Crítica Diário de classe - a verdade

Diário de classe - a verdade, de Isadora Farber

00:00Angélica Pina

Isadora, aos 13 anos, decidiu criar um diário no Facebook para expor os problemas que encontrava na escola pública que estudava, em Santa Catarina. A repercussão da página foi tão grande que ela foi convidada para contar tudo nesse livro.

Indignada com a situação precária da infraestrutura e do ensino em sua escola, Isadora tentou conversar com a direção, que não deu muita atenção às suas queixas. Ela então teve a ideia de fotografar e postar nesse diário as maçanetas e ventiladores quebrados, bebedouros que não funcionavam, portas e vidraças destruídas, fios elétricos expostos, enfim, tudo que via que precisava de melhorias. Sua intenção era chamar a atenção para o estado das escolas públicas de uma forma geral e reivindicar que algo fosse feito. 

A princípio, as opiniões dos alunos e profissionais da escola ficaram divididas. Alguns apoiaram a garota, mas com a frequência das postagens e a seriedade das denúncias, a maioria começou a se posicionar contra e a pressioná-la para que não continuasse.

“Mostram o que é bom e bonito e fazem isso com extrema competência, muito bem mostrado, inclusive com lindas fotos. O que eu faço é mostrar o que a direção ou a Secretaria da Educação “esquecem” de mostrar, ou talvez não queiram. As salas informatizadas são lindas nas fotos, crianças sentadas na frente do PC sorrindo, muito bonito. O que a foto não mostra é que a internet é horrível há anos e às vezes ficamos a aula toda esperando carregar uma única página. No refeitório, a foto da merenda com alunos lanchando sai bonita, pena que a foto não transmite o gosto. Crianças fazendo ginástica felizes é bonito de ver na foto, o difícil é ficar sem aula quando chove ou ver colegas passando mal com o sol na cabeça no verão, pois muitas escolas não têm quadra coberta, inclusive a minha não tem também, poderia ter protetor solar para quem não quer torrar fazendo ginástica no sol forte. O que quero dizer é que lindas fotos mostram uma coisa para quem não vai à aula. Para quem frequenta diariamente, a realidade não é tão bonita assim.”
Com o apoio de sua família, a adolescente continuou com o projeto, que foi ficando cada vez mais sério. Ela começou a ser ameaçada por alunos e teve que ir à delegacia várias vezes, pois profissionais da escola registraram boletins de ocorrência a acusando de calúnia e difamação. Apesar disso, algumas melhorias começaram a ser feitas na escola, o que motivou Isadora a prosseguir com a ideia de reivindicar por tudo que achava que precisava ser feito. Ela pesquisou sobre as verbas que são liberadas para as escolas e sobre os tipos de comissões e associações que devem ser feitas entre pais de alunos e funcionários, coisas que não existiam onde ela estudava.

“Quando você vai a um restaurante e não gosta da comida, você não comenta? Quando vai ao cinema e não gosta do filme, pode falar sobre isso nas redes sociais? Se vai ao médico e ele erra, não é erro médico? Os políticos não são criticados diariamente? Por que não podemos criticar a escola? Por que não podemos comentar uma aula? A opinião do aluno não vale? Se um funcionário em uma empresa não está indo bem, a empresa pode demitir, mas, se um professor não vai bem em uma escola, ninguém pode fazer nada?”

Como o Diário de classe a cada dia conquistava mais seguidores e apoiadores, acabou chamando a atenção da mídia e diversos veículos de comunicação passaram a procurar Isadora para entrevistas e fizeram diversas matérias sobre a garota, o que fez com que muito mais gente conhecesse e apoiasse a causa (atualmente a página no Facebook conta com mais de 600 mil seguidores). Isso fez também que Isadora começasse a ser convidada para participar de eventos e a menina tímida passou a dar palestras e participar de programas, mostrando o quanto sempre esteve realmente empenhada em buscar melhorias para a educação no Brasil inteiro.

“Estamos no século XXI, na era da informática e da comunicação, essa é a realidade. Não adianta só ficar com lousa e giz, tem que incluir a internet, a tecnologia. A educação está no século passado ainda, ela tem que evoluir. E o que eu queria e quero é fazer a educação pública no Brasil virar referência e sinônimo de qualidade. Eu sei que é sonho, mas acredito que pode virar realidade.”
Isadora Farber é uma guerreira, enfrentou com muita coragem as críticas e represálias, que não a fizeram desanimar e sequer pensar em desistir, algo que muitas outras pessoas provavelmente fariam. Ela comemorava cada conquista obtida nas melhorias da escola, acreditando que tudo estava valendo a pena.

“(...) nada mais justo que brigarmos pelo que é certo e fazermos acontecer o que deve acontecer. Foi a pintura de quadra mais cara do mundo, eu acho. Pelo menos para mim, pois custou boletins de ocorrência, minha avó machucada, delegacia, ameaça de morte, processos, agressões, brigas, calúnias, críticas, represálias e tudo mais. Mas fiquei muito feliz de ver a quadra linda e nova, como eu queria e achava que devia ser sempre.”

Isadora continuou por mais um ano ali, lutando com todas as suas forças para ter a escola dos seus sonhos, mas quando chegou ao ensino médio teve que ir estudar em outro lugar, pois a instituição anterior só oferece o ensino fundamental. Apesar disso, ela não parou de batalhar, montou uma ONG junto com alguns familiares e pessoas que simpatizaram com a causa e continua acreditando que o país pode ter uma escola pública melhor.
O livro conta com várias imagens das postagens que Isadora fez no Facebook, inclusive com os erros de digitação e alguns deslizes gramaticais e ortográficos, condizentes com a idade da menina, pois ela e a editora optaram por mostrar exatamente como tudo aconteceu. Uma excelente leitura, que faz refletir sobre como nos posicionamos diante da situação da educação brasileira e faz admirar muito a cidadã incrível que a autora é.

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