Antologia Poética Crítica

Antologia Poética, de Florbela Espanca

00:06Universo dos Leitores

Florbela Espanca é uma das minhas poetisas preferidas e por esta razão não consegui resistir à belíssima edição de Antologia Poética que encontrei em uma livraria de minha cidade. 

Nascida em 1894, a poetisa portuguesa retratava diversos tipos de sentimentos com muita sensibilidade e paixão.

Desde o nascimento Florbela esteve sob o signo da marginalidade: a poetisa, fruto do amor de um jovem burguês e de uma empregada doméstica não obteve o reconhecimento formal da paternidade, sendo dada como filha de pai incógnito. Já adulta, Florbela seguiu seu destino e entrou no mundo das artes através da literatura. 

O mundo quer-me mal porque ninguém 
Tem asas como eu tenho! Porque Deus 
Me fez nascer Princesa entre plebeus 
Numa torre de orgulho e de desdém! 

Porque o meu Reino fica para Além! 
Porque trago no olhar os vastos céus, 
E os oiros e os clarões são todos meus! 
Porque Eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

Mulher, filha de pai desconhecido e provinciana, Florbela seguiu à margen escrevendo em meio ao modernismo português que cultuava poetas como Fernando Pessoa mas não fazia jus ao talento e sensibilidade de Florbela . 

Os versos refinados e o estilo característico de Florbela ficam evidentes desde as primeiras linhas do livro. Sua escrita passional e seu toque quase biográfico fazem com que a gente se envolva e se encante com a doçura e a passionalidade presentes em todos os sonetos.
O melodrama e a intensidade dos versos de Florbela Espanca me comoveram e eu tive que me segurar pra não ler todo o livro de uma só vez, em uma tentativa de degustar seus sonetos em pequenas doses. 
Em meio a um turbilhão de sentimentos, Florbela falava sobre patriotismo e especialmente sobre o amor. É impossível não se comover com suas palavras e não se emocionar com o fim trágico da intensa poetisa que suicidou-se com apenas 36 anos.

Esta edição da Martin Claret é interessante por reunir vários livros de Florbela em um só volume, e eu recomendo a todos que querem conhecer ou se encantar mais uma vez pelos versos de uma das maiores poetisas que o mundo já viu. 

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida, 
Eu sou a que na vida não tem norte, 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte 
Sou a crucificada ... a dolorida ... 

Sombra de névoa ténue e esvaecida, 
E que o destino amargo, triste e forte, 
Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida! ... 

Sou aquela que passa e ninguém vê ... 
Sou a que chamam triste sem o ser ... 
Sou a que chora sem saber porquê ... 

Sou talvez a visão que Alguém sonhou, 
Alguém que veio ao mundo pra me ver 
E que nunca na vida me encontrou! 

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas" 



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