Texto da semana

Carta a um futuro namorado, de Paula Pimenta

10:53Isabela Lapa

Meu querido amigo,


Sei que nossa amizade é recente, apesar dos muitos anos de conhecimento superficial que já temos. Mas, somente agora, nos sentimos à vontade para dividirmos nossas esperanças e anseios. E é exatamente este o motivo desta carta.

Em nosso último encontro, você me solicitou uma namorada. Explicou a sua vontade de passar horas na companhia de alguém, simplesmente pelo prazer de estar; e também contou da saudade de se ter intimidade com alguém a ponto de poder se mostrar tal e qual é, sem máscaras ou pudores.

Meu amigo, sei que tentei te ajudar naquele momento, catalogando mentalmente as minhas amigas solteiras que poderiam vir a lhe fazer feliz, e te perguntando sobre o seu tipo ideal, para cruzar as informações e tentar atender à sua solicitação. Mas, depois de nos despedirmos, me pus a pensar sobre essa sua vontade e resolvi te falar mais sobre o “produto namorada”, antes de te entregar uma de bandeja, para que – quando ela chegar - você possa apreciar devidamente, antes de reclamar com o garçom, caso o “prato” não esteja do seu contento. Porque o difícil não é conseguir a namorada. É saber mantê-la.

Vinícius de Morais, em sua música “Minha Namorada”, cantou bem detalhadamente o que ele esperava de uma namorada. Não sei se você concorda com os versos dele, se também acha que ela deve ser só sua, que deve falar devagarinho, que deve segui-lo em seu caminho... Mas o que eu vou escrever aqui não é o que você espera de uma namorada, isso você já sabe e até me contou. O que vou explicar agora é o que uma namorada espera de você.

Em primeiro lugar, namorado é uma palavra bem antiga, quase em desuso. Hoje em dia as pessoas têm “ficantes”, “peguetes”, mas se é mesmo um namorado que você quer ser, você terá que ser também (assim como o termo) antiquado, pelo menos no que diz respeito ao “cortejo”. As feministas podem me crucificar, mas 10 entre 10 mulheres que eu conheço gostam de ser paparicadas. Então, abuse. Abra a porta do carro. Pague a conta (não sempre, que ninguém está brincando com dinheiro nos dias atuais, mas pelo menos ofereça). Elogie-a em público. Mande e-mails durante o dia só pra mandar um beijo. Ponha o status “namorando” no Orkut. Ligue quando disser que vai ligar. Ligue quando disser que não vai ligar. Ligue várias vezes ao dia, para que ela se sinta segura, porque como sabiamente já disse Martha Medeiros: “Nenhuma mulher se sente amada o suficiente”. Então, não tenha medo de demonstrar. Demonstre, demonstre, demonstre. Se gostar, diga que gosta. Se adorar, diga que adora. Se amar, diga que ama. Mil vezes. Se ela se transformar numa pessoa convencida e passar a te esnobar, então ela é que não é a namorada certa pra você. A namorada certa nunca vai se encher dos seus carinhos, quanto mais você fizer, mais ela vai gostar e querer retribuir.

A sua namorada tem que fazer parte da sua vida. Da vida inteira, não apenas da sua vida sentimental. Então, tente incluí-la. Peça a ajuda dela. Peça conselhos. Namoradas gostam de saber que podem ser úteis para você, que podem, de alguma forma, fazer a sua vida mais fácil. Se você descartá-la o tempo todo, por mais que ela se ofereça para ajudar, ela vai acabar achando que você não quer envolvê-la por não confiar na sua capacidade ou então por não querer que ela participe das outras áreas da sua vida, e isso gera insegurança. A namorada passa a pensar que você não pensa nela como alguém para dividir as responsabilidades. E aí o “medo do depois” – doença que ataca as namoradas inseguras – aparece.

Daí vem o próximo tópico: Transmita segurança. Claro que não quero que você minta, mas se você inclui a menina nos seus planos pro futuro, diga a ela que você a inclui nos seus planos pro futuro. Simples assim. Namoradas não são adivinhas. E quando eu digo “planos pro futuro”, não quero dizer uma aliança, filhos, cachorros... o futuro pode estar mais próximo, em um planejamento para uma viagem no Reveillón, ou em explicitar a vontade de passar junto com ela o Carnaval do próximo ano, ou no convite para que ela te acompanhe naquele casamento em outra cidade. Namoradas, e mulheres em geral, gostam de planejar. Então, dê a ela tempo para que planeje o biquíni, o vestido, a viagem, o sonho.

Uma coisa muito importante: sua namorada pode não ser (embora devesse ser, na minha opinião, mas eu sou uma romântica incurável) a parte mais importante da sua vida. Mas ela não precisa saber disso. Não deixe que ela se sinta a última da sua fila de prioridades. Não precisa falar pra ela que seus pais, seus irmãos, seus amigos e seu trabalho têm preferência, pode saber que ela sente isso sem que você precise falar (já contei que namoradas têm sexto sentido?) e se entristece por isso. Cabe a você minimizar essa sensação de “último plano”, fazendo com que ela se sinta a mais importante pelo menos quando vocês estão juntos. Cuidado com isso... tem muito homem querendo suprir as necessidades de muita namorada carente por aí. O mercado feminino anda farto, mas as que realmente constituem um bom "material de namorada" (aquela que atende às exigências todas que você e Vinícius fizeram), são raras, e você não vai querer perdê-la para um qualquer, só porque ele enxergou a carência que você não viu na menina.

Quando for fazer algum programa que não necessariamente a inclua, pergunte se ela gostaria de ir também. Pode saber que se você for sair com os amigos pra jogar sinuca e tomar cerveja, ou se vai encontrar com seu primo que mora em outra cidade pra discutir o mercado financeiro, ela mesma não vai querer participar, mas vai adorar saber que você a convidou, que a incluiu, e não vai ficar com minhoca na cabeça, imaginando por qual motivo você não a chamou, e perdendo tempo pensando na desforra (sim, namoradas são vingativas).

Presentes. Namoradas gostam de presentes. Não precisa ser nada caro, mas qualquer coisa que faça com que ela sinta que você se lembrou dela já rende um sorriso. Aquele chocolate que você viu na hora em que foi comprar cigarro. Um CD gravado com a música que você sabe que ela gosta. Uma flor que você roubou na frente do seu prédio. Coisinhas que façam com que ela perceba que você se importou, prestou atenção, que escutou o que ela disse. Isso faz uma diferença que você nem imagina.

Por último, é importante lembrar que tudo isso é o que funciona para mim e que cada pessoa é de um jeito, mas uma regra é universal: geralmente, gostamos (nós todos, homens e mulheres) que nos tratem como tratamos os outros. Observe como sua namorada te trata. Ela decora as datas, faz surpresas, te mima, age como se você fosse a pessoa mais importante do mundo? Pois saiba que é exatamente assim que ela gostaria de ser tratada por você. Então, o segredo é só observar como ela faz e tentar imitar, claro, sem forçar o seu jeito de ser.

Meu amigo, acho que agora já podemos agendar o encontro em que te apresentarei todas as minhas amigas solteiras para que você escolha a dona do sapatinho de cristal. Mas acho que nem vou precisar fazer isso. Se você seguir minhas “instruções”, vai ter uma fila de possíveis namoradas batendo à sua porta. Eu só não bato porque já tenho um namorado que me faz muito feliz, mas vou inclusive fazer com que ele leia essa crônica, para que ele também possa se especializar na arte de ser namorado e fazer com que eu o ame cada dia mais. Sim, meu amigo, essas dicas não vão te dar apenas uma namorada, mas uma namorada que te ame. Até Vinícius de Moraes teria inveja de você...

(Paula Pimenta)




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