Enderson Rafael nasceu em Florianópolis, SC, em 1980, e desde muito cedo teve duas paixões: primeiro foram os aviões, depois veio a escrita. Aos treze anos, mudou-se com a família para Teresópolis, Região Serrana Fluminense, onde anos depois viria a escrever seu primeiro livro.
Atualmente, tem 3 livros publicados: "Todas as Estrelas do Céu", “Propaganda e Marketing para vestibulandos, calouros, curiosos e simpatizantes” e "Três Céus". Além disso, já publicou alguns ensaios para roteiros de cinema: "Geribá", "Mil Mares" e "O Bom Ateu".
1) Enderson, como foi o processo de descoberta do prazer de escrever?
Olha, quando eu era bem novo, sempre desenhava. Com o tempo, esses desenhos ganharam textos, e lá pelos 12 anos comecei a só escrever e fui parando de desenhar. Acho que no fundo, sempre gostei de contar histórias, e a literatura foi uma consequência disso.
2) Algum livro específico contribuiu para essa vontade?
Difícil colocar a culpa em um só, mas “As coisas que a gente fala”, de Ruth Rocha, foi o primeiro livro que me marcou. Depois, vieram muitos, cada vez mais complexos e interessantes, mas não consigo colocar a culpa apenas em Machado de Assis ou Carl Sagan.
3) E como você administra a escrita e o seu outro prazer, que é pilotar aviões?
O ano passado foi complicado porque eu estava no auge da minha formação como piloto nos Estados Unidos, e isso exige muito tempo e estudo. Praticamente parei de ler, de escrever, e apenas em agosto e setembro estive no Brasil, divulgando “Três Céus” após seu lançamento na Bienal de SP. Hoje já é mais tranquilo, pois embora eu ainda voe quase todo dia como comissário de voo, carreira na qual trabalho há quase 8 anos, consigo pedir algumas folgas por mês, e no tempo livre entre os voos consigo trabalhar na literatura. Tanto que, apesar da minha dedicação enorme à aviação, recentemente terminei meu novo livro, “Alba”, ainda sendo analisado pelas beta readers.
4) No seu livro, “Todas as Estrelas do Céu”, que foi escrito quando você tinha apenas 19 anos, o que te motivou a tratar de um assunto tão polêmico como o relacionamento entre irmãos?
Eu tinha muita vontade de escrever uma história de amor épica, e como eu mesmo sou adotado, a hipótese me passou pela cabeça: se eu tivesse uma irmã que reunisse tudo que eu buscava numa garota, o que me impediria de me apaixonar? Foi assim que nasceu o romance de Carol e Leandro.
5) Se estivesse escrevendo o livro hoje, acha que faria alguma alteração em algum ponto específico da história?
Conforme vamos ficando experientes como autores, vamos nos permitindo mais, vamos mais longe no enredo e na forma, provocamos as reações dos leitores de forma mais proposital. Então, hoje acho que eu iria mais longe nos diálogos, nas situações, nas emoções de “Todas as estrelas do céu”. Mas embora de vez em quando escute críticas quanto a isso, não me arrependo de ter deixado a história como havia sido escrita em 1999: a decisão tomada em conjunto com meu editor garantiu que o livro tivesse a autenticidade ímpar que escrever tão cedo permitiu, e que com certeza pesou na boa recepção do público.
6) “Geribá” e “Mil Mares” foram roteiros para longas metragens. Qual a principal diferença entre a construção de um livro e de um roteiro?
São dois formatos muito interessantes: o roteiro é muito mais prático de escrever, o romance dá muito mais trabalho. No entanto, o roteiro é uma obra incompleta, depende de ser produzido e virar filme. Já o romance basta ser editado e publicado – não que seja fácil, mas é bem mais barato e rápido que no caso do roteiro. Quanto à forma, o romance permite que o autor direcione a imaginação do leitor, e dê todo o tom da história. Já o roteiro, é escrito de forma mais comedida e sucinta, dando liberdade para o diretor e principalmente para os atores, que enriquecem a história com sua interpretação e construção física dos personagens.
7) Tem preferência por algum deles?
Os dois são ótimos, mas o roteiro é bem mais prático. Pena que seja tão difícil de produzir um. Por isso faz tempo que não escrevo um roteiro, pois meus livros têm mais chance de serem publicados.
8) Em “Três Céus” você uniu suas duas paixões: a escrita e a história de um piloto. O romance foi baseado na sua experiência em relacionamentos amorosos?
“Três Céus” conta a história de pilotos e comissários, e o grande trunfo do livro é a proximidade com a realidade da aviação no Brasil, pois muita gente de fora do meio gostaria de saber como é e raramente tem a oportunidade de ver alguma referência tão fidedigna. Quanto aos amores do livro, vai muito do que vi e vivi nesse tempo todo. Em alguns pontos, confesso que é difícil separar realidade e ficção.
9) No processo de elaboração dos seus livros você se utiliza de alguma estratégia específica para concentração e/ou inspiração?
Gosto de escrever em silêncio. Sem música, de preferência em um ambiente tranquilo. Quando estou viajando de avião como passageiro, pra mim é um dos melhores momentos. Tenho capítulos inteiros escritos a 10km de altura. Mas no geral, acabo escrevendo à tarde e à noite em algum quarto de hotel mundo afora. Em casa, acabo não escrevendo muito, pois vou tão pouco em casa que quando vou, prefiro curtir. No fundo, literatura é quase completamente disciplina.
10) Se for escolher um cantor para ouvir enquanto escreve, qual escolheria?
Embora não goste de escrever ouvindo música, todos os meus livros tem músicas inseridas na história para ajudar o leitor a entrar no clima que imaginei, e nos meus roteiros, eles ajudam ainda a calcular o tempo das cenas. Então depende muito. “No pressure over cappuccino”, da Alanis, é tema do “Todas as estrelas do céu”. “Fix You”, do Coldplay, é tema de “Três Céus”; e meu próximo livro terá Sade e Snow Patrol.
11) Podemos esperar novos livros? Quando?
Recentemente terminei de escrever meu próximo romance, “Alba”, que conta a história de Fred, um rapaz paulistano que sofre uma grande perda e decide ir para a Escócia se suicidar, mas chegando lá, se apaixonar não estava nos seus planos. O livro ainda está sendo aprimorado com a ajuda valiosa das minhas beta readers e da minha agente.
12)Vamos falar um pouco dos seus gostos literários. Tem algum escritor preferido?
De ficção, John Green. Só agora ele está sendo reconhecido no Brasil, mas o leio há alguns anos, e seu estilo e precisão me encantam. E claro, sempre há os excelentes escritores clássicos.
13) Qual livro considera “leitura obrigatória”?
“Bilhões e Bilhões”, último livro de Carl Sagan. Toda a genialidade de um dos astrônomos mais incríveis do nosso tempo reunida num de seus mais acessíveis livros, que fala de muitos assuntos, de aborto à existência de Deus, de uma forma equilibradíssima como poucos ousariam fazer.
14) Qual seu gênero literário preferido? E qual você simplesmente detesta?
Gosto de livros sobre ciência, geografia, algo assim. Carl Sagan e Amyr Klink são ótimos exemplos disso. Gosto de História, Leandro Narloch e Daniel Lieb Sasaki se incluem nisso, e claro, aviação, onde recomendo Gianfranco Betting e mesmo Ivan Sant’anna, de quem discordo em muita coisa, mas tem um valor inegável. Gosto muito de romances também, do genial Chico Buarque ao já citado John Green, da irresistível Paula Pimenta ao mestre José Saramago. E detestar, não detesto nada. No máximo não me interesso. Geralmente ficção científica ou fantasia não me atraem, ainda que eu reconheça seu valor editorial.
15) Atualmente nossos escritores tem conquistado mais espaço na imprensa. A que atribuiu essa melhora?
Assim como a aviação, a literatura também é bastante ligada à economia em geral. Entretenimento é um segmento da economia muito sensível, pois depende de que o básico da população seja dado: educação e uma vida digna. Com a estabilização da economia após o Plano Real, houve uma melhora significativa na qualidade de vida do brasileiro, e com a abertura do mercado brasileiro e com novas tecnologias, que aumentaram nossa troca de cultura com o resto do mundo, fizeram com que fenômenos como Harry Potter e Crepúsculo encontrassem terreno fértil por aqui. E esse leitores cresceram e se espalharam por outros segmentos da literatura, além de darem o exemplo pra gerações mais jovens. Ainda estamos muito longe do ideal, mas já estamos melhor do que estávamos há 20 anos. E isso interessa à mídia. Ver minha amiga e colega de editora Paula Pimenta vendendo centenas de milhares de livros é um sinal claro de que nossa indústria do livro está amadurecendo.
16) Qual escritor atual que você tem como referência?
Em termos de escrita, John Green, que aborda um tipo de público e enredo semelhante ao meu.
17)Sempre gostamos de ouvir os conselhos dos escritores para os que sentem vontade de ingressar na carreira e ainda não começaram. O que gostaria de dizer para eles?
É muito comum escutarmos que não é fácil, que escritor no Brasil não é valorizado e coisas desta natureza. E é verdade. Mas escrevo mais ou menos pelo mesmo motivo que voo: pois amo fazer e isso dá muito do sentido que minha vida tem. Então, o sucesso posterior, se vier, é consequência. No mais, dou sempre o mesmo conselho sempre: seja o mais profissional possível com os agentes literários, com os editores, com os livreiros e sim, com os leitores também. Isso serve pra qualquer profissão, inclusive a de escritor. De resto, se você tem uma ideia boa, sente e escreva. Disciplina pra escrever é algo fundamental, e quando seus livros começarem a se destacar, vai sobrar cada vez menos tempo para escrever, então aproveite.
E então leitores, gostaram da entrevista? Acessem o site do escritor e conheçam mais sobre o trabalho dele!
8 comentários
Oie!
ResponderExcluirAdorei a entrevista!
Ele começou cedo a carreira, né?
Gostei dos títulos dos livros, fiquei interessada.
Beijos*
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/
Oi Nessa, que bom que gostou! Ele começou cedo mesmo e os livros são ótimos. Leia quando tiver oportunidade!
ExcluirAbraços e obrigada por participar, Isabela.
Nossa gostei bastante de saber como foi o processo dele de criação das história, a entrevista é excelente! Fiquei com bastante vontade de ler Todas as Estrelas do Céu, parece uma história muito interessante!
ResponderExcluirBeijos!
Oi Vanessa, que ótimo que gostou! Leia o livro sim, é realmente interessante!
ExcluirAbraços e obrigada por participar, Isabela.
Nossa não conhecia esse autor, ele parece ser fabuloso e os livro dele também! Doida para ler Todas as estelas do céu! :D
ResponderExcluirbeijos.
http://tamigarotaindecisa.blogspot.com.br/
Oi Ariádne, que ótimo que gostou! Os livros são muito bons.
ExcluirAbraços e obrigada por participar, Isabela.
Eu li Todas as estrelas do céu e não gostei muito, mas foi bom ler a entrevista do autor. Parabéns!
ResponderExcluirBjs, @dnisin
www.seja-cult.com
Oi Denise, que bom que gostou da entrevista. Realmente gosto é muito pessoal, eu achei o livro muito interessante!
ExcluirAbraços e obrigada por participar, Isabela.
Obrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...