Os Amantes Passageiros, último filme do cineasta Pedro Almodóvar, conta a história de um avião que está indo de Madrid para a cidade do México e em razão de um problema na área de pouso precisa ficar dando voltas no céu até encontrar um aeroporto disponível para a aterrizagem.
Diante disso, os passageiros da classe econômica são dopados para não ficarem ansiosos com a situação, enquanto os da classe executiva, na tentativa de solucionar a questão, começam a interagir entre si e também com os comissários de bordo, todos homossexuais, alcoólatras e sem pudores para falar de suas experiências sexuais e dos seus hábitos de vida.
Ao longo dos diálogos entre eles, conhecemos um pouco sobre cada passageiro e descobrimos uma celebridade, uma vidente virgem, um banqueiro desonesto, um matador de aluguel etc. Enquanto conversam, bebem, usam drogas e vivem experiências sexuais diferentes e pouco prováveis em um mundo real (o que é típico nos filmes de Almodóvar).
No seu retorno ao mundo da comédia, Almodóvar apresentou um filme com um humor escrachado, caricato, repletos de diálogos e de cenas relacionadas a sexo e homossexualidade. No entanto, com a sua capacidade ímpar de entreter e criar reviravoltas, ele conseguiu dar vários tons ao longa, que em certos momentos conseguiu ser dramático, romântico e até mesmo reflexivo.
As poucas cenas que ocorreram fora do avião estavam relacionadas ao conturbado relacionamento de um dos passageiros. No entanto, apesar do contexto criado ter sido interessante, os acontecimentos ficaram desconectados do restante da história, o que acabou por esvaziá-los.
Como é típico de Almodóvar, a trilha sonora é agitada e o roteiro é ousado e provocativo. As cores que ele tanta gosta foram usadas com menor intensidade, já que foi preciso adaptá-las ao espaço de um avião, mas mesmo assim, estavam presentes e o visual conseguiu ser marcante.
Por fim, convém mencionar que o longa, de certa forma, é uma metáfora à atual situação da economia espanhola: caos, desespero, reviravoltas, perigos e dificuldade em aterrizar.
Vale a pena conferir, afinal, Almodóvar sempre se destaca de alguma forma. Porém, acredito que as temáticas abordadas e o humor depravado e excessivamente caricato pode não agradar a todo tipo de público.
Trailer:
Dica:
Em entrevista concedida ao Bruno Meier e publicada na Revista Veja, Almodóvar falou sobre o filme, sobre a sua capacidade de criar histórias polêmicas e também sobre alguns aspectos de sua vida pessoal. Para uma das perguntas feitas ele respondeu o seguinte:
"(...) Um roteirista tem de ter claro o que quer contar e como. A pior censura é a autocensura. E uma coisa eu garanto: não vou fazer concessões para ser o mais correto, o mais comercial, o mais querido, o mais admirado ou o mais visto. Faço os meus filmes de acordo com minha vontade e com aquilo que mais me interessa em cada momento."
Quem tiver interesse, pode conferir a íntegra neste link aqui.
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