Lakshmi é uma indiana que se mudou para os Estados Unidos há
5 anos, depois de se casar “por obrigação” com Adit Patil.
“Idiota” é a palavra
que Adit mais usa para tratar a esposa, que não sabe falar bem o idioma de onde
moram, é proibida de ter qualquer contato com a família que está na Índia e
trabalha todos os dias na loja e no restaurante do marido sem receber um
centavo. Por não suportar mais a solidão em que vive, Lakshmi decide se matar,
mas é levada a tempo ao hospital depois de ingerir grande quantidade de
remédios.
Maggie é a psicanalista que tenta entender o que levou a
imigrante a tentar o suicídio. O primeiro diálogo entre as duas no hospital é
bastante tenso. Lakshmi não está disposta a colaborar. Porém, Maggie consegue
mostrar que elas têm algumas coisas em comum, por exemplo, o fato de o marido
da psicóloga também ser indiano.
Com o passar dos dias, Maggie consegue
conquistar um pouco da confiança da indiana e, mesmo sendo especialista em
manter-se emocionalmente distante dos problemas de seus pacientes, ela começa a
permitir sem querer que Lakshmi ultrapasse os limites profissionais e entre em
sua vida.
Depois da alta hospitalar, Lakshmi continua o tratamento com
a terapeuta em seu consultório particular, que fica nos fundos de sua casa. Por
mais que Maggie tente evitar, ela está cada dia mais envolvida com a história
de sua paciente, que a considera uma amiga e não sua psicóloga.
“Quando Lakshmi entrou no Subaru, Maggie se lembrou do que a
mulher havia lhe dito no hospital quando ela tentou lhe explicar o conceito de
terapia. Ah, Lakshmi dissera, acho que estamos tentando construir uma amizade.
Ou algo assim. Maggie olhou para a mulher ao seu lado. Talvez a amizade fosse a
melhor terapia que poderia oferecer a Lakshmi, ela pensou.”
Lakshmi conta segredos que Maggie tem dificuldade de
digerir. Mesmo porque ela também tem segredos com os quais não está conseguindo
lidar. Em várias de suas sessões, a jovem conta histórias de quando ainda
estava na Índia e precisou cuidar da mãe doente, da irmã mais nova, do pai que
ficou viúvo, além de dar conta do trabalho na fazenda.
“Tomar conta de Mithai faz meu coração feliz. Eu também tomo
conta de Ma, mas ela com tanta dor
que perdeu sua felicidade. Não importa o quanto eu faço por ela. Mas Mithai me
faz completa. Posso ver ele crescer, ficar com menos medo, como se casa dele
fosse a gente agora. Mithai me ensina grande lição: é mais fácil amar alguém se
você pode fazer ele feliz.”
A terapeuta, com seus conselhos e sua amizade, consegue
mudar a vida da indiana em muitos sentidos e transformar a mentalidade de sua
paciente em vários aspectos, mas algumas atitudes de Lakshmi realmente estão
acima de qualquer compreensão para Maggie.
“Mas é tão em paz sentar aqui. Pela primeira vez desde que
eu cheguei na América eu não estou com marido ou Rekha ou no restaurante ou na
loja ou no carro ou no apartamento. Estou completamente sozinha, e eu amo isso.
Nada parece ser emprestado. O que será que eu quero dizer com isso? Quando eu
com marido, eu vejo tudo com os olhos dele – lua, sol, céu, árvore,
estacionamento, loja, tudo.”
A hora da história traz uma narrativa encantadora, tratando
problemas emocionais profundos e relações que precisam de cura, bem como outras
que precisam ser construídas. Ensina sobre amizade, sobre culpa, sobre perdão e
sobre felicidade. Traz personagens tão vivos e reais que é impossível não se
emocionar durante a leitura.
Os capítulos são intercalados, alguns narrados em primeira
pessoa por Lakshmi e outros em terceira pessoa trazendo a vida de Maggie.
A
narrativa da indiana é escrita cheia de erros de concordância e nas conjugações
dos verbos, pois Lakshmi tem dificuldade com o idioma. Confesso que isso
dificultou que minha leitura fluísse no início, pois sou extremamente
perfeccionista nesse sentido e não conseguia simplesmente ignorar os erros. O
tom inocente e sofrido da personagem é comovente, a autora consegue fazer com
que a gente sinta o que Lakshmi sente e sofra com ela.
Maggie também confunde
os sentimentos do leitor, pois em algumas situações eu fiquei inclinada a
concordar com suas atitudes erradas e em outros momentos eu a julguei e
condenei. Até mesmo Adit e Sudhir, os maridos das protagonistas, me fizeram
mudar de opinião algumas vezes. Para mim, isso quer dizer que os personagens
foram muito bem construídos e a autora conseguiu atingir em cheio seus
objetivos.
O livro é sensível e profundo, emociona e ensina, faz refletir e sentir, recomendo a leitura!
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