Florbela Espanca é uma das minhas poetisas preferidas e por esta razão não consegui resistir à belíssima edição de Antologia Poética que encontrei em uma livraria de minha cidade.
Nascida em 1894, a poetisa portuguesa retratava diversos tipos de sentimentos com muita sensibilidade e paixão.
Desde o nascimento Florbela esteve sob o signo da marginalidade: a poetisa, fruto do amor de um jovem burguês e de uma empregada doméstica não obteve o reconhecimento formal da paternidade, sendo dada como filha de pai incógnito. Já adulta, Florbela seguiu seu destino e entrou no mundo das artes através da literatura.
O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém!
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém!
Porque o meu Reino fica para Além!
Porque trago no olhar os vastos céus,
E os oiros e os clarões são todos meus!
Porque Eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!
Os versos refinados e o estilo característico de Florbela ficam evidentes desde as primeiras linhas do livro. Sua escrita passional e seu toque quase biográfico fazem com que a gente se envolva e se encante com a doçura e a passionalidade presentes em todos os sonetos.
O melodrama e a intensidade dos versos de Florbela Espanca me comoveram e eu tive que me segurar pra não ler todo o livro de uma só vez, em uma tentativa de degustar seus sonetos em pequenas doses.
Em meio a um turbilhão de sentimentos, Florbela falava sobre patriotismo e especialmente sobre o amor. É impossível não se comover com suas palavras e não se emocionar com o fim trágico da intensa poetisa que suicidou-se com apenas 36 anos.
Esta edição da Martin Claret é interessante por reunir vários livros de Florbela em um só volume, e eu recomendo a todos que querem conhecer ou se encantar mais uma vez pelos versos de uma das maiores poetisas que o mundo já viu.
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...
Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
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