Integrando a Coleção Clássicos Zahar, o livro, que foi publicado no ano de 1890, compõe a série de 20 livros do escritor francês Émile Zola, que foi intitulada como "Os Rougon-Macquart: História natural e social de uma família sob o Segundo Império". Apesar de fazer parte de um projeto amplo, a leitura pode ser feita de forma independente e é completamente crítica, envolvente e brilhante.
A história conta a trajetória do casal Roubaud e Séverine. Roubaud era subchefe de uma estação ferroviária e a sua vida, que tinha um ritmo normal, mudou completamente no dia em que ele descobriu um segredo importante sobre o passado da sua esposa. Transtornado e sem intenção nenhuma de deixar a informação de lado, ele acabou tomando uma decisão que mudou completamente a sua vida e claro, a vida da sua mulher: ele cometeu um assassinato.
"Ela teve medo, baixou o rosto para se proteger debaixo do braço dele, adivinhando o soco que viria. Um detalhe mínimo, ridículo, insignificante, aquele de ter esquecido a mentira a respeito do anel, acaba de trazer à tona a evidência, em poucas palavras trocadas. E um só minuto fora suficiente."
Foi exatamente esse fato que fez com que ele e a esposa se aproximassem ainda mais do maquinista Jacques Lantier, um homem solitário e apaixonado pela Lison, a locomotiva conduzia. Além de ter uma relação pessoal com a locomotiva, tratando-a como um ser humano especial, capaz de lhe causar sentimentos e desejos, Jacques era constantemente perturbado por uma obsessão perigosa: matar todas as mulheres com as quais ele se relacionava sexualmente.
"Mas havia outro medo, inconfesso, no fundo de tanta hesitação, o próprio medo do sangue. Em Jacques, sempre e com relação a todo tipo de coisa, o medo vinha junto com o desejo. (...)"
A união desses dois cenários que conduziu o livro a um emaranhado de intrigas, segredos e suspenses, deixando clara a intenção do escritor de criticar os seres humanos e demonstrar o quanto eles são complexos e, muitas vezes, auto destrutivos. Não só os protagonistas, mas todos os personagens secundários (e são vários) são bem caracterizados e possuem especificidades intrigantes e interessantes.
"Será que, nas sombrias profundezas da besta humana, possuir e matar se equivalem?"
Além da caracterização perfeita dos personagens, existe uma descrição pormenorizada da locomotiva e das estações ferroviárias, o que foi feito propositalmente pelo autor, que buscou demonstrar que no ponto em que a sociedade estava, as máquinas já progrediam independentemente dos seres humanos.
Este livro é uma verdadeira obra-prima da literatura. A linguagem é envolvente e inteligente, permitindo que o leitor se apaixone aos poucos por todos os personagens. Além disso, o final é surpreendente, não deixa nenhuma ponta solta e nos causa um choque de realidade, afinal, a conclusão do autor, mesmo tendo sido escrita há tantos anos, representa exatamente o que estamos vivando atualmente.
Na Apresentação brilhante feita pelo tradutor Jorge Bastos, ele fez um comentário que aumentou a minha curiosidade pela leitura e que, quando terminei o livro, tive certeza da veracidade: "Zola foi quem apontou na literatura a alienação dos homens, sua desumanização social, a presença esmagadora da indústria, a perda dos valores e do sentido das coisas, tão constantes nos debates e nas artes das décadas seguintes, inclusive no cinema, que então despontava."
Recomendado! Grande chance de integrar a lista de melhores leituras de 2015 (e olha que o ano nem começou)...
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1 comentários
Olá, tudo bem??? Eu estou interessado nessa edição de "A Besta Humana" teria interesse em vender seu exemplar?????
ResponderExcluirObrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...