Editora Galera Record Especial Fernando Sabino

ESPECIAL FERNANDO SABINO: O Grande Mentecapto

05:30Isabela Lapa

"Fernando Sabino, na posse madura da arte de escrever, mostra-se sempre à vontade neste livro ágil, matreiro e comovente, em que loucura e razão se entrelaçam e não se sabe ao certo onde está o absurdo. (...) A gente sai do livro amando o mentecapto como o irmão que não tivemos".
(Carlos Drummond de Andrade)

Neste livro, Fernando Sabino, renomado romancista mineiro e um dos maiores cronistas do Brasil, nos apresenta Geraldo Boaventura, mais conhecido por Geraldo Viramundo, um andarilho inocente e com bom coração. 

Viramundo nasceu em Rio Acima, Minas Gerais e por lá passou toda a infância. Arteiro e inteligente, ele cometia inúmeras façanhas e se tornou um "herói" entre as crianças quando conseguiu fazer com que o trem que não parava em sua cidade, parasse.

Quando cresceu, manifestou a vontade de se tornar padre e foi para um seminário na cidade de Mariana. No entanto, em razão de um acontecimento inesperado e super divertido, ele foi expulso do local. 

Com isso, começou a sua vida de andanças, aventuras e descobertas. Viramundo passou por várias cidades e, em cada uma delas, deixou uma marca. Ouro Preto, São João Del Rey, Barbacena, Tiradentes e Belo Horizonte são alguns dos cenários nos quais a história se passa. 

Além de ter feito muitos amigos e também inimigos, recebeu inúmero apelidos, entre eles Vira Lata, Pé na Cova, Sacristia, Boi, Sem Eira Nem Beira etc. 

Ao longo da história ele se apaixona, se candidata a prefeito, vai preso, fica internado em um hospício, se torna membro do Esquadrão da Cavalaria, enfrenta um touro, conhece uma assombração, é espancado e, por fim, comanda uma revolução de mendigos, loucos, e mulheres da vida. Esta revolução, inclusive, é comparada com a Revolta dos Canudos. 

Com um tom permeado de humor e de crítica, o escritor narra de forma brilhante e única cada uma dessas aventuras. Tem o cuidado de mencionar que nem todas estão em uma ordem cronológica e que, infelizmente, muitos fatos sobre a vida do personagem ficaram perdidos pelo caminho. 

O final surpreende pela dureza, pela crueldade e até mesmo pela ironia, mas abrilhanta o livro ao demonstrar tudo que foi vivenciado ao longo da história: a disparidade entre a ingenuidade e a crueldade, a honestidade e a desonestidade, a pureza e a hipocrisia. 

A narrativa é permeada de diálogos do escritor para com o leitor, o que acaba causando uma sensação de proximidade com a história. A linguagem é rica, diversificada e repleta de trocadilhos. 

O carinho do escritor com a obra é perceptível em pequenos detalhes, como por exemplo, na escolha dos nomes dos personagens e na descrição de cada um deles, com seus costumes e características. 

Uma obra espetacular, daquelas que levamos por toda a vida! 
 
(Fernando Sabino)


*Para quem não sabe, que mentecapto significa, segundo 
o dicionário Priberam: "que ou o que não faz uso da razão 
que tem; insensato; néscio". 



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