Editora Única Garota Interrompida

Garota, Interrompida, de Suzanna Kaysen

07:00Universo dos Leitores

“Garota, Interrompida” é um livro que retrata a vida e as suas nuances mais intensas e íntimas. Com uma narrativa direta e impactante, Suzanna, a narradora, relata os acontecimentos mais marcantes do período em que a sua juventude foi literalmente interrompida. Por dois anos, entre 1967 e 1969, ela ficou internada no Hospital Psiquiátrico McLean, no entanto, apesar da aparência de internação voluntária, o ato foi motivado pelas arbitrariedades do mundo e da sociedade.

“Na verdade eu só queria matar uma parte de mim: a parte que queria se matar, que me arrastava para o dilema do suicídio e transformava cada janela, cada utensílio de cozinha e cada estação de metrô no ensaio de uma tragédia.”
Diagnosticada com personalidade limítrofe, a garota tinha uma personalidade instável. Ao mesmo tempo em que está lúcida, vivia momentos de delírio e perdia a noção da realidade. No hospital a convivência com os demais moradores era complexa, já que alguns eram aparentemente normais, enquanto outros tinham crises agudas e apresentavam comportamentos incomuns e, por vezes, agressivos.

“Cynthia era depressiva; Polly e Georgiana eram esquizofrênicas; eu tinha um transtorno de personalidade. Quando recebi meu diagnóstico, ele não pareceu tão grave, mas, com o tempo, acabou soando mais agourento que o das outras.”

A partir do seu olhar sobre o mundo conhecemos um novo contexto – a arbitrariedade, a forma de atuação de algumas clínicas de internação, a crueldade dos tratamentos utilizados, a relação entre pacientes/enfermeiros, a condição sexual das internas e, inclusive, a readaptação à vida em sociedade.

“A questão é a seguinte: o que podíamos fazer? Podíamos pular da cama toda manhã, tomar uma chuveirada, vestir a roupa e ir trabalhar? Podíamos raciocinar direito? Podíamos deixar de dizer qualquer maluquice que nos desse na telha?
Algumas podiam; outras, não. Aos olhos do mundo, porém, todas estávamos estigmatizadas”.
Apesar de ser um livro fino e com capítulos curtos, a história é completamente envolvente e prende a atenção do leitor logo nas primeiras páginas. A personagem-narradora, mesmo retratando a sua vida e a sua intimidade, se apresenta com certo distanciamento e não se sente vítima de uma situação, o que é um ponto extremamente favorável.

Um destaque da obra é que alguns capítulos relatam momentos anteriores à internação e outros momentos posteriores. Não há uma ordem cronológica exata, o que de certa forma comprova a característica dispersa da mente da personagem.

Trata-se de um livro simples, mas impactante, realista e cruel. É preciso destacar a edição da Editora Gente, pelo Selo Única, que está extremamente cuidadosa. A capa rosa tem letras em alto relevo, as páginas tem uma textura gostosa e o livro é leve e flexível, o que torna a leitura ainda mais agradável e rápida. Vale conferir!

“Se eu, que antes era repulsiva, agora estou assim tão longe da minha
loucura, quão longe não estarão vocês, que nunca foram repulsivos,
e que profundezas não terá alcançado a sua repulsa?”





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