O título, por si só, já diz muito sobre a obra. Kaputt é uma palavra alemã que significa “quebrado, acabado, destroçado, deteriorado”. E era exatamente assim que estava o mundo naquela época. Era assim que estavam, também, os seres humanos. 

O trabalho de Curzio, mesmo com toda a sua crueldade, sempre inspirou Eloar Guazelli, que agora realizou o sonho de adaptá-la para os quadrinhos. Em uma entrevista concedida para a WMF Martins Fontes, o quadrinista disse que Kaputt é uma obra necessária “nessa era cínica, era do dinheiro como valor maior, da guerra eterna”.

A adaptação reúne alguns contos do livro e conta com ilustrações fortes e tocantes, que abordam a dor, a violência e o sofrimento de uma forma chocante e, ao mesmo tempo, emocionante. Os desenhos não possuem contornos e causam uma sensação sombria, o que combina perfeitamente com os acontecimentos descritos. 

Inspirado na divisão feita pelo autor original, que separou os contos por nomes de animais, Guazelli optou por dividir a HQ utilizando um conto de cada animal. Você vai encontrar cavalos, pássaros, renas, cães, ratos e moscas. Essa metáfora é interessante uma vez que reflete a forma como os seres humanos eram elevados à condição de animais irracionais em um período em que só a guerra importava. 

E diante disso, me restou um questionamento: não é assim até hoje? Ler essa HQ me fez refletir sobre a crueldade e as injustiças do mundo. Elas não precisam de guerra para acontecer. Elas acontecem o tempo todo, estão diante dos nossos olhos, mas insistimos em ignorá-las.

Uma HQ crítica, inteligente e muito bem estruturada. Vale a pena conhecer!