Capitães de Areia Cia das Letras

Capitães de Areia, de Jorge Amado

00:00Universo dos Leitores

Capitães da Areia é um clássico marcante de Jorge Amado. Narrativa forte, seca em sua verossimilhança, brilhante como uma porta para um mundo de descobertas da marginalidade na Bahia da década de 40. 

Li a obra há uns anos atrás quando ainda era uma criança e estava na escola. Me marcou muito e já nessa época, gostei muito da narrativa. Fiz a releitura recentemente para fazer essa resenha no nosso especial do autor e acho que com a maturidade dos meus agora 26 anos pude aproveitar ainda mais a obra. 

O livro conta a história do grupo conhecido como Capitães da Areia, composto por crianças de ruas, marcadas por maus tratos, fome, violência e abandono. Tratam-se de crianças que se uniram para praticar furtos para sobreviver e se alimentar. 
Porém, o grupo é bem mais que isso. Capitães da Areia ficaram conhecidos em toda Bahia da década de 30 e 40 por terem sido temidos por muitos e admirados por outros pela coragem e inteligência.

As crianças se unem de uma forma extremamente leal umas às outras, sendo, inclusive, a única coisa que os capitães da areia respeitavam – o código que regia o grupo. Tendo apenas um velho trapiche abandonado para morar, trapos para vestir e a incerteza de poder se alimentar a cada dia, esses meninos criam laços de amizade e companheirismo e dividem uma infância roubada, na qual eles vivem como verdadeiros adultos, precisando se virar como homens fortes para sobreviver.

Ao longo da história nos deparamos com as aventuras dos capitães da areia, suas lutas, seus medos, angústias, sonhos e traumas. A marginalidade é marcada por histórias tristes e extremamente reais, pela violência, pela frieza humana, preconceitos e disparidades. 
Impossível ler a narrativa e não torcer pelos personagens, Pedro Bala, Sem pernas, Gato, Volta Seca, Professor e Pirulito são alguns dos integrantes e são crianças que foram descartadas pela sociedade e que representam perfeitamente a realidade dos meninos de rua que ainda hoje estão presentes no nosso país.

Considero Capitães da Areia leitura obrigatória para todos que vivem no Brasil, mas principalmente para os que defendem a violência para resolver o problema da violência e a diminuição da maioridade penal.

Uma história linda, envolvente e ao mesmo tempo árida, fria e seca porque toca na ferida, abre os olhos para aquilo que a gente evita ver, faz com que a gente se coloque, pelo menos por alguns segundos, no lugar daquelas crianças e aí quem sabe, a gente consiga entender que crianças são apenas crianças, que o amor é o melhor caminho e que, infelizmente, estamos ainda muito longe de chegar a um lugar onde não exista tanto sofrimento e abandono.

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