Charles Bukowski
Especial Charles Bukowski
Especial Charles Bukowski: Um poeta
06:00Universo dos Leitores
Já contamos que além de escritor, Charles Bukowski também era poeta. Para mostrar um pouco sobre os trabalhos de poesia dele, selecionei três que me tocaram de forma especial. Confiram:
PÁSSARO AZUL:
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito duro com ele,
eu digo, fica aí dentro, não vou deixar
ninguém
te ver.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky nele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os garçons dos bares
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele está
ali.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito duro com ele,
eu digo,
fica quietinho, você quer
me confundir?
quer estragar o
meu trabalho?
quer arruinar as minhas vendas de livros
na Europa?
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito esperto, só o deixo sair
às vezes à noite
quando todos estão dormindo.
eu digo, eu sei que você está aí,
então não fique
triste.
Depois coloco-o de volta,
mas ele canta baixinho
aqui dentro, não o deixo morrer
completamente
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é agradável o suficiente
para fazer um homem
chorar, mas eu
não choro,
e você?
então queres ser um escritor?
se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.
Encurralado
bem, eles diziam que tudo terminaria
assim: velho. o talento perdido. tateando às cegas em busca
da palavra
ouvindo os passos
na escuridão, volto-me
para olhar atrás de mim…
ainda não, velho cão…
logo em breve.
agora
eles se sentam falando sobre
mim: “sim, acontece, ele já
era… é
triste…”
“ele nunca teve muito, não é
mesmo?”
“bem, não, mas agora…”
agora
eles celebram minha derrocada
em tavernas que há muito já não
frequento.
agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona
enquanto as sombras assumem
formas
combato retirando-me
lentamente
agora
minha antiga promessa
definha
definha
agora
acendendo novos cigarros
servido mais
bebidas
tem sido um belo
combate
ainda
é.
Uma curiosidade: quem gosta de poesia narrada pode ouvir várias poesias do Buk no You Tube, tem várias opções interessantes por lá! Aproveitem e conheçam mais sobre o estilo desse complexo escritor!
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