troca do peso sobre suas costas pelo resto da vida - essas coisas
rebaixavam."
"Agora somos todos irmãos. Não ligo para o que vocês
digam. Eles querem nos fazer pensar que somos todos diferentes, então lutamos
em gangues de negros, de brancos, de porto-riquenhos, de poloneses, de
irlandeses, de italianos, de Mau-Maus e de nazistas. Mas a mão de ferro
quebrava a cabeça de todo mundo na delegacia do mesmo jeito; e quando aquele
juiz faz pouco caso da gente e nos manda para o Reformatório, ou à prisão na
ilha Riker, ou à penitenciária, ele nos trata do mesmo jeito; eles nos tratam
como se nós, um ou todos, tivéssemos a mesma mãe e eles fodem as nossas mães, e
isso nos torna irmãos."
Porém, quando Ismael termina de falar, as gangues começam a
debater o tema e, minutos depois, já estão brigando entre si. Com isso, a
polícia é acionada e em meio ao caos, alguém atira e mata Ismael. Nesse
momento, uma gangue específica que passa a ser comandada por Hector resolve
fugir e a história ganha novos contornos: começamos a acompanhar, em detalhes,
o processo de fuga, a busca pela sobrevivência, os esconderijos, as
dificuldades e as aventuras de um grupo que só tem um objetivo: escapar da
polícia e claro, da responsabilidade pela morte de um homem que, por ser tão perigoso,
é extremamente importante.
Com um ritmo acelerado e uma linguagem envolvente, a leitura
flui muito bem e nos insere em um universo cruel, marcado pela pobreza, pela
violência, pela marginalidade, pelo machismo, pela objetificação da mulher e,
principalmente, pelo esquecimento. Enquanto nós estamos acostumados a lutar por
sonhos, os personagens dessa história lutam por algo diferente: eles lutam pela
sobrevivência, seja lá o que isso signifique. Dignidade não existe, respeito é
criado com base no medo e a prova do poder é a força, a ausência de medo e
claro, a masculinidade (que para eles é diretamente associada ao tamanho do
pênis ou à capacidade de satisfazer sexualmente uma mulher).
"O custo de entrar na gangue e tornar-se um irmão-filho
foi alto. Ele não podia abrir mão daquilo."
Não quero levantar discussões sobre o caráter de cada membro
da gangue ou sobre a possibilidade de escolhas. É preciso ler essa história com
a mente aberta e tentar retirar dela o que ela tem para mostrar: o mundo não é
um conto de fadas, a criminalidade nos rodeia, o terror está nas ruas e o medo,
infelizmente, é um sentimento constante no dia-a-dia de muitos.
A contextualização dos cenários e a estrutura dos diálogos e
da narração dos fatos é tão incrível e amarrada, que a sensação que causa é que
a história foi escrita por alguém que de fato viveu aqueles acontecimentos e
aqueles momentos. A inserção na leitura é completa.
Preparem-se para encarar um livro intenso, altamente violento
e impactante, que mostra uma realidade que muitas vezes optamos por ignorar e
que, ainda que indiretamente, contribuímos para que ela continue a
existir.
Destaques:
- Para traduzir essa história, a Darkisde Books convidou o Fábio
M. Barreto, escritor do livro Filhos do Fim do Mundo, publicado pela
Editora Leya, e que em breve será adaptado para as telas, no formato de série
de TV. O trabalho de tradução ficou impecável. Parabéns ao Fábio!
- Não deixem de ler o Prefácio escrito por Sol
Yurick. Ele fala sobre as suas experiências de vida, o contexto histórico e
social no qual ele estava inserido, o seu processo de educação, as pesquisas
realizadas ao longo da vida, as razões que o levaram a escrever The Warriors e
muito mais. Sem dúvida, ao mergulhar nas experiencias do autor esse história
fará muito mais sentido e você conseguirá compreender melhor o impacto que ela
causou no momento em que foi publicada.
O Filme:
Como eu comentei no início da resenha, o filme chegou ao
cinema no ano de 1979 e contou a direção e o roteio de Walter Hill, que
construiu cenas bem amarradas, diálogos interessantes e conseguiu conferir um
ritmo agradável ao longa.
A adaptação preservou muito bem a história original,
apresentando diferenças bem pontuais, que não descaracterizaram a narrativa em
si, mas que são essenciais para a construção de uma linguagem
cinematográfica.
Vale a pena rever e, caso ainda não conheça, vale a pena
conhecer!
*Este livro foi recebido em razão da parceria com a Darkside Books.
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1 comentários
Excelente ....
ResponderExcluirQuero achar o livro, tenho de ler essa preciosidade.
☺
Obrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...