Como o prĂ³prio tĂtulo anuncia, a narrativa gira em torno dos acontecimentos da vida de Stoner, um sujeito simples, que nasceu no campo e foi para a cidade grande quando o seu pai decidiu que ele deveria se formar em uma universidade. Acontece que durante o curso, o nosso protagonista descobre a sua paixĂ£o pela literatura e constata que a ele sĂ³ resta um caminho: se tornar professor!
"O amor pela literatura, pela lĂngua, pelo mistĂ©rio da mente e do coraĂ§Ă£o, mostrando-se nas pequenas, estranhas e inesperadas combinações de letras e palavras, nos caracteres negros e frios impressos sobre o papel, e aquele amor que escondera como se fosse ilĂcito e perigoso começou a expressar-se, hesitantemente a princĂpio, depois ousadamente, e por fim orgulhosamente."
Vale destacar que ao longo da narrativa vĂ¡rios personagens interessantes e complexos aparecem. Todos possuem suas peculiaridades, seus erros e seus acertos, se tornando peças essenciais na histĂ³ria. Claro que um grande destaque Ă© dado para Edith, a mulher de Stoner, que ao mesmo tempo em que foi treinada para ser uma mulher perfeita e uma dona de casa impecĂ¡vel, Ă© fria, distante e fechada em um vazio existencial que incomoda e desperta raiva e pena ao mesmo tempo.
É impossĂvel ler essas pĂ¡ginas sem refletir sobre a nossa prĂ³pria vida e o peso das nossas escolhas. Muitas vezes um "sim" muda tudo, mas um "nĂ£o" pode mudar mais ainda. Tem momentos em que enfrentar pode ser necessĂ¡rio, mas em outros, se calar Ă© a melhor saĂda. Quando e como decidir, sĂ³ vivendo, sĂ³ sentindo, sĂ³ arriscando. NĂ£o sei dizer se Stoner sempre agiu da melhor maneira ou se acertou em todas as decisões que tomou. Mas posso dizer que ele conseguiu representar todos nĂ³s, seres humanos imperfeitos, incompletos, doloridos e marcados por uma histĂ³ria, uma trajetĂ³ria, algumas lembranças e muitas expectativas.
"Estava com 42 anos, e nada via pela frente que quisesse desfrutar e pouco para trĂ¡s que valesse lembrar."
É preciso esclarecer que ao mesmo tempo em que Ă© uma pessoa apĂ¡tica, que aceita o que o destino lhe impõe e poucas vezes age com coragem, Stoner carrega algo que remete a uma rasa esperança. Algumas passagens deixam claro que assim como todos nĂ³s, no fundo ele deseja algo a mais, acredita em algo alĂ©m, sĂ³ nĂ£o sabe como fazer para mudar. E Ă© a simplicidade desse protagonista, que se revela de forma tĂ£o Ăntima ao leitor, que prende, emociona, confere um tom melancĂ³lico e reflexivo a essa obra que Ă© simplesmente de tirar o fĂ´lego.A narrativa Ă© fluida, envolvente e em cada capĂtulo uma fase da vida do protagonista Ă© apresentada. O escritor nos coloca diante de uma histĂ³ria tĂ£o crĂvel, que parece real. Como disse Ian McEwan, e eu nĂ£o me permito discordar, esse livro Ă© "Uma descoberta maravilhosa para todos os amantes da literatura".
"Mas Willian Stoner conhecia a vida de uma maneira que poucos de seus colegas mais jovens podiam compreender. No seu Ăntimo, no fundo de sua memĂ³ria, havia o conhecimento das privações, da fome, da resistĂªncia e da dor. Embora ele raramente pensasse nos primeiros anos de sua vida na fazenda em Booneville, sempre mantinha a consciĂªncia do prĂ³prio sangue e da herança de seus ancestrais, cujas vidas foram humildes, duras e estoicas, e cuja Ă©tica lhe impunha oferecer ao mundo cruel rostos inexpressivos, duros e impenetrĂ¡veis."
Mergulhem de cabeça. É possĂvel que assim como eu, vocĂªs terminem a leitura sem saber o que dizer! Confesso que quando cheguei no capĂtulo Quinze guardei o livro por duas semanas, porque eu simplesmente nĂ£o queria que ele terminasse. Eu simplesmente nĂ£o estava preparada para aceitar o "fim".
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