Aos 10 anos, Fanny Price é levada
para morar com seus tios, a família Bertram, pois seus pais não tem condição
financeira para cuidar dos nove filhos. Ela se sente inferior às primas Maria e
Julia, que são educadas com os melhores professores e são verdadeiras moças
nobres e de classe. O primo mais velho, Tom, tem pouco ou quase nenhum contato
com a garota, mas o primo Edmund a acolhe e dispõe-se a ensinar tudo que puder.
Fanny cresce recebendo a mesma educação, mas o tempo todo é lembrada de que não
é igual aos outros membros da família, especialmente por sua outra tia, Mrs.
Norris, que está sempre por perto e trata a sobrinha com muito desprezo.
“A amizade de Edmund nunca lhe faltou; sua ida de Eton para Oxford não
mudou sua boa índole: ao contrário, só proporcionou oportunidades mais
frequentes de demonstrá-la. Sem se gabar de fazer mais que os outros e sem medo
de fazer demais, ele estava sempre atento aos interesses e aos sentimentos da prima,
esforçando-se para que todos reconhecessem suas qualidades e para que ela mesma
conseguisse superar a timidez que as impedia de ser mais evidentes, dando-lhe
conselhos, confortando-a e encorajando-a. Seu apoio não era suficiente para
eliminar o atraso de Fanny em relação aos primos, porém suas atenções eram
cruciais para ajudá-la a progredir intelectualmente e ampliar-lhe os prazeres.”
A vida em Mansfield agita-se
quando os irmãos Henry e Mary Crawford chegam à vizinhança. Henry é charmoso e
galanteador, fazendo com que Julia e Maria fiquem bastante interessadas, mesmo
a segunda já estando noiva de outro. Mary, por sua vez, cativa todas as
atenções do jovem Edmund e deixa bem claro que deseja casar-se com ele, apesar
de discordar quanto a suas pretensões profissionais.
Fanny, tímida e recatada,
sempre nos bastidores, acaba sendo confidente tanto de Mary, que a considera
uma amiga, quanto de Edmund, que sempre foi a pessoa mais próxima dela.
Secretamente, a senhorita Price sente ciúmes do primo, que é a pessoa que ela
mais ama na vida, mas sua discrição jamais deixa isso transparecer.
Eis que
Henry Crawford desiste dos galanteios com as primas e declara-se apaixonado por
Fanny. Todos exultam com a ideia de um casamento vantajoso para a menina,
apenas ela não consegue enxergar todas as qualidades que os outros veem no
senhor Crawford.
Maria casa-se com o senhor Rushworth, seu então noivo, e leva
sua irmã Julia com eles para a viagem de lua de mel. Dessa forma, todas as
atenções da família voltam-se para Fanny, que passou a ser mais valorizada pelo
fato de ter despertado o interesse do tão agradável senhor Crawford.
Ao negar
seu pedido de casamento, Fanny é repreendida por toda a família Bertram e
enviada para a casa de seus pais biológicos para repensar em suas decisões.
Enquanto Fanny está fora de Mansfield, uma série de acontecimentos graves abala
completamente a estrutura dos Bertram, ao mesmo tempo que a tímida garota trava
lutas intensas com seus próprios pensamentos e sentimentos.
“‘Eu acho’, Fanny começou, depois de refletir por alguns instantes, ‘que
toda mulher deveria admitir a possibilidade de um homem não ser aceito, não ser
amado por alguma mulher, por mais atraente que muitas o considerem. Ainda que
ele tenha toda a perfeição do mundo, nenhuma mulher que por acaso lhe inspire
afeição tem necessariamente de aceitá-lo. No entanto, mesmo supondo que o sr.
Crawford tenha todos os direitos que as irmãs lhe atribuem, como eu poderia
estar preparada para corresponder a seus sentimentos? Fui pega totalmente de
surpresa. Não me passou pela cabeça que a maneira como ele me tratava tivesse
algum significado especial; e não creio que eu devesse me obrigar a amá-lo, só
porque, na falta do que fazer, ele estava me dando atenção.’”
Mansfield Park é a terceira
publicação de Jane Austen, lançado em 1814. Embora eu reconheça que é uma
obra-prima da Literatura, escrita por uma das maiores romancistas de todos os
tempos, preciso dizer que a leitura não foi tão fácil para mim. O ritmo do
livro é demasiadamente lento, principalmente no início, já que a autora é
extremamente detalhista em todos os aspectos, inclusive no que diz respeito aos
personagens secundários e menos importantes.
Apeguei-me aos personagens já
depois da metade da história e aí sim consegui apreciar e entender melhor o que
estava “por trás” de cada detalhe.
Austen critica com muita classe a sociedade
britânica da época, destacando bastante a questão dos casamentos arranjados por
interesses financeiros e a pressão que todas as famílias faziam nas moças para
que conseguissem entrar num desses enlaces vantajosos.
Fanny é uma protagonista
que só ganha força e destaque depois que muito já foi contado. Por diversas vezes
ela é passiva e omissa, mas seu bom senso e prudência percebidos posteriormente
justificam sua falta de atitude anterior. Enfim, a obra tem todos os requisitos
para ser considerado o grande clássico que é!
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