Vinicius de Moraes foi um homem que viveu para se ultrapassar e para se desmentir, para se entregar totalmente e fugir, para jogar com as ilusões e com a credulidade, por saber que a vida nada mais é que uma forma encarnada de ficção. Ele foi, antes de tudo, um apaixonado.
Entre as diversas homenagens já feitas ao escritor, Carlos Drummond de Andrade mencionou algo diferente, interessante e que merece destaque:
"Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural". "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes".
Otto Lara Resende assim o definiu:
"Manuel Bandeira viveu e morreu com as raÃzes enterradas no Recife. João Cabral continua ligado à cana-de-açúcar. Drummond nunca deixou de ser mineiro. Vinicius é um poeta em paz com a sua cidade, o Rio. É o único poeta carioca". Mas ele dizia nada mais ser que "um labirinto em busca de uma saÃda".
Filho da exÃmia pianista Lydia Cruz de Moraes e do poeta bissexto Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, o poeta Marcos VinÃcius da Cruz e Mello Moraes nasceu no dia 19/10/1913. Quando completou 9 anos de idade compareceu ao cartório onde foi registrado e alterou o seu nome para VinÃcius de Moraes.
Com apenas 16 anos entrou para a Faculdade de Direito do Catete, onde se formou em 1933, ano no qual teve seu primeiro livro publicado “O caminho para a distância”. Durante o perÃodo de formação acadêmica firmou amizades com vÃnculos boêmios e desde então, viveu uma vida ligada à boemia.
Após alguns anos foi estudar Literatura Inglesa na Universidade de Oxford, no entanto, não chegou a se formar em razão do inÃcio da Segunda Guerra Mundial. Ao retornar ao Brasil, morou em São Paulo, onde fez amizade com Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
Logo após algumas atuações como jornalista, cronista e crÃtico de cinema, ingressou na diplomacia em 1943. Por causa da carreira diplomática, Vinicius de Morais viajou para Espanha, Uruguai, França e Estados Unidos, contudo sem perder contato com o que acontecia na cultura do Brasil.
Foi um dos fundadores do movimento revolucionário na música brasileira, chamado de “Bossa Nova”, juntamente com Tom Jobim e João Gilberto. Com essa nova empreitada no mundo da música, Vinicius de Moraes abandonou a diplomacia e se tornou músico, compôs diversas letras e viajou através das excursões musicais. Durante esse perÃodo viveu intensamente os altos e baixos da vida boêmia, além de vários casamentos.
O inÃcio da obra de Vinicius de Moraes seguiu uma aliança com o Neo-Simbolismo, o que trouxe uma renovação católica da década de 30, além de uma reformulação do lado espiritual humano. Vários poemas do autor enquadram-se nesta fase de temática bÃblica. Porém, com o passar dos anos, as poesias foram focando um erotismo que passava a entrar em contradição com a sua formação religiosa.
Após essa fase de dicotomia entre prazer da carne e princÃpios cristãos, infelicidade e felicidade, Vinicius de Moraes partiu para uma segunda fase poética: a temática social e a visão de amor do poeta. Há diferenças na estrutura da primeira fase poética do escritor em relação à segunda: a mudança dos versos longos e melancólicos para uma linguagem mais objetiva e coloquial.
Inconstante no amor (seus biógrafos dizem que teve, oficialmente, 09 mulheres), um dia foi questionado pelo parceiro Tom Jobim: "Afinal, poetinha, quantas vezes você vai se casar?". Num improviso de sabedoria, Vinicius respondeu: "Quantas forem necessárias.”
Na madrugada de 9 de julho de 1980 Vinicius de Moraes começou a se sentir mal na banheira da casa onde morava, na Gávea, vindo a falecer pouco depois. O poeta passou o dia anterior com o parceiro e amigo Toquinho, com quem planejouos últimos detalhes do volume 2 do álbum "Arca de Noé". Em 1981, este LP foi lançado.
Mesmo após a morte, a obra musical de Vinicius manteve-se prestigiada na música brasileira. No dia 08/09/2006, foi homenageado pelo governo brasileiro com sua reintegração post mortem aos quadros do Ministério das Relações Exteriores, ocasião em que foi inaugurado o "Espaço Vinicius de Moraes" no Palácio do Itamaraty - Rio de Janeiro (RJ).
OBRAS:
O que tornou Vinicius um grande poeta foi a percepção do lado obscuro do homem e a coragem de enfrentá-lo. Parte, desde o princÃpio, dos temas fundamentais: o mistério, a paixão e a morte. Quando deixou a poesia em segundo plano para se tornar show-man da MPB, para viver nove casamentos, para atravessar a vida viajando, Vinicius estava exercendo, mais que nunca, o poder que Drummond descreveu, sem conseguir dissimular sua imensa inveja: "Foi o único de nós que teve a vida de poeta".
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o Poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Crlos Lyra.
No fim da década de 1920 Vinicius de Moraes produziu letras para dez canções gravadas, nove delas em parceria com os irmãos Tapajós. Seu primeiro registro como letrista veio em 1928 quando compôs com Haroldo “Loura ou Morena”.
Loura ou Morena
Se por acaso o amor me agarrar
Quero uma loira pra namorar
Corpo bem feito, magro e perfeito
E o azul do céu no olhar
Quero também que saiba dançar
Que seja clara como o luar
Se isso se der
Posso dizer que amo uma mulher
Mas se uma loura eu não encontrar
Uma morena é o tom
Uma pequena, linda morena
Meu Deus, que bom
Uma morena era o ideal
Mas a loirinha não era mau
Cabelo louro vale um tesouro
É um tipo fenomenal
Cabelos negros têm seu lugar
Pele morena convida a amar
Que vou fazer?
Ah, eu não sei como é que vai ser...
Olho as mulheres, que desespero
Que desespero de amor
É a loirinha, é a moreninha
Meu Deus, que horror!
Se da morena vou me lembrar
Logo na loura fico a pensar
Louras, morenas
Eu quero apenas a todas glorificar
Sou bem constante no amor leal
Louras, morenas, sois o ideal
Haja o que houver
Eu amo em todas somente a mulher.
BIBLIOGRAFIA:
Do Autor:
Poesia/Prosa:
- O Caminho para a Distância, 1933 - Schmidt Ed, Rio (recolhida pelo autor)
- Ariana, a Mulher, 1936 - Pongetti - Rio
- Forma e Exegese, 1935 - Pongetti - Rio (Prêmio Felippe d'Oliveira)
- Novos Poemas, 1938 - José Olympio - Rio
- Cinco Elegias, 1943 - Pongetti - Rio (ed.feita a pedido de Manuel Bandeira, AnÃbal Machado e Octávio de Farias)
- 10 poemas em manuscrito - 1945, Condé (edição ilustrada de 150 exemplares)
- Poemas, Sonetos e Baladas, 1946 - Ed. Gávea - São Paulo (ilustrações de Carlos Leão)
- Pátria Minha, 1949 - O Livro Inconsútil - Barcelona (ed.feita por João Cabral de Melo Neto em sua prensa manual)
- Orfeu da Conceição, 1956 - Editora do Autor - Rio (ilustrações de Carlos Scliar)
- Livro de Sonetos, 1957 - Livros de Portugal - Rio
- Novos Poemas (II), 1959 - Livraria São José - Rio.
- Orfeu da Conceição, 1960 - Livraria São José - Rio (edição popular)
- Para Viver um Grande Amor, 1962 - Ed. do Autor - Rio
- Cordélia e o Peregrino, 1965 - Ed.do Serviço de Documentação do M. da Educação e Cultura - BrasÃlia
- Para uma Menina com uma Flor, 1966 - Ed. do Autor - Rio
- Orfeu da Conceição, 1967 - Editora Dois Amigos - Rio (com ilustrações de Carlos Scliar)
- O Mergulhador, 1968 - Atelier de Arte - Rio (fotos de Pedro de Moraes, filho do autor. Tiragem limitada a 2.000 exemplares, sendo 50 numerados em algarismos romanos de I a L e assinados pelos autores, comportando um manuscrito original e inédito de VinÃcius de Moraes;450 exemplares numerados em algarismos arábicos e 51 a 500 e assinados pelos autores; e,finalmente, 1.500 exemplares numerados de 501 a 2.000)
- História natural de Pablo Neruda, 1974 - Ed.MacunaÃma - Salvador.
- O falso mendigo, poemas de Vinicius de Moraes - 1978, Ed. Fontana - Rio
- Vinicius de Moraes - Poemas de muito amor, 1982 - José Olympio, Rio (ilustrações de Carlos Leão)
- A arca de Noé - 1991, Cia. das Letras - São Paulo
- Livro de Letras, 1991, Cia. das Letras - São Paulo
- Roteiro lÃrico e sentimental da Cidade do Rio de Janeiro e outros lugares por onde passou e se encantou o poeta, 1992 - Cia. das Letras - São Paulo
- As Coisas do Alto - Poemas de Formação, 1993 - Cia. das Letras - São Paulo
- Jardim Noturno - Poemas Inéditos, 1993 - Cia. das Letras - São Paulo
- Soneto de Fidelidade e outros Poemas, 1996 - Ediouro - Rio (ed. bolso)
- Procura-se uma Rosa, Massao Ohno Ed. - São Paulo (peça de teatro em colaboração com Pedro Bloch e Gláucio Gil)
- A Arca de Noé, Cia. das Letras - São Paulo
- O Cinema de Meus Olhos, Cia. das Letras - São Paulo
- Nossa Senhora de Paris, Ediouro - Rio
- Teatro em Versos - 1995, Cia. das Letras - São Paulo
- Rio de Janeiro (com Ferreira Gullar), Ed. Record - Rio (edições em alemão, francês, inglês, italiano e português).
- Querido Poeta - Correspondências de Vinicius de Moraes (organização de Ruy Castro), Cia. das Letras, São Paulo, 2003.
- Samba falado, Azougue Editorial, 2008.
Francês:
- Cinc Elégies, 1953 - Ed. Seghers - Paris (trad. de Jean-Georges Rueff)
- Recette de Femme et autres poèmes, 1960 - Ed. Seghers - Paris (escolha e tradução de Jean-Georges Rueff)
Italiano:
- Orfeo Negro, 1961 - Nuova Academia Editrice - Milão (tradução de P. A. Jannini)
Antologias:
- Antologia Poética, 1954 - Editora A Noite - Rio de Janeiro
- Obra poética - Poesia Completa e Prosa, Editora Nova Aguillar, 1968
Teatro:
- Procura-se uma rosa, 1962 (com Pedro Bloch e Gláucio Gil.)
Sobre o Autor:
- O Poeta da Paixão, José Castello, 1994 - Cia. das Letras - São Paulo
- VinÃcius de Moraes - Uma Geografia Poética, José Castello, 1996 - Ed. Relume Dumará
- Vinicius de Moraes - O múltiplo das paixões (biografia), coleção "Gente do Século", Editora Três, 1999.
- Rio (coleção Perfis do Rio), Ed. Relume Duimará.
- VinÃcius de Moraes, Pedro Lyra, Editora Agir
- Cancioneiro Vinicius de Moraes: Biografia e Obras escolhidas, Sergio Augusto, Jobim Music. (edição bilÃngüe), 2007.
Discos de poesias:
- Vinicius em Portugal, 1969, Fiesta, IG 79.034 - Rio
- Antologia Poética, 1977, Philips, 6641 708, Série de Luxo - 2 Long-Plays (com participação de Tom Jobim, Edu Lobo, Toquinho, Luis Roberto, Jorginho, Roberto Menescal e Francis Hime)
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