“Que importa o dinheiro, comparado com a satisfação que um homem pode ter?”
Seara Vermelha é um dos romances brasileiros mais divulgados no exterior, foi traduzido para 26 línguas.
Jorge Amado narra a saga (vida e morte) dos retirantes nordestinos personificados pela família de Jerônimo e Juncundina. A triste riqueza de detalhes sobre a vida desta família que tem que trabalhar em uma fazenda onde viviam como meeiros dando até 4 dias de trabalho para os donos das terras, tendo que comprar apenas no armazém da propriedade que é abastecido com o produto que eles mesmos colhem da terra a preços muito maiores do que o que se encontra nas redondezas (hoje em dia isto é considerado uma condição análoga a de escravo) dão o tom de toda a obra.
Em um determinado dia a fazenda é vendida e todos os colonos são “dispensados”, daí em diante a narrativa foca na família protagonista que decide ir “para o sul”, especificamente São Paulo, para tentar uma vida melhor. Antes mesmo deste dia três filhos do casal já haviam deixado o lar, cada um por um caminho (um vira cangaceiro, outro policial militar e outro entra para o exercito) as historias destes três personagens são contadas ao longo do romance, os retirantes saem a pé até uma cidade costeira para depois pegarem um trem até São Paulo. No caminho eles penam bastante enfrentando a morte entre a escassez de água e comida.
A historia procura passar uma ideia de superação em meio às dificuldades, retratando uma das fases mais combativas do autor que na época era deputado pelo Partido Comunista.
Confesso que ficou um gosto meio amargo na garganta ao final da leitura pois se a ideia era passar a possibilidade de superar os problemas ao chegar ao final do livro temos só uma esperança de que o futuro será melhor, talvez por que o ideário do autor, nesta fase de sua vida, era justamente este de engajamento na “luta de classes” para buscar um futuro melhor, uma utopia onde importaria tanto mais o caminho da construção do que o ponto de chegada.
A frase que começa este texto, colocada ali em cima solta e entre aspas, foi retirada do inicio do romance no intermédio entre as preparações para um festa de casamento e a noticia do despejo dos meeiros da fazenda e, apesar de se dar antes da terrível cena do recebimento da noticia de que eles seriam colocados pra fora das terras em que trabalhavam, retrata a força dos personagens, não que eles gostem de ser pobres mas que eles conseguem ver o lado da vida que realmente importa, o lado de estar vivo.
Um livro muito bom, forte e instrutivo que deve ser lido de forma a desfrutar gostosa e vagarosamente, como se embalado estivesse pelo falar baiano do autor. Ou por uma música de Dorival Caymmi, o que seria a mesma coisa.
Boa degustação.
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