A Ignorância Cia das Letras

A Ignorância, de Milan Kundera

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Conheci Milan Kundera quando li A Insustentável Leveza do Ser, um livro intenso, crítico, sensual e marcante, que apresenta dois casais que vivem em constante oscilação entre o peso e a leveza. As reflexões colocadas pelo autor ao longo da história me fizeram pensar muito sobre os relacionamentos amorosos e sobre os vínculos de amizade e carinho. Foi fácil elevar a obra à categoria de “favorita” na minha estante.

Em seguida me aventurei com Risíveis Amores e encontrei vários contos sobre amor, sexo e cotidiano. Novamente me encantei com a capacidade que ele tem de utilizar palavras simples e levantar questionamentos tão interessantes e filosóficos. 

Foi por isso que resolvi conhecer o livro A Ignorância, recentemente publicado pela Editora Companhia das Letras. Com uma abordagem bem diferente das que eu conhecia, mas mantendo o estilo próprio, nessa obra Kundera fala sobre a nostalgia, sentimento que ele define como “o sofrimento causado pelo desejo irrealizado de retornar.”

A história se passa no período da Guerra Fria e os protagonistas, Josef e Irena, que estavam exilados, ele na Dinamarca e ela na França, se encontram de forma inesperada no aeroporto de Paris, no momento em que estavam retornando para a cidade natal: Praga. Acontece que depois de 20 anos fora do lugar, as lembranças do passado não eram muito precisas, as relações com os moradores do local e até a ideia de pátria estavam perdidas. O que era para ser um retorno se transforma em um conflito emocional e intenso para os protagonistas, que chegam à cidade se sentindo estrangeiros e são tratados normalmente. Os moradores não demonstram interesse pelas suas histórias ou experiências, da mesma forma que eles não se sentem adaptados aos costumes e comportamentos daquele povo. 

"(...) Se um exilado, depois de vinte anos no estrangeiro, voltasse ao seu país natal ainda com cem anos de vida pela frente, certamente não sentiria a emoção de um Grande Retorno, é provável que para ele não se trataria absolutamente de um retorno, mas apenas de um dos muitos desvios no longo percurso da sua existência.
Pois a própria noção de pátria, no sentido nobre e sentimental da palavra, está ligada à brevidade relativa de nossa vida, que nos dá muito pouco tempo para que nos afeiçoemos a outros país, a outros países, a outras línguas."
Enquanto escreve sobre os sentimentos dos personagens, Kundera deixa claro o quanto somos ignorantes em relação ao que perdemos, ao que deixamos para trás e ao que nos entristece. Com a linguagem filosófica, mas simples e direta, ele fala sobre saudade, ausência, angústia, lembranças, passado, presente e futuro, e também demonstra o quanto as repercussões políticas podem intervir na individualidade de cada um. 

Vale ressaltar que além de todo o contexto histórico de um período, existe um romance envolvendo os protagonistas, o que contribui para tornar a narrativa mais intensa e envolvente. 

Sem dúvida uma leitura espetacular!
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