Agnes Editora Nemo

O Mundo de Aisha, de Ugo Bertotti

00:13Universo dos Leitores


Em todo mundo a discussão sobre igualdade de gênero está cada vez mais em pauta, em prol da liberdade  de tratamento entre homens e mulheres em todos os âmbitos da sociedade. 

Enquanto em muitos países esta luta é cada vez mais intensa, em determinadas culturas sequer é permitido o debate. Países onde o patriarcado domina, oprime, segrega e sufoca mulheres que se submetem as mais inimagináveis formas de violência física e psicológica, como acontece no Iêmen, país que ocupa o sudoeste da península arábica e tem o Islã como religião. 

Em O Mundo de Aisha, Ugo Bertotti adaptou o fotodocumentário de Agnes Montanari para contar a história de Aisha, Sabiha, Hamedda, Houssen e muitas outras mulheres iemenitas. 

Submissas a uma cultura opressora, as mulheres iemenitas são obrigadas a esconder muito além do rosto e do corpo. Sob o Niqab (véu que cobre o rosto) elas deixam à mostra apenas os olhos. A voz, a liberdade de expressão, a vontade, o prazer e os direitos são sufocados desde a infância e adolescência, já que após a primeira menstruação elas são obrigadas a se casar com homens desconhecidos que chegam a ter até 4 vezes sua idade. Crianças que desde sempre tem como única função servir aos homens e obedecê-los em tudo.


Após o casamento são tratadas como propriedade sendo obrigadas a executar tarefas domésticas, gerar filhos, e a obedecer as ordens do marido, além de usar o Niqab na maioria dos casos. Mulheres como Sabiha, que gostava de sentir o vento no rosto e foi baleada pelo próprio marido ao se debruçar sem o véu pela janela, ou como Aisha e Ghada, que sonhavam em estudar e trabalhar.

O autor retrata ainda a história de Hamedda, que enfrentou as dificuldades de criar seus filhos sem o apoio do marido em uma sociedade em que as mulheres são totalmente dependentes. Hamedda foi discriminada por não usar o Niqab (que dificultava seu trabalho nas ruas) e por administrar sozinha seu próprio restaurante. A ausência de uma figura masculina a seu lado representava uma ameaça para a sociedade, que reagia hostilizando Hamedda sempre que ela saía as ruas, assim como faziam com seus filhos.

Tantas e tantas histórias que não conhecemos, ocultadas pela cultura iemenita, pela religião islâmica e por costumes quase primitivos. Em uma passagem o autor afirma:

"Nas ruas, as mulheres são como manchas negras, que se movem flutuando. De vez em quando um rápido múrmurio, um preço que se pergunta, depois se afastam deslizando...A partir de certa idade seus corpos se preparam para desaparecer. E sob aqueles véus negros parece não haver mais mulheres de carne e osso. Parecem pássaros negros, inamistosos, inabordáveis." 

Como destaca o autor inicialmente, as mulheres iemenitas são quase invisíveis, como manchas negras que se locomovem pelas ruas. Mas apenas parecem invisíveis. Por baixo do Niqab essas mulheres carregam consigo histórias de sofrimentos, sonhos, lutas, violência, dor e esperança de um futuro melhor, principalmente para suas filhas, que tendem a ter o mesmo destino.


Confesso, que sempre enxerguei o véu que cobre as mulheres islâmicas de forma muito negativa. Mas ao conhecer um pouco mais a respeito dessas mulheres e da cultura iemenita pude compreender que seu significado vai muito além da dominação da sociedade machista: se para os homens o véu é um símbolo de recato e de submissão, para muitas mulheres, ironicamente, ele representa a única forma liberdade. Explico: muitas iemenitas fazem uso do véu para se sentirem livres, saírem livremente às ruas, trabalhar, estudar, etc. Fazendo uso do véu elas se sentem um pouco mais livres e seguras para saírem de casa sem serem atacadas, condenadas, violentadas por uma sociedade ainda tão distante da igualdade.

O Mundo de Aisha me proporcionou uma incrível imersão no universo da mulher islâmica iemenita, mostrando suas dificuldades, seus sonhos, desejos e também suas tristezas, representando acima de tudo uma ótima oportunidade para conhecer um pouco desta cultura ainda tão desconhecida para nós, ocidentais.

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