Mickey Sienna tem 83 anos e está viúvo há quatro. Mesmo que os filhos Darlene, Matty, Denise e Jesse tenham insistido para ele se mudar, pois não era conveniente continuar morando sozinho e em uma casa tão grande, o idoso resiste bravamente. Porém, numa tentativa de fazer a própria comida, Mickey provoca um incêndio em casa e a família reúne-se para enfim decidir qual deve ser o paradeiro do homem que definitivamente não tem mais condições de cuidar de si.
Jesse é escritor e o filho caçula, com 32 anos. Quando nasceu, Darlene já tinha 20 anos e Denise, a mais nova, 12. A grande diferença de idade sempre o impediu de ter um relacionamento de igual para igual com os irmãos e fez com que ele assumisse uma postura de observador nas reuniões de família.
“A imagem que fazia daquele tempo era que cada membro da família estava no alto de uma montanha e eu, ainda no pé do vale. Eu admirava imensamente a habilidade deles de se expressar, de persuadir uns aos outros, de gerar tanta vitalidade. Invejava a atenção que meu pai dedicava a meus irmãos mais velhos e a patente alegria que tinha ao conversar com eles dessa maneira. Era fácil permanecer nos bastidores quando todo mundo aparecia na casa. Não tinha nada de tão importante a dizer e, mesmo se tivesse, não sabia como projetar minha voz para ser ouvida.”
Apesar disso, quando os irmãos decidem que a única opção disponível é colocar o pai em uma casa de repouso, Jesse decide intervir e diz que vai levá-lo para morar consigo. Os irmãos argumentam que não é uma boa ideia, mas ele insiste em sua decisão e consegue convencer Mickey.
A convivência entre pai e filho não é fácil. Eles nunca tiveram um relacionamento muito profundo e as diferenças de modo de pensar e estilo de vida entre ambos são gritantes. Apesar disso, Jesse esforça-se para superar os conflitos que surgem por causa de motivos banais, como a quantidade de pó a ser usada no café e o volume da televisão.
“Ele virou o regador e espalhou água em toda a área plantada, irrigando como o vendedor havia explicado. Fiquei observando, até que ele veio em minha direção e regou meus sapatos. Não estava prestando atenção e fui pego de surpresa, pensando se algo dera errado. Quando percebi que não era nada daquilo, dei dois passos largos para me livrar da água.
- Ei, isso é injusto! – exclamei. – Sabe que não vou me vingar de você porque está velhinho e com os joelhos rangendo.
Ele jogou água direto em minha cara.
- Isso é para não me chamar mais de “velhinho” – disse e largou o regador no chão.”
Paralelamente, Jesse tenta melhorar a vida profissional que não é muito empolgante e leva de maneira despretensiosa seu relacionamento com Marina, com quem está saindo há seis meses. Ele acredita que todo relacionamento está fadado ao fracasso e opta por não levar a sério um namoro que inevitavelmente vai acabar a qualquer momento.
“Uma das ideias principais de minha teoria sobre relacionamentos era que não apenas o amor morre, mas que nunca envelhece de modo são. Sempre cria rugas e no fim se deforma. Não há nunca um ponto em que, à semelhança de um superastro do esporte, depois do último ano de carreira, você possa reverenciá-lo antes de ele pendurar as chuteiras.”
Quando conhece Marina, o velho Mickey percebe que ela é uma mulher especial e que o filho está desperdiçando uma grande oportunidade de conhecer o verdadeiro amor e ser feliz. Jesse fica extremamente irritado com os conselhos e a interferência do pai, mas Mickey decide então contar ao filho um grande segredo que guarda por toda vida, uma história que vai mexer com as emoções de Jesse e de todos os leitores.
A narrativa de Ronald Anthony é feita ora em terceira pessoa ora contada por Jesse. Assuntos delicados como os conflitos familiares retratados geram identificação com o leitor e grande empatia pelos personagens. À medida que Jesse vai conhecendo o pai como um homem que ele jamais imaginara, tiramos grandes lições e aprendizados. Mickey ensina coisas lindas e profundas a Jesse e o leitor também é impactado por suas revelações sobre o que realmente merece importância na vida. Uma história bonita e emocionante, muito bem escrita!
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