Charles Bukowski Crítica

Especial Charles Bukoeski: Mulheres

13:00Angélica Pina

                                                       
“Se eu tivesse nascido mulher seria com certeza uma prostituta. Mas, como nasci homem, batalhava as mulheres, sem trégua; quanto mais fuleiras melhor. E, no entanto, as mulheres, as boas, me enchiam de medo, talvez por quererem a minha alma; e o que sobrara da minha eu queria manter guardado. Em princípio, eu batalhava mulheres fuleiras e prostitutas, porque eram mais intensas e mais barras-pesadas, e elas não faziam exigências pessoais. Nada se perdia quando elas partiam. Porém, ao mesmo tempo, eu tinha uma inclinação por mulheres decentes, as boas mulheres, a despeito do preço elevado que se tinha de pagar. De um jeito ou de outro, eu estava perdido. Um cara forte desistiria de ambas. Eu não era um cara forte. Então, continuava o combate com as mulheres, com a ideia de mulher.”


Henry Chinaski, o “alter ego” de Bukowski, é o protagonista dessa história. Os dias do escritor de 50 anos narrados nesse livro podem ser resumidos basicamente em duas palavras: bebidas e mulheres. Geralmente ele acorda passando mal porque bebeu até tarde da noite anterior, daí vomita e volta a beber. Ao fim do dia, senta-se em sua máquina de escrever para criar seus poemas e bebe mais um pouco. Essa rotina só é alterada quando uma de suas mulheres surge em sua casa, o que acontece com uma frequência surpreendente.

Tornando-se conhecido por causa de seus poemas, Chinaski, ou Hank, como também é conhecido, costuma receber cartas de mulheres que leram e gostaram de seu trabalho. Não é difícil para ele um encontro com cada uma delas. Loiras, morenas, ruivas, de 18 ou 40 anos, tímidas e recatadas ou extremamente loucas e problemáticas, mulheres de todos os tipos surgem na vida de Hank, todas inexplicavelmente interessadas em se relacionar com o velho feio, barrigudo e beberrão, como ele mesmo se descreve. Algumas delas tem breve passagem em sua vida, outras estão constantemente indo embora e voltando.

“Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, ideias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante; dava muito trabalho. Eu queria mesmo era um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava.”

Talvez o fato de Chinaski ser extremamente sincero sobre si mesmo e sobre as mulheres de sua vida era o que atraía cada vez mais personagens do sexo feminino à sua história.

No livro não há pudor quanto à linguagem. O autor utiliza palavras chulas e obscenas com naturalidade. Quem não conhece seu estilo, pode estranhar um pouco. Mas em várias passagens é possível ver que ele não se orgulha de sua condição, faz algumas reflexões a respeito, porém acaba sempre voltando a levar a vida da forma medíocre que está acostumado.

“Não tem nada pior que ficar duro e perder sua mulher. Nada pra beber, nenhum trampo, só as paredes, e você sentado ali, olhando pras paredes e pensando. Eu ficava desse jeito quando as mulheres me deixavam, mas elas também saíam feridas e debilitadas. Pelo menos é o que eu gostava de pensar.”

A ideia do narrador é marginalizar as relações e mostrar o lado cruel e frio dos seres humanos, principalmente no que tange à mistura entre sexo e bebida. O livro é cruel, seco, possui um humor ácido e diferente do que costumamos encontrar, mostra um ponto de vista claro, direto e sem pormenores ou palavras bem escolhidas para não ofender ou não impactar. 

“Eu era um bicho do mato nato, e me bastava viver com uma só mulher, comer com ela, dormir com ela, andar pelas ruas com ela. Não queria saber de muito papo, nem de ficar indo a lugares – fora as corridas de cavalo e as lutas de boxe. Não entendia tevê. Me sentia idiota pagando pra entrar num cinema e ficar lá sentado com outras pessoas, partilhando suas emoções. Festas me davam ânsia de vômito. Me irritavam as boas maneiras, o jogo social, o flerte, os bêbados amadores, os pentelhos.”






You Might Also Like

0 comentários

Obrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...

Acompanhe nosso Twitter

Formulário de contato