Flávia Ribeiro de Castro
Flores do Cárcere
Flores do Cárcere, de Flávia Ribeiro de Castro
01:22Universo dos Leitores
"A prisão não são as grades e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência."
(M. Gandhi)
Quando terminei de ler este livro não sabia como começar a resenha, uma vez que os fatos narrados por Flávia são tão reais e tão intensos que podem ser considerados irresumíveis, indescritíveis. Enquanto pensava encontrei essa frase de Ganhi que refletiu bem a minha impressão sobre Flores do Cárcere.
A escritora Flávia Ribeiro participou de um trabalho voluntário na Penitenciária Pública Feminina no ano de 2005, cuja ideia inicial do projeto era ensinar informática às detentas - entre elas, as condenadas e as suspeitas que ainda aguardavam julgamento. Acontece que o projeto tomou proporções tão grandes que por meio dele ela montou um jornal das detentas, ensinou bons modos e bons comportamentos e o principal: aprendeu a ver a vida com outros olhos, com outra perspectiva.
"Voltei para casa carregando comigo mais um tanto de segredos do universo carcerário. Segredos que dissolviam, pouco a pouco, meus preconceitos, ao mesmo tempo que construíam outras atitudes dentro de mim. Percebi que já admirava alguma delas. Presas e carcereiras."
O livro apresenta uma realidade cruel e triste. Mulheres presas por diversas razões, com diferentes histórias e maneiras de ver a vida. Umas se conformavam, outras jamais. Umas eram culpadas, outra inocentes. Algumas tiveram boas razões para os crimes praticados, outras nem tanto.
Em meio à realidade das personagens, Flávia narrou o dia-a-dia da vida em uma penitenciária: as burocracias e as falhas do sistema, a falta de recursos, as estatísticas dos presídios etc. Ela também mostrou a importância de se respeitar os presos, que assim como nós, são seres humanos.
"Nessa época, quinze detentas compartilhavam o cubículo sem janelas, a menor de todas as celas, com apenas seis metros quadrados de chão".
Apesar da tristeza dos fatos relatados a escritora conseguiu construir um texto leve, emocionante e que flui com naturalidade. Ela conseguiu mostrar que apesar de tudo que vivem e que sofrem as mulheres atrás das grades mantém a esperança e o amor. Algumas sonham com a liberdade, outras desejam apenas uma nova oportunidade de estar com os filhos e com a família.
É impossível ler este livro e permanecer alheio a este mundo que está tão perto de nós, mas que insistimos em manter-nos distantes, como se fôssemos superiores ou diferentes daqueles que estão por lá. Um outro fator interessante é que pela leitura conseguimos perceber a importância da educação - não só para a melhoria da sociedade como também para o íntimo do indivíduo, que se sente melhor e mais digno por meio do conhecimento.
"No cárcere, tive a oportunidade de sentir, na própria pele, a amargura do exilado,
a saudade do imigrante e a solidão em companhia dos outros".
Um destaque:
Como forma de garantir a privacidade das detentas todos os nomes foram substituídos por nomes de flores, por isso o título do livro. A ideia, além de comprovar a sensibilidade de Flávia, também conferiu um pouco de dignidade a cada uma das detentas, que foram homenageadas por meio de lindas flores. Então ao longo da obra conhecemos Hortênsia, Violeta, Íris, Girassol etc.
Sobre a escritora:
Flavia Ribeiro de Castro nasceu em São Paulo, em 1962. Formada em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo, aplica os conhecimentos nos campos educacional e social. Trabalhou com crianças carentes, jovens com direitos violados e adultos analfabetos. Atuou em abrigos, favelas e pequenas comunidades rurais. Foi diretora de escola formal e coordenadora de Educação de Jovens e Adultos, no município de São Sebastião.
Em São Paulo foi diretora do Abrigo Butantã e membro do conselho da Cruzada Pró-Infância. Em 2006 fundou a ONG Educaalma que desenvolve projetos de Educação para a Convivência. No trabalho voluntário dedicado às causas sociais, Flavia encontrou uma maneira de entender melhor o mundo e sua história pessoal.
Uma entrevista:
Em entrevista concedida a Jovem Pan a escritora contou um pouco sobre a sua trajetória e o que fez com que ela resolvesse trabalhar no projeto da Penitenciária. Ela também explicou como foi o primeiro contato e como foi o decorrer do projeto. O interessante da entrevista é que ela contém pontos de vista das pessoas da sociedade.
Alguns aspectos abordados estão no livro, mas vale a pena conferir:
"As diferenças, que antes as separavam em celas isoladas e grupos rivais, começavam a ser apreciadas em sua força. Não assustavam mais."
"Com suas imensas olheiras, a chefe das carcereiras veio ao meu encontro. "Não aguento mais conviver com esse gosto amargo do absurdo", ela desabafou. Estava muito nervosa e não conseguia entender direito o que ela tentava me contar."
"Com suas imensas olheiras, a chefe das carcereiras veio ao meu encontro. "Não aguento mais conviver com esse gosto amargo do absurdo", ela desabafou. Estava muito nervosa e não conseguia entender direito o que ela tentava me contar."
0 comentários