O Sol é para todos, escrito pela norte-americana Harper Lee, fez tanto, mas tanto sucesso que foi eleito como um dos mais importantes do século XX pelo Librarian Journal, e recebeu o Prêmio Pulitzer de Literatura no ano de 1961.
Devido aos intermináveis comentários sobre a narrativa, e levando em consideração o fato de que eu adoro a experiência de mergulhar em livros clássicos, aproveitei que a Record publicou uma nova edição da obra (está maravilhosa, gente) e resolvi iniciar a leitura.
A história, narrada por Jean Louise, também conhecida como Scout, gira em torno da vida da sua família na cidade fictícia de Maycomb, em Alabama. Órfã de mãe, ela mora com Jem, o seu irmão mais velho, Atticus, o seu pai, e Calpúrnia, a babá.
No local em que eles vivem, todos se conhecem por sobrenome e, de certa forma, todos controlam a vida um dos outros. É por isso que ao mesmo tempo em que se aventuram com brincadeiras e travessuras de crianças, Scout e Jem precisam encontrar meios de enfrentar os olhares e as acusações dos moradores da região, uma vez que o pai deles é um advogado honesto, que para manter a sua dignidade e lutar pelo que acredita, decide defender um negro acusado de estuprar uma garota branca.
"- Em primeiro lugar, Scout - ele disse -, se aprender um truque simples, vai se relacionar melhor com todo tipo de gente. Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela."
O interessante do livro é que todos os acontecimentos são descritos pelo olhar de uma menina de 6 anos, que tem sonhos enormes e curiosidades intermináveis, mas que mesmo tão nova se depara com uma sociedade preconceituosa, racista e cruel. A garota precisa aprender a viver, a lidar com as diferenças e com as críticas, e a controlar os seus impulsos. Vale destacar que a escritora demonstra, a todo tempo, a dicotomia entre o olhar puro de uma criança e a crueldade dos adultos.
Para a garota, é difícil entender as razões do pai e perceber que o certo para uns, pode não ser o certo para outros, e vice-versa. Enquanto se questiona sobre tudo isso, o seu pai, sempre atencioso e preocupado, lhe ensina várias e bonitas lições sobre a vida em sociedade, a importância de lutar pelo que se acredita e de manter a cabeça erguida mesmo diante dos piores momentos.
Sem dúvida, essa é uma história sensível, que apresenta interessantes críticas sociais e que aborda assuntos até hoje muito delicados, o que faz com que ela se mantenha atual e impactante, mesmo tantos anos depois de escrita.
Contudo, mesmo reconhecendo todas essas qualidades, preciso dizer que a narrativa excessivamente detalhista e a descrição lenta dos fatos por vezes tornam a leitura maçante e pouco envolvente. Entendo que as explicações acerca do cotidiano das crianças são importantes para nos inserir no cenário da história e demonstrar o amadurecimento de cada uma delas em razão de tudo que precisaram vivenciar, contudo, em alguns momentos as situações são monótonas demais e parecem não caminhar para lugar nenhum.
"Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes de começar - prosseguiu Atticus. - E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo. Você raramente vai vencer, mas às vezes vai conseguir. A sra. Dubose venceu, com os seus quarenta e cinco quilos. De acordo com o que ela acreditava, morreu sem estar presa a nada nem a ninguém. Foi a pessoa mais corajosa que já conheci."
O que fez a história valer a pena e me motiva a continuar a leitura mesmo quando nada faz sentido, é Atticus. Com a sua visão humanitária, pura e honesta da vida e do mundo, ele me conquistou e, diversas vezes, conseguiu me emocionar e me fazer refletir. Durante as cenas do julgamento do negro, ele se mostra inteligente, perspicaz, ágil e, principalmente, sincero. O seu discurso final, sinceramente, vale pelo livro inteiro.
"Os senhores sabem a verdade: alguns negros mentem, alguns negros são imorais, alguns negros não merecem a confiança de ficar perto das mulheres, sejam elas brancas ou negras. Mas essa verdade se aplica à raça humana, sem distinção. Não existe ninguém nesse tribunal que nunca tenha mentido, que nunca tenha feito algo imoral, não existe um homem vivo que nunca tenha olhado para uma mulher com desejo."
Eu reconheço os méritos do livro, a sua importância (principalmente se considerarmos o ano de publicação e o contexto histórico em si) e os seus encantos. Mas preciso dizer que que história, mesmo tendo me conquistado em alguns momentos, não se tornou inesquecível e não me marcou de forma especial como fez com tantos outros leitores.
Posso dizer que ao constatar isso eu me lembrei de uma grande verdade: os livros são mágicos exatamente pela capacidade que eles possuem de tocar cada leitor de uma forma particular.
DICA:
O livro foi adaptado para o cinema no ano e 1963. Em preto e branco, com ótimo elenco e um roteiro que capta bem a mensagem do livro, preservando na íntegra alguns diálogos, o filme é uma ótima opção para os que gostam da obra ou para aqueles que tem vontade de saber mais sobre ela.
Para os assinantes do Netflix, o filme está lá entre as opções... Aproveitem! :)
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