Livros Voando pela noite (até de manhã)

VOANDO PELA NOITE, DE ANDRÉ GIUSTI

20:17Isabela Lapa

Voando pela noite é um livro de contos. Os contos, apesar de independentes e diferentes, apresentam pontos em comum: abordam a juventude das décadas de 80 e 90, falam da descoberta da liberdade, da independência, da sexualidade e dos prazeres da vida. O interessante é que as diversas situações colocadas pelo escritor acontecem em um período em que a internet e as facilidades de comunicação não existiam. Nos contos, as pessoas se comunicavam por telefones fixos, por encontros aleatórios nas ruas e, algumas vezes, por coincidência do destino. 

Com situações inusitadas e diálogos bem construídos as histórias criadas por André Giusti nos conduzem a uma realidade diferente da que vivemos hoje, mas ao mesmo tempo comprovam que os jovens serão sempre iguais: repletos de sonhos, de expectativas e de desejos. Independente do tempo, a intenção é vencer barreiras, conhecer o desconhecido e se relacionar.

Um ponto central abordado nos contos é a questão da sexualidade. O escritor narra muito bem a descoberta do prazer e a visão dos homens sobre o sexo e sobre as mulheres. Algumas cenas possuem descrições bem intensas e diretas, no entanto ele consegue manter a medida e em nenhum momento a narrativa se torna vulgar ou cansativa.

Entre os diversos contos do livro, "Fonedrama" aborda questões peculiares e merece destaque.  Nele, o personagem principal recebe uma ligação por engano e esta ligação lhe coloca em uma situação inimaginável. Ele se envolve com a mulher, Vanessa, que era casada. O texto aborda a questão do desejo, da traição, da honra, do psíquico e da moral. 
DESTAQUES:

- A narrativa é em terceira pessoa e o narrador nunca apresenta o personagem principal. Todas as referências são por meio do termo "ele". No entanto, os demais personagens são apresentados e individualizados. 

- Ao longo de cada conto o escritor faz inúmeras referências a livros e cantores. Posso destacar a menção ao livro A Insustentável Leveza do Ser e ao grande poeta Paulo Leminsky. Também existem referências a Raul Seixas, Roberto Carlos, Erasmo Carlos etc. 

PASSAGENS:

"Agora cada coisa ficaria definitivamente em seu lugar, como Alice sempre gostou, como ele sempre gostou também. Cada coisa para sempre no lugar, como os dois sempre gostaram, em 60 anos de casamento. O pó dos anos se encarregaria de remover cada objeto, cada estante e cada poltrona. Mas isso seria daqui a muito tempo, tanto tempo, que o próprio relógio da sala já estaria parado, como nunca esteve em seis décadas".

"Ele pensava que o pior de reviver o passado era encontrar a mesma antiga pessoa num presente tão diferente, tão distante dele. Era a sensação de pular 100 páginas num livro bastante volumoso, 100 páginas onde a história se transformou, mudou de lugar e o papel principal já não cabe mais a esse ou àquele personagem".

"Aproximei meu rosto do seu. Antes de beijá-la, porém, achei mais gostoso sentir sua respiração fervendo nos meus lábios".

"Devolvi o poema a ela com um riso amarelo. Perguntei se já poderíamos ir. Adiantei o vídeo até o presente. Eu queria apertar play-rec e começar a gravar dali". 

"Eu sentia uma raiva estúpida de ser drogado, de ser alcoólatra. Senti raiva de não ter conseguido a ereção e odiava Ângela Sauer. E quanto mais raiva, mais velocidade." 


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*Conheça o livro "Histórias de Pai, Memórias de Filho", 
do mesmo autor.




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