Niels Bentzon e Hannah Lund, personagens do primeiro livro
de A. J. Kazinski, O último homem bom (resenha aqui), também são os
protagonistas de O sono e a morte. Os dois livros possuem histórias com
temáticas bem diferentes e são totalmente independentes, mas eu gostei de ler
na sequência, pois já estava habituada com a personalidade de Niels, Hannah e
todos os outros que aparecem em ambos.
Em O sono e a morte, Niels é chamado para tentar impedir um suicídio, já que é
considerado o melhor negociador da polícia dinamarquesa. Uma mulher nua e provavelmente
drogada está ameaçando se jogar de uma ponte sobre uma estação de trem em
Copenhague. Ele tenta manter contato com a linda mulher, mas ela está
completamente perturbada, aparentemente lutando contra o sono e com medo de
alguém que parece estar entre os curiosos que se aglomeram logo abaixo para
assistirem a cena. O policial percebe que ela localizou a pessoa de quem estava
fugindo e nesse momento se joga, caindo já morta nos trilhos da estação. Pouco
depois a polícia identifica a mulher: Dicte van Hauen, a principal estrela do
Balé Real.
Para todos, o caso estava encerrado, pois foi um suicídio. Para
Niels Bentzon, o caso era criminal, era preciso descobrir de quem a bailarina
fugia, quem era o responsável por fazer com que ela preferisse a morte. A
partir daí, Niels começa a investigar por todos os lados atrás de pistas. Ele
toma a busca como algo pessoal, pois essa foi a primeira vez que perdeu alguém
nesse tipo de caso.
“- Estou me referindo
ao plano psíquico. Parecia que alguma coisa a atormentava.
- Ela era depressiva?
- Num certo sentido,
sim. E noutro não, porque quando dançava ela era fantástica. Não tenho medo de
dizer isso. Ela esquecia as preocupações. Sua capacidade de concentração era
fora do comum. Todos os bailarinos têm essa qualidade, claro, mas no caso dela
era verdadeiramente fenomenal. Às vezes ela parecia amortecida, dava para achar
que ela ia se suicidar, mas uma vez que entrava no palco se metamorfoseava.”
Paralelamente às investigações de Niels, Hannah vive um
drama pessoal que não consegue dividir com o marido. A astrofísica está cada
dia mais retraída, enquanto Niels fica cada vez mais envolvido nos problemas
que permearam a vida da bailarina Dicte.
Além disso, outra personagem é apresentada ao leitor: Silke,
uma garota que está em uma clínica psiquiátrica há muitos anos, depois de ter
presenciado o assassinato da mãe quando tinha apenas 5 anos de idade. O fato de
o caso nunca ter sido elucidado, já que o culpado nunca foi encontrado, fez com
que a menina se fechasse e nunca mais conversasse com ninguém.
Em apenas três dias de investigação, Niels descobre coisas
que jamais imaginou e vê sua vida ameaçada, pois esbarra em pessoas dispostas a
matá-lo para impedir que a verdade seja descoberta.
“Ele não tinha
nenhuma razão para se precipitar. Era correr risco sem nenhum motivo. Essa era
uma regra fundamental que ele tinha aprendido na escola de polícia. Uma atitude
arrojada assusta as pessoas, as pessoas assustadas reagem muitas vezes de modo
agressivo, as pessoas agressivas são imprevisíveis, e as pessoas imprevisíveis
são capazes de tudo: por exemplo, pegar uma faca ou apertar um gatilho.”
A narrativa possui um ritmo frenético e tenso, típico de uma
investigação policial. Possui mistério e suspense na medida certa, além de um
conteúdo rico sobre variados assuntos, como estudos sobre experiência de morte
iminente (termo utilizado para designar a experiência de pessoas que tiveram
parada cardíaca por alguns minutos e depois foram reanimadas). Apesar de o
livro possuir mais de quatrocentas páginas, minha leitura foi super rápida,
pois não conseguia parar de ler! (Sim, três dias de investigação renderam todas
essas páginas!!!). Mais um livro que recomendo!
“- (...) Nós não
hesitamos em favorecê-la. Mas a morte não precisa de nós. Ela sempre acaba
impondo-se por si mesma. Por mais penosa que seja a vida, não nos compete
infligir a morte. Ela chega no momento certo. Mas e quanto à vida? Por que
devemos considerá-la de outra forma? Não deveríamos deixar que ela siga o seu
curso?”
“- Nossa
representação da morte é errada. Tão errada quanto era errada a nossa visão do
cosmo na época em que achávamos que a Terra estava no centro do Universo.
Gostaria de poder afirmar que nós começamos a compreendê-la. Mas ainda estamos
longe disso. Tudo por causa do medo que ela nos inspira. Porque temos medo de
descobrir que depois da morte não há nada.”
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