Pulp foi o último livro escrito
por Charles Bukowski e diferente dos anteriores não teve como personagem
central o seu alter-ego Heny Chinaski. Aqui o protagonista foi o detive Nick
Belane, um cinqüentão acima do peso, solitário, advogado sem sucesso e que
tinha como como maior companhia a bebida.
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Que tipo de detetive é você? – perguntou Celine.
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O melhor de L.A.
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É? E o que quer dizer L.A.?
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Los Asnos.
Com honorários definidos em seis
dólares por hora, seus clientes eram atípicos e muito curiosos: uma senhora em
busca de um homem supostamente morto, o proprietário de uma agência funerária
que pensava estar sendo seguido por um alienígena, um senhor com uma esposa
muito bela e “deliciosa” que aparentente estava lhe traindo, um homem que tinha
como maior objetivo encontrar um pardal vermelho.
Muito mais que personagens
diferentes dos comumente encontrados, as mortes e os acontecimentos também eram
peculiares. O detetive não usava de escutas, carros potentes, recursos
tecnológicos ou disfarces, ele simplesmente agia conforme os seus instintos e
afirmava a capacidade irônica e autodepreciativa dos seres humanos.
Eu
tinha talento. Tenho talento. Às vezes, olhava minhas mãos e compreendia que
podia ter sido um grande pianista. Mas o que tinham feito minhas mãos? Coçado o
saco, preenchido cheques, amarrado cadarços, puxado descargas de banheiro etc.
Desperdicei minhas mãos. E minha mente.
Nesta obra também foram feitas
várias menções à subliteratura, a quem o livro foi dedicado. Com isso, ele se
utilizou de piadas típicas do meio e de referências carregadas, mas mantendo
sempre o tom crítico e, por vezes, bem humorado.
Aí
voltei ao banheiro, peguei a escova de dentes, apertei a bisnaga. Saiu demais.
Oscilou sobre a escova e caiu na pia. Era verde. Parecia uma lombriga verde.
Meti o dedo nela, pus na escova e comecei a escovar. Dentes. Que coisa da
porra. Tínhamos de comer. E comer e comer de novo. Éramos todos repugnantes,
condenados aos nossos trabalhinhos sujos. Comer e peidar e se coçar e sorrir e
festejar nos feriados.
É
preciso salientar que o livro possui várias referências à morte e ao fim da
vida, se assemelhando a uma obra póstuma. Várias passagens demonstram a forma
como o escritor enxergava a vida e seu fim, reafirmando a sua percepção cruel e realista acerca dos homens e dos relacionamentos em geral.
Bukowski e o desenho que o representa, feito por ele mesmo. |
Sem dúvida uma obra inquietante, marcante, que marcou com louvor o fim da carreira do escritor. Vale conferir!
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