Depressão
Editora WMF Martins Fontes
Parafusos: Mania, Depressão, Michelângelo e Eu, de Ellen Forney
00:13Kellen Pavão
Parafusos: Mania, Depressão, Michelângelo e Eu é uma autobiografia em quadrinhos de Ellen Forney, publicada no Brasil pela WMF Martins Fontes.
Existe uma grande chance de você, que lê esta resenha agora, já ter chamado algum parente ou amigo de bipolar. Mas você sabe o que significa o Transtorno Bipolar?
Esta expressão que é cada vez mais banalizada muitas vezes é atribuída a uma mudança comportamental inesperada, entretanto o transtorno vai muito além de uma simples mudança de humor. Resumindo bastante, pode-se dizer que o transtorno bipolar é caracterizado pela mania, período em que o paciente adota comportamentos eufóricos, compulsivos, imprevisíveis e acelerados; seguido por uma intensa depressão.
No livro Ellen conta como se tornou sua vida após ser diagnosticada com transtorno bipolar. Temendo que a medicação de tratamento para mania e a depressão afetassem seu processo criativo, Ellen dá início a uma luta que dura anos à procura de um equilíbrio que permitisse o convívio com seu transtorno, a preservação da qualidade de suas produções artísticas e o controle de suas relações interpessoais.
Foram altos e baixos ao longo do caminho. Se em determinadas fases da vida Ellen se sentia empolgada ao ponto de deixar amigos e familiares esgotados com toda sua energia, em outros momentos ela se afundava em uma profunda depressão que mal a permitia se mover.
A história parte da fase maníaca de Ellen: impulsiva, exagerada, intensa e absurdamente feliz na maior parte do tempo, possui uma energia que parece não ter fim e que impulsiona suas criações, estimula seus relacionamentos e intensifica suas experiências. Posteriormente a mania cede à bipolaridade e da lugar a uma depressão que compromete a saúde, a vida pessoal e profissional de Ellen.
Receosa quanto aos efeitos colaterais dos remédios, a quadrinista busca refúgio na experiência de outros artistas (pintores, escritores e músicos) de diversas áreas que sofreram com o mesmo transtorno.
Amigos, amores, família e terapeuta também tem um papel especial no difícil tratamento de Ellen, que experimenta diversos medicamentos buscando descobrir qual é a medicação adequada. No entanto, considero sua relação com a terapeuta uma das mais reveladoras à história, já que através dela podemos entrar na intimidade de Ellen que se abre ao longo de inúmeras sessões de tratamento.
Assim como o traço expressivo, o humor ácido de Ellen está presente em toda a narrativa mesmo nos momentos mais dramáticos. A autobiografia é intensa, emocionante e bastante honesta, já que a quadrinista expõe com muita naturalidade sua fragilidade inicial em relação ao seu transtorno. O medo do desconhecido, da reação das pessoas, os estigmas da bipolaridade, a banalização do bipolaridade e a autocrítica de Ellen fazem com que ela busque entender o seu transtorno para melhor conviver com a mania e a depressão, sem que estas afetem sua personalidade naturalmente excêntrica e seu potencial artístico.
Indico Parafusos aos fãs de seu trabalho e para os curiosos em relação ao Transtorno Bipolar.
Indico Parafusos aos fãs de seu trabalho e para os curiosos em relação ao Transtorno Bipolar.
Sobre a autora
Ellen Forney nasceu em 1968, nos Estados Unidos, e é quadrinista desde sempre. Foi indicada para o Prêmio Eisner pelas HQs I Love Led Zeppelin e Monkey Food: The Complete "I Was Seven in '75" Collection. Dá cursos de criação de quadrinhos no Cornish College of the Arts, em Seattle, estado de Washington, Estados Unidos.
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